Para os iniciantes e para quem quer maratonar!

Todo mundo que ama animações japonesas está vibrando muito com a notícia da Netflix adquirindo 21 filmes do Studio Ghibli, o mais renomado estúdio de animação do Japão. O Studio Ghibli foi fundado há 34 anos por Hayao Miyazaki, Toshio Suzuki e o falecido Isao Takahata. O nome do estúdio foi baseado em um avião italiano, o Caproni Ca.309 Ghibli, uma das maiores paixões de Miyazaki – que é o principal produtor das animações.

Aliás, esse evento está trazendo tanta alegria assim porque, para muitos amantes dessa arte, o Studio Ghibli foi a porta que abriu esse mundo (vão me desculpar o momento piegas) mágico! E isso, claro, com o serviço completo: arte excelente, design sempre fantástico, trilhas sonoras maravilhosas, enredos impecáveis, tudo perfeito. O estúdio se baseia em mitologias e histórias do mundo todo para fazer seus filmes e demonstra uma preocupação genuína com a proteção da natureza.

Eu sempre tive uma admiração muito grande por animações japonesas exatamente por causa das obras do Studio Ghibli, não só porque são animações com histórias emocionantes e inspiradoras, mas porque muitas dessas histórias vão na direção contrária da indústria de anime em geral, com filmes que representam personagens femininas de uma forma justa, sem sexualização, com humanidades profundamente identificáveis. Personagens que motivaram a mim e a muitas outras garotas amantes de anime. E não é pra menos: a maioria dos protagonistas nos filmes do estúdio são mulheres!

Imagem: Garotas Geeks © Studio Ghibli

E é realmente uma felicidade enorme ter o melhor exemplo possível de qualidade de conteúdo em anime vindo para um canal de streaming no Brasil, visto que os filmes animados do estúdio têm pontuação média de 89% no site de crítica cinematográfica Rotten Tomatoes. Mesmo os filmes com público-alvo infantil são absolutamente adoráveis e com uma legião de fãs devotos das mais variáveis idades.

Mas, se você é novo no assunto, não precisa se preocupar! Essa matéria vai servir pra te dar uma ideia de por onde começar a assistir essas obras-primas.

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O FILME GANHADOR DO OSCAR

A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001)

Chihiro é o espelho do Studio Ghibli e o trabalho mais conhecido do Miyazaki – e esse reconhecimento veio principalmente a partir da vitória do título de Melhor Animação no Oscar de 2003 e pelos constantes elogios do ex-diretor da Pixar e da Disney, John Lasseter.

A história segue a protagonista, Chihiro, uma menina de 10 anos que resiste à ideia de mudar de casa do jeito típico de crianças: com birra e mal humor. Ainda assim, ela é uma garotinha super inteligente e empática que é colocada em uma situação perturbadora durante a mudança: na viagem para a nova casa, seus pais fazem uma parada em um lugar peculiar – onde são transformados em porcos, e onde Chihiro começa a ver espíritos! Ela tem então de se esforçar para salvar sua família com a ajuda de Haku, o misterioso aprendiz da bruxa Yubaba.

O filme é uma forma que o Miyazaki encontrou de mandar um recado para os pais: coisas amedrontadoras existem no mundo real e esconder o assunto das crianças não vai ajudar em nada. Elas precisam saber que essas coisas existem para poderem aprender a lidar, pois é exatamente assim que elas crescem e se tornam adultos confiantes e corajosos (falamos mais sobre isso aqui).

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PARA ASSISTIR EM FAMÍLIA

Essa lista é de filmes com classificação indicativa livre, então mesmo as crianças mais novinhas vão poder acompanhar e se divertir tanto quanto você. E o bacana das histórias do Studio Ghibli é que mesmo as animações mais voltadas pra esse público infantil nunca subestimam crianças! Os protagonistas de todas as histórias descritas abaixo se aventuram corajosamente em perigos pra salvar suas famílias ou pessoas queridas, aprendem a enfrentar seus medos e passam por mudanças internas que são bem dramáticas.

Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro, 1988)

Totoro é o mascote do Studio Ghibli e não é à toa! Introduzido como uma espécie de espírito da natureza, Totoro foi o meio de Miyazaki apresentar uma animação que motivasse crianças a brincar mais ao ar livre, além de, claro, demonstrar a beleza da flora e fauna japonesa.

A história segue duas irmãs, Satsuki e Mei, que precisaram se mudar com o pai para o interior, enquanto esperam a recuperação da mãe num hospital. As duas descobrem pequenos espíritos amigáveis morando na casa e aos arredores, onde eventualmente esbarram no grande guardião da floresta, com quem passam boa parte do tempo brincando, fazendo plantas crescerem e se descontraindo das tristezas da vida real (falamos sobre isso aqui). É um filme especialmente bonitinho, com um final emocionante.

Ponyo – Uma Amizade Que Veio do Mar (Gake no Ue no Ponyo, 2008)

Ponyo é uma espécie de peixe-dourado que se rebela contra o pai, Fujimoto, um cientista e cauteloso mago que vive num submarino no meio do mar. Ela se transforma em uma menina após absorver uma poção mágica, para então se aventurar em terra firme. Nessa jornada, ela simpatiza com um garotinho chamado Sousuke, e a gentil e inocente amizade entre os dois vai crescendo e se desenvolvendo de maneira extremamente fofa. Uma grande tempestade surge (em grande parte por culpa de Fujimoto, que está à procura da filha) e separa Sousuke da corajosa Lisa, sua mãe. Com a ajuda de Ponyo, Sousuke parte numa pequena aventura, cheia de poderes mágicos e criaturas marinhas, para conseguir se reencontrar com Lisa.

Dá pra reassistir essa mega fofurice inúmeras vezes e é garantia certa de prender a atenção da criançada. Com certeza é o filme que melhor retrata a ideia do infantil e a determinação das crianças.

O Castelo Animado (Howl no Ugoku Shiro, 2004)

Todo estúdio de animação tem seu galã e o galã do Studio Ghibli com certeza é o Howl, um mago com sérios problemas de narcisismo. O filme é sobre as aventuras que se passam no castelo mágico que ele construiu (o nome original pode ser traduzido para algo como “o castelo ambulante de Howl”).

Um dos poucos trabalhos do estúdio que Miyazaki adaptou de literatura estrangeira (baseado no romance da escritora britânica Diana Wynne Jones, de 1986), o filme conta sobre a jovem Sophie, que é amaldiçoada por uma bruxa e transformada numa senhorinha de idade. Embora tenha encontrado certas liberdades em sua nova forma que sua juventude não permitia, Sophie procura Howl para desfazer o feitiço. Ela passa a morar no castelo de Howl enquanto não se livra do feitiço, faz novas amizades, aprende a gostar mais de si mesma e acaba por transformar o caráter do mago.

O Serviço de Entregas da Kiki (Majo no Takkyūbin, 1989)

Kiki também veio de um livro, da japonesa Eiko Kadono. A adaptação cinematográfica trabalhou um conceito comum nas histórias do estúdio, que é a autodescoberta. O enredo conta sobre uma desajeitada aprendiz de bruxa que, ao completar 13 anos, tem de viajar para uma cidade estrangeira e começar a trabalhar suas habilidades para ser considerada uma bruxa de verdade. Com seu gatinho, Jiji, ela começa a trabalhar com entregas em sua vassoura mágica enquanto descobre o que quer da vida e em quê ela é realmente boa. Nesse processo, Kiki perde seus poderes mágicos e tem de aprender a controlá-los novamente.

É definitivamente uma forma super bonitinha de ensinar crianças sobre motivação, persistência e heroísmo.

O Castelo no Céu (Tenkû no Shiro Rapyuta, 1986)

O filme começa com a jovem Sheeta caindo do céu, salva por seu colar mágico que a mantém flutuando no ar. Ela é resgatada por Pazu, um garoto cujo falecido pai uma vez vislumbrou um aparentemente impossível evento: um castelo flutuando no meio das nuvens. Sheeta e Pazu desenvolvem uma conexão profunda e partem numa jornada para descobrir a existência desse castelo, conhecido por Laputa (ou Rapyuta, no original). Nisso, os dois têm de enfrentar exércitos tecnológicos que também procuram Laputa para explorar seus recursos mágicos.

O filme tem um quê de steampunk, com um dos maiores temas que Miyazaki sempre batalhou para demonstrar: o atrito entre a tecnologia e a natureza.

O Mundo dos Pequeninos (Kari-gurashi no Arietti, 2010)

Se você já viu a história de Polegarzinha, vai adorar a Arietti (ou Arrietty, no original) e todos os minuciosos detalhes dessa animação maravilhosa.

Arrietty é uma garota literalmente pequena, de 14 anos de idade, que mora com os pais, igualmente pequenos, num canto escondido debaixo de uma casa no interior. Obviamente, por serem assim tão pequenininhos, eles vivem escondidos para sobreviver, sem causar pânico em humanos comuns, de alturas normais. Mas Arrietty é uma aventureira, e ela corajosamente se esgueira pela casa para “pegar emprestado” coisas pequenas, como cubos de açúcar, dos donos da casa. Quando Sho, um frágil menino humano de 12 anos, é hospedado na casa, Arrietty acaba sendo descoberta. Porém, uma amizade secreta floresce entre eles.

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FILMES DE AVENTURA

Desde príncipes amaldiçoados até construtores de aviões, essa seção mostra o outro lado do Studio Ghibli, com animações de cunho mais adulto e enredos mais sombrios que exigem um pouco mais em termos de compreensão.

Nausicaä do Vale do Vento (Kaze no Tani no Nausicaä, 1984)

Antes da fundação do Studio Ghibli, Miyazaki passou anos desenvolvendo um filme baseado no mangá de Nausicaä. Lançado em 1984, antes da fundação oficial do estúdio, ele ainda é considerado uma obra Ghibli. Essa, aliás, com certeza é a obra que mais deixa clara as determinações e sentimentos do Miyazaki  à respeito de ecologia e proteção da natureza. Além de estar chateado com os problemas ambientais no mundo (principalmente com o estado do Japão), ele também estava preocupado com o rumo da humanidade.

A história se passa mil anos após os “7 Dias de Fogo”, um evento que destruiu a civilização humana e a maior parte do ecossistema da Terra. A humanidade se esforça para sobreviver neste mundo em ruínas, divididos em pequenas populações e impérios. O enredo é protagonizado pela princesa Nausicaä, que batalha para proteger criaturas selvagens e mutantes dos humanos e, ao mesmo tempo, proteger os humanos das toxinas que a natureza criou. Nausicaä mora no pequeno reino do Vale do Vento e usa a ciência para tentar compreender os mistérios da natureza e defender seu reinado de inimigos.

Princesa Mononoke (Mononoke-Hime, 1997)

Mononoke é provavelmente um dos filmes mais sombrios do estúdio e, novamente, outra forma de Miyazaki exercer sua militância em prol do debate ecológico.

A história começa com um vilarejo sendo atacado por um demônio furioso procurando vingança contra humanos. Quem defende o vilarejo é o corajoso Príncipe Ashitaka, revelando que o demônio era na verdade um espírito corrompido de um javali que havia sido envenenado pelos metais produzidos em indústrias humanas. Amaldiçoado pelo javali moribundo, Ashitaka é obrigado a sair de sua vila e procurar o Espírito da Floresta para que a maldição pare de corromper seu corpo. Nessa jornada, Ashitaka conhece San, a Princesa Mononoke. Criada por lobos, com um ódio crescente por humanos, ela defende sua floresta da fábrica de uma cidade vizinha. Mas esse conflito revela um fenômeno muito maior: uma gigantesca guerra entre animais, criaturas sobrenaturais e humanos se aproxima, e San terá de aprender a lidar com seus sentimentos para conseguir triunfar. Enquanto isso, Ashitaka é obrigado a ajudar San e os deuses-animais contra as intenções destrutivas do homem na natureza para descobrir o verdadeiro motivo de ter sido amaldiçoado e sua missão naquela guerra.

Vidas ao Vento (Kaze Tachinu, 2013)

O que o jovem Jiro mais quer para o futuro é ser piloto de avião, mas sua miopia o impede. Em um sonho, ele encontra Giovanni Caproni, um engenheiro aeronáutico italiano (em referência direta para a criação do estúdio). Resoluto, Jiro decide que projetar um avião e vê-lo voar é a sua nova meta de vida. Muitos anos mais tarde, ele viaja para Tóquio para estudar engenharia. No trem, ele conhece a jovem Naoko – mas neste exato momento, ocorre um terremoto. Jiro ajuda Naoko a ir pra casa, mas se separa dela sem poder se apresentar apropriadamente. Alguns anos depois, eles se reencontram e se apaixonam. O romance que se segue, recheado pelo tom melancólico de tragédias que permeiam todo o filme, mostra os triunfos e fracassos de Jiro.

A história é assim, cheia de tristezas, pois se baseia em muitos eventos reais do Japão e do mundo. A obra é uma prova do amor de Miyazaki por aviação.

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FILMES SOBRE ANIMAIS (FALANTES!)

Porco Rosso – O Último Herói Romântico (Porco Rosso, 1992)

A história de Porco Rosso se passa na Itália, entre Guerras Mundiais e a ascensão do fascismo, um background comum em boa parte dos filmes Ghibli. Seu protagonista é Marco Pagot, um ex-piloto das Forças Aéreas italianas e atual caçador de piratas. Como em todos os filmes do estúdio, sempre existe um fator mágico: em Porco Rosso, Marco foi enfeitiçado e transformado numa espécie de porco antropomórfico. Mas o filme em si é sobre as aventuras de Marco como o “barão vermelho”, caçando ladrões, resgatando reféns, vencendo duelos aéreos, competindo em “corridas” de hidroavião, e também sobre suas amizades e romances.

Porco Rosso é uma acusação contra a guerra e seus absurdos, abordando temas interessantes como o mito do herói. O filme tem, inclusive, uma das melhores frases que o cinema já recebeu:

Prefiro ser um porco do que um fascista.

O Reino dos Gatos (Neko no Ongaeshi, 2002)

Já falamos sobre Neko no Ongaeshi aqui no site quando indicamos animes para amantes de gatinhos. O filme pode ser considerado um spin-off de Sussurros do Coração (que consta no post logo abaixo). Reencontramos aqui os personagens Muta e o Barão – mas você não necessariamente precisa ver um filme pra entender o outro.

A protagonista da história, Haru, é uma menina pra lá de normal, com seus 17 anos de idade. Ela não tem habilidades especiais e nem uma beleza extraordinária. Quando confrontada com a realidade, ela é incapaz de tomar decisões por si mesma e, assim, muitas vezes ela acaba cedendo às opiniões dos outros para evitar desafios. Um dia, porém, Haru salva a vida de um gato sem considerar sua própria segurança. O gato, por um estranho desejo do destino, acaba por ser o príncipe do Reino dos Gatos e, como resultado, Haru é raptada e levada para lá. Aí é que entram o Barão e o Muta na história, para resgatá-la.

O Reino dos Gatos é uma das minhas animações preferidas do Studio Ghibli  (talvez por esse quê de Alice no País das Maravilhas versão gatinhos) e, como tantos outros do estúdio, passa mensagens muito importantes para os telespectadores, como a importância da autodescoberta e de sempre acreditar em si mesmo. No geral, é uma fantasia bem cômica e doce.

PomPoko: A Grande Batalha dos Guaxinins (Heisei Tanuki Gassen Ponpoko, 1994)

Definitivamente a criação mais bizarramente engraçada – e sinistra – do estúdio. É uma obra baseada especificamente na mitologia japonesa, onde cães-guaxinins (ou tanuki) são criaturas sobrenaturais capazes de alterar suas formas originais e se transformarem temporariamente em humanos ou objetos. Mas o foco do filme, diferente de outras animações que trabalham essa parte das lendas japonesas, é sobre como os tanukis batalham entre si por território. Muitas vezes usando seus… escrotos. É isso mesmo: eles usam a pele de seus escrotos para lutar.

Nunca vou superar isso de forma adulta.

Enfim, a ideia do filme é demonstrar, novamente, como humanos afetam a natureza e a vida animal. As indústrias crescem e os animais vão, cada vez mais, perdendo espaço. Isso faz com que bandos diferentes de tanuki entrem em conflito. Com espaço limitado e comida diminuindo a cada ano, os tanuki começam a lutar entre si pelos recursos cada vez menores. Porém, a pedido da matriarca do bando, eles decidem se unir para interromper o desenvolvimento industrial. Usando suas habilidades de ilusão, eles realizam uma série de malcriações e sabotagens divertidas para afugentar os humanos de seu território.

Em um ponto do filme, a coisa fica bem realista (e um pouco triste) porque começa a abordar o que acontece quando os humanos e a urbanização vencem essa disputa. De qualquer forma, é uma maneira super criativa de conscientizar sobre o assunto.

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PARA ALÉM DE MIYAZAKI

As obras do Studio Ghibli vão além das criações do Miyazaki, mesmo que ele seja o maior contador de histórias que definiu o legado do estúdio. Mas isso não quer dizer que outros diretores não tenham deixado suas marcas. Aqui, selecionamos os melhores filmes Ghibli dos demais cineastas do estúdio.

Sussurros do Coração (Mimi wo sumaseba, 1995)

Como já falei num post indicando especificamente melhores animes do gênero musical, Sussurros do Coração se conecta intrinsecamente com a música e a literatura. O filme trabalha de uma forma definitivamente adorável a inspiração para que as pessoas sigam seus sonhos.

A história é sobre Tsukishima Shizuku, uma garota de 14 anos de idade que está recém descobrindo suas vontades na vida. O enredo começa durante as férias escolares de verão e mostra a maior paixão de Shizuku: ir em bibliotecas, ler livros e descobrir histórias fantásticas – que era uma forma de escapar da mesmice de seu próprio cotidiano e o desânimo de não ter ambição ou saber o que fazer da vida. Numa dessas idas à biblioteca, ela acaba encontrando uma loja cheia de artefatos incríveis. Lá morava um artesão musical (ou luthier) e um colega de sua escola: o menino Seiji. O enredo passa a demonstrar como a vida dos dois se entrelaça e sobre ambos se esforçando para alcançar o que sonham em fazer da vida.

Memórias de Ontem (Omohide Poro Poro, 1991)

Esse filme conta a linda história de Taeko Okajima, uma mulher de 27 anos relembrando o passado.

Taeko é uma solteirona que se dedica inteiramente ao trabalho. Um dia, ela resolve deixar Tóquio e viajar para o interior, em Yamagata, a fim de visitar a família do irmão durante a época de colheita. Ao longo da viagem, ela começa a questionar se sua vida estressante em Tóquio é o que ela realmente sonhou quando era mais jovem. E então ela começa a se lembrar de sua vida como uma colegial e seu intenso desejo de sair de férias com seus colegas de classe. Durante sua estadia em Yamagata, Taeko se vê cada vez mais nostálgica e melancólica por sua infância, e passa a lidar com questões adultas sobre carreira e relacionamentos amorosos.

É um dos filmes mais icônicos do estúdio, com pontuação de 100% no Rotten Tomatoes.

O Conto da Princesa Kaguya (Kaguya-Hime no Monogatari, 2013)

Outra produção com pontuação perfeita no Rotten Tomatoes, nomeada ao Oscar, O Conto da Princesa Kaguya é uma adaptação do folclore mais famoso e mais antigo existente na narrativa japonesa: o Conto do Cortador de Bambu. Esse conto fala, basicamente, sobre uma pequena garotinha em miniatura que nasceu de um bambu, encontrada por um velho camponês.

No filme, esse camponês é Sanuki no Miyatsuko. Ele leva a pequena menina pra casa e, junto com sua velha esposa, a cria como se fosse sua filha. Depois de encontrar o bebê, que é nomeada Kaguya, Sanuki passa a achar pepitas de ouro e tecidos finos nos bambus que cortava – e ele tomou isso como prova da realeza divina de Kaguya. Então ele começa a planejar fazer dela uma princesa adequada e a família se muda para a capital. Na nova vida, Kaguya é enchida de mimos, pretendentes e servos, tem de aprender a se comportar como uma princesa, mas essas coisas restringem sua vida e a deixam infeliz. Ela luta contra as restrições da nobreza e engana os pretendentes, dizendo que só se casaria com quem trouxesse presentes míticos que eram impossíveis de serem encontrados ou outras missões igualmente impossíveis de serem realizadas. Até que um dia, o Imperador em pessoa apareceu para propor casamento.

O que acontece a seguir é a resposta para as perguntas: “de onde veio a garota bambu” e “qual o destino da princesa”. É um conto belíssimo – e como a grande parte dos contos japoneses, cheio de simbolismos e tragédias. É também um dos filmes mais longos do estúdio.

Contos de Terramar (Gedo Senki, 2006)

Algo estranho e assustador paira sobre o Reino de Terramar. Com o aparecimento de dragões de terras distantes, o mundo humano fica em risco. Quando isso ocorre, Ged, um dos arquimagos mais poderosos do mundo, decide investigar. Em sua jornada ele conhece Arren, um jovem príncipe, vítima de fantasmas do passado que o atormentam e um lado obscuro que o assombra, e que em momentos críticos concede a ele o poder do ódio e da crueldade. Esse poder é usado para proteger Theru, uma jovem misteriosa, com quem acaba formando uma sincera amizade. No entanto, o ódio e a crueldade de Arren atraem o olhar de Cob, uma bruxa rival de Ged, e ela tenta se aproveitar dos poderes dele em busca de vingança e mais poder.

Gedo Senki é o único filme do Studio Ghibli injustiçado com pontuação baixa no Rotten Tomatoes, mas ainda assim é uma das minhas histórias preferidas. O final é surpreendente e muito emocionante. Principalmente se for levado em consideração que a obra é uma adaptação de um livro da renomada escritora Ursula K. Le GuinEarthsea.

Memórias de Marnie (Omoide no Marnie, 2014)

Já analisamos este filme em detalhes aqui no site! O enredo segue a pitoresca vida mundana de Anna, uma menina numa agitada metrópole e depois num tranquilo vilarejo. Sua até então “robótica” personalidade é iluminada pela alegre personalidade de uma garota desconhecida. Quando Anna encontra Marnie em um casarão supostamente abandonado, e as peças soltas do quebra-cabeça de sua vida finalmente começam a se encaixar.

O filme é um balanço entre a realidade e a fantasia. No final das contas, acaba tendo um tema complexo cheio de reflexões e morais intrínsecas que garantem comoção.

Eu Posso Ouvir o Oceano (Umi ga Kikoeru, 1993)

O filme acontece em flashback por adultos revivendo o passado. O enredo segue Rikako Muto, uma estudante de Tóquio que é transferida para um colégio numa cidadezinha litorânea do interior. Apesar de linda, inteligente, esportiva e estudiosa, Rikako não consegue se adaptar à vida social da escola por ser arrogante. Então surgem Taku Morisaki e Yutaka Matsuno, que sempre foram melhores amigos, e o trio começa a viver um complicado triângulo amoroso.

Essa animação foi uma tentativa do Studio Ghibli de permitir que os membros mais jovens da equipe fizessem um filme com preços mais razoáveis. No entanto, a animação acabou estourando o orçamento e o cronograma de todo jeito. O experimento não se repetiu.

Meus Vizinhos, Os Yamadas (Hōhokekyo Tonari no Yamada-kun, 1999)

Baseado no mangá Nono-chan, criado por Hisaichi Ishi, conta várias pequenas histórias da engraçada família Yamada. O filme mostra as desventuras do cotidiano da família, que é composta por: Takashi e Matsuko (o pai e a mãe), Shige (a vovó, mãe de Matsuko), Noboru (o filho de 13 anos), Nonoko (a filha de 5 anos), e Pochi (o cão da família).

Cada quadro curto recebe um nome e conta uma historieta. Esses quadros abordam várias questões, muitas delas hilárias, como quando os Yamada esqueceram o filho numa loja. A maioria é sobre assuntos familiares comuns, como as relações entre pai/mãe e filhos, de marido e mulher, sobre a sabedoria que se adquire com a idade ou sobre a primeira namorada. Essas histórias são de fácil identificação dentro de famílias no mundo inteiro, então são ainda mais divertidas. O filme trabalha muito bem as frustrações, rivalidades, alegrias, tristezas e o amor que a família sente e compartilha.

Este foi o primeiro filme digital do Studio Ghibli, com o estilo de arte de fotos em aquarela, em vez de imagens de células.

Da Colina Kokuriko (Kokuriko-zaka Kara, 2011)

Com direção de Goro Miyazaki, filho do diretor, a história conta sobre uma garota de 16 anos, Umi, que mora em uma colina chamada Kokuriko. Toda manhã, Umi levanta uma bandeira de frente para o mar – e toda manhã, Shun, um garoto de 17 anos, a observa. Na escola, os dois participam de uma discussão estudantil sobre a manutenção de um edifício antigo, onde era mantido um clube cultural, cheio de histórias e memórias. Na dúvida entre abandonar ou preservar o clube, os alunos debatem. Nisso, Shun apela para proteger o prédio e Umi sugere que ele seja limpado e reutilizado. A partir dali, os dois se conectam e vão lentamente sendo atraídos um pelo outro.

O filme é uma demonstração super inteligente da mudança geracional, onde os jovens entram em conflito exatamente com esses pontos de preservar o passado ou construir um novo futuro. É como um choque de gerações entre pai e filho: Hayao sempre fez filmes sobre as guerras e Goro prefere retratar histórias que acontecem após o término delas.

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Esses 21 títulos do Studio Ghibli estarão disponíveis nos próximos meses na plataforma da Netflix! Esperamos que vocês tenham gostado da lista e que se divirtam muito assistindo. Todos eles valem MUITO a pena!

Vocês conferem as datas dos lançamentos aqui no site!

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Um adendo – Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka, 1988)

Quem é fã de Ghibli está notando a ausência de um dos maiores filmes do estúdio. Dirigido por Isao Takahata, Túmulo dos Vagalumes conta uma história imensamente triste sobre dois irmãos, o jovem Seita e a pequena Setsuko, tentando sobreviver enquanto o Japão é bombardeado na Segunda Guerra Mundial. É um filme emocionante e extremamente desolador. Foge um pouco do comum do estúdio, pois nessa história não há magias e nem espíritos protetores. O filme tem uma nota alta no Rotten Tomatoes, tanto da crítica especializada quanto do público geral. Vale muito a pena ver, mas esteja preparado emocionalmente. Sem sombra de dúvidas, é um tema forte e um filme sem rodeios.

Ele infelizmente não estará na lista da Netflix porque a história do filme é baseada numa semi-biografia com direitos autorais retidos pela editora que a publicou originalmente no Japão, a Shinchosha. Os direitos de reprodução em streaming são atualmente da HBO Max.

Mas, de qualquer forma, para quem quiser saber mais detalhes, temos um post especial falando dele e de outras animações do mesmo gênero aqui no site!


Leia mais sobre o Studio Ghibli aqui!

Guia para começar a ver animes

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