As melhores sempre acabam cedo…

Quando BoJack Horseman estreou em 22 de agosto de 2014, eu não prestei muita atenção. O que uma série sobre uma celebridade negativa, deprimida, viciada e niilista teria a me ensinar de bom, afinal?  Mas eu não poderia estar mais enganada. BoJack foi uma série surpreendente, cheia de temas interessantes, um humor ácido incrível, críticas sociais importantíssimas, personagens  de fácil identificação e super carisma – além de, claro, um caminho sério para animações adultas tratarem de temas menos comuns como depressão, suicídio, doenças psicológicas, relacionamentos amorosos, problemas familiares e política.

Agora, infelizmente, já temos que dizer adeus, pois a Netflix encerra a série em sua sexta temporada, que será dividida em duas partes: a primeira chegando em 25 de outubro e a segunda em 31 de janeiro.

No trailer abaixo, vemos BoJack afinal em reabilitação, escrevendo uma carta para Diane porque “escrever cartas é terapêutico”.

Reabilitação é uma coisa muito boa para o protagonista, todo mundo já sabia que ele deveria estar numa desde a primeira temporada. E BoJack finalmente está lidando com o fato de que ele sempre assume que sua vida precisa ser dolorosa. Ele inclusive afirma, no trailer:

“Eu perdi tantos anos sendo miserável porque supus que essa era a única maneira de ser. Não quero mais fazer isso. “

Princess Carolyn, por outro lado, ainda é uma personagem profundamente motivada pela sua carreira, mas agora também responsável pelo bebê que ela adotou na última temporada – um bebê que ela nem teve tempo de nomear. E lidar com essa jornada dupla vai mostrar para a personagem o peso da maternidade que ela tanto quis. Já Diane ainda está presa em sua rotina sufocante de trabalho não recompensador e vida em caos; e o Sr. Peanutbutter vai poder afinal realmente lidar com o fato de que sua felicidade constante pode ser apenas uma máscara para problemas maiores e mais tóxicos que ele tem (alguns que já falamos aqui no site).

Temos muitas mídias que examinam o lado obscuro dos personagens, mas muito poucas que ensinam crescimento. E BoJack é uma das séries que está realmente fazendo o trabalho duro de tentar ensinar as pessoas que lutam com seus problemas de saúde mental a lidar com eles.

Parte de como isso é realizado de forma produtiva é na não transformação da dor que BoJack sente e causa nas pessoas no centro do humor da história, ou apenas em piadas vazias e sem consequências. Mostrar repetidamente as maneiras como ele consegue se safar de seu mau comportamento, graças ao seu dinheiro e fama, é também uma forma de demonstrar que BoJack não é um espelho ou um herói; é uma forma de não justificar seu comportamento.

Sabemos que BoJack é, em sua essência, uma pessoa boa que foi prejudicada por muitos abusos emocionais. Mas isso não apaga o fato de que ele espalha essa dor, principalmente com as mulheres que ele se relaciona.

A jornada não foi fácil para BoJack. E como alguém que luta contra a própria depressão e é uma fã obstinada da série, ver essa jornada foi uma forma dolorosa de perceber a maneira como às vezes podemos nos tornar mártires das nossas próprias dores, em vez de tentar ser proativos a despeito delas.

Apesar de tudo, eu quero, do fundo do meu coração, que o BoJack termine a série encontrando paz – porque raramente temos grandes histórias de redenção retratadas de forma prolongada, e realmente acho que seria significativo permitir que BoJack não apenas se curasse, mas assumisse total responsabilidade por tudo o que fez.

Isso não significa que as mulheres que ele machucou precisam perdoá-lo ou que ele precisa manter sua fama e carreira. Mas permitir que BoJack encontre algum tipo de paz interior e realmente sofra mudanças reais seria um presente incrível para a audiência da série.

BoJack pode não exatamente merecer essa graça, mas nós no fundo realmente desejamos isso pra ele de qualquer maneira.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue.

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