E, consequentemente, a Mattel também não!

Com o estrondoso sucesso de Barbie, a Mattel anunciou 14 novos projetos baseados nos seus brinquedos dentre eles Hot WheelsPolly Pocket e Uno. O filme ultrapassou o marco de 1 bilhão na bilheteria mundial, algo que Margot Robbie prometeu ao lado de Greta Gerwig para vender o live-action para a Warner Bros., mesmo sem saber que o filme se sairia tão bem nas bilheterias.

Recentemente, quebrou as seguintes marcas nos EUA: se tornou a maior bilheteria da Warner Bros., ultrapassando Batman – O Cavaleiro das Trevas, e pela primeira vez na história do cinema se tornou a maior bilheteria de uma diretora solo. Nenhuma mulher antes conseguiu ultrapassar a marca de 1 bilhão dirigindo um longa sozinha.

Imagem: Warner Bros.

O anúncio da Mattel sobre os 14 novos projetos pode ter pego muita gente de surpresa, mas sabendo como o capitalismo e a indústria de cinema de Hollywood funcionam em relação a dinheiro deveria surpreender um total de zero pessoas.

Vamos usar de exemplo o renascimento de filmes de super-herói com Homem de Ferro (2008) e a excelente personificação de Robert Downey Jr. como Tony Stark. Quantos filmes e séries foram lançados pela Marvel e DC desde então? Existem críticos e fãs falando sobre o desgaste dos filmes de super-herói, enquanto outros defendem que essa onda ainda está longe de acabar. Atualmente a DC está passando por uma restruturação pelas mãos de James Gunn (Os Guardiões da Galáxia, O Esquadrão Suicida) e desde Vingadores: Ultimato, a Marvel vem tendo seus altos e baixos nas suas produções (mais baixos que altos). Já a DC tem mais momentos mais baixos que altos na bilheteria e crítica. Mesmo com o “desgaste”, ainda comemoramos quando alguma diretora é anunciada para dirigir um filme de super-herói ou quando finalmente uma super-heroína ganha o seu filme solo. Adoro filmes e séries de super-heróis, mas não acho que a Marvel e DC acertem sempre.

Imagem: Warner Bros.

Estou particularmente muito feliz com o sucesso de Barbie e estou ansiosa para reassistir quando sair na HBO Max. Estou mais feliz ainda que Barbie seja sucesso de público, crítica e bilheteria, apesar do ódio de várias pessoas (principalmente homens) que taxam o filme de “anti-homem” sem nem terem assistido ou entendido a obra.

Leia também: Chamar Barbie de “anti-homem” é ridículo

Acima de tudo Barbie é um filme feito por mulheres para mulheres – mas homens podem e devem assistir e entender a maior parte da mensagem passada sim – e que traz reflexões sobre o patriarcado e papéis de gênero na sociedade. Essa é apenas uma análise superficial, mas já fizemos um review completo para você ler.

Todas essas informações que eu trouxe antes foi para introduzir uma fala do ator Randall Park para a Rolling Stone sobre a representação asiática em Hollywood. Ele respondeu fazendo uma comparação entre o sucesso de Barbie e a quantidade de projetos anunciados pela Martell.

Eu sinto que, em geral, esta indústria (Hollywood) está aprendendo as lições erradas. Por exemplo, Barbie é um grande sucesso de bilheteria, e a ideia é: fazer mais filmes sobre brinquedos! Não. Faça mais filmes sobre mulheres!

Imagem: Warner Bros.

A resposta de Hollywood e, consequentemente, da Mattel ao sucesso de Barbie é fazer mais filmes sobre brinquedos ao invés de mais histórias dirigidas, roteirizadas e estreladas por mulheres. Assim como fazer mais filmes, sequências ou remakes sobre um determinado tema ou personagem é o modus operandis da indústria. O sucesso de Barbie não deve ser ligado a única e exclusivamente por ser uma história sobre uma boneca famosa há décadas, e sim, às questões abordadas, ao seu elenco, roteiro e direção.

Leia também: O histórico fim de semana de Barbie de Greta Gerwig prova que o público quer histórias com foco feminino

Já falamos aqui várias vezes que Hollywood não é exatamente conhecida por sua diversidade e representatividade, mas se quiser pode dá uma olhada no Google que não é difícil encontrar artigos, dados e estatísticas sobre isso. Até hoje apenas três mulheres ganharam o Oscar de Melhor Direção em 95 edições da premiação: Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror), Chloé Zhao (Nomadland) e Jane Campion (Ataque dos Cães). Esse é apenas um dos muitos números que apontam para a falta de incentivo de mulheres da participação na indústria.

Existem vários exemplos de diretores e atores renomados com fracassos ou baixa performance em bilheterias, mas que continuam dirigindo e protagonizando filmes de alto orçamento. O mesmo dificilmente acontece quando uma mulher fracassa. A solução “óbvia” é não fazer mais filmes sobre mulheres ou com mulheres na direção. Aos homens é permitido fracassar e às mulheres não.

Legal que tem mais filmes de brinquedos vindo aí, mas será que tem mais filmes dirigidos por mulheres e com mulheres como protagonistas vindo aí?

Queremos mulheres dirigindo e estrelando filmes que não só abordem temática feministas ou crítica ao patriarcado. Tipo mulheres desenvolvedoras sendo chamadas para palestrar sobre “como é difícil ser mulher na área de games”, porém sendo menos chamadas para outros assuntos em relação a área de jogos.

Queremos que as mulheres participem atrás e na frente das câmeras, em filme de grandes orçamento, ação, ficção científica, guerra, drama, terror, faroeste e qualquer outro gênero existente e, principalmente, dominado por homens.

Hollywood, que tal além de lançar mais adaptações de brinquedos e super-heróis abrir ainda mais espaço para diversidade? Filmes diversos também têm potencial para fazer sucesso de crítica e público e dar lucro. Queremos ver mais filmes dirigidos por mulheres cis e trans, asiáticas, negras e indígenas. Queremos também ver mulheres produzindo mais animações e séries. Queremos ouvir outras vozes e histórias. Queremos ver e analisar diferentes pontos de vista.

Não é que a gente não queira ver mais filmes sobre brinquedos e super-heróis. Não é esse o ponto principal desta matéria.  Mas o que acontece  é que se focar em apenas uma temática e um público todo mundo acaba perdendo no final. Desde as pessoas que trabalham na produção e as condições de trabalho em projetos como Homem-Aranha Através do Aranhaverso e She-Hulk e até perder em qualidade de roteiro como parece ser o caso de Invasão Secreta, que obteve reviews mornos tanto da crítica quanto do público.

Queremos que mulheres sejam incentivadas a participar da indústria de cinema em diferentes gêneros tanto quanto os homens (e obviamente com salários dignos).

Leia mais sobre Barbie aqui no Garotas Geeks!

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