Vulgo “nice guys”.

Em um artigo recentemente escrito para a Vulture, a escritora Jen Chaney afirmou que a série animada da Netflix, BoJack Horseman, tem a melhor escrita da televisão. Por causa da vasta quantidade de problemas (doenças mentais, morte, vícios, relacionamentos abusivos, entre outros) que a série não apenas chega a tocar, mas sim explorar de maneira brilhante, enquanto mantém seus personagens realistas com a severidade de suas ações. E não há como discordar de Chaney.

BoJack tem sido uma das melhores séries que permitiu a muitos de seus fãs reconhecer suas próprias questões de saúde mental. Porém, o que a série também faz é destacar sutilmente os defeitos comuns à todas pessoas, mesmo aquelas que parecem boas, e isso acontece de forma particularmente visível com o personagem do Sr. Peanutbutter.

Por várias temporadas, o Sr. Peanutbutter foi apresentado como o oposto de BoJack. Ele era famoso por ter participado de uma série de comédia nos anos 90, que aliás era uma cópia da série de BoJack. Mas ao contrário do protagonista, ele sempre foi conhecido como “mais legal”, “mais gentil”, e menos problemático. Sim, ele tinha uma cabeça mais simples, disposição a querer fazer os outros se sentirem bem, mas existe uma ideia de que ele era assim pra servir como um exemplo de como BoJack poderia ser melhor. E imaginar isso é ignorar completamente as formas que o Sr. Peanutbutter é um parceiro ruim, com seus próprios problemas a serem trabalhados.

Durante a quinta temporada da série, Diane e Peanutbutter finalmente se divorciam – e ele imediatamente começa a se relacionar com uma garçonete Pug de 25 anos, chamada Pickles. Em um momento de autossabotagem, o Sr. Peanutbutter acaba traindo a namorada com a ex, Diane. É claro que ele ainda tem sentimentos por Diane, mas em vez de tentar trabalhar esses sentimentos, ele imediatamente vai atrás de uma mulher mais nova para satisfazer suas necessidades emocionais. No oitavo episódio da quinta temporada, podemos ver que isso é um padrão de comportamento.

Neste episódio, podemos vez quatro diferentes festas de Halloween na casa de BoJack nos últimos 25 anos. Na primeira, Sr. Peanutbutter está acompanhado de Katrina; na segunda, de Jessica Biel; na terceira de Diane e na última, de Pickles. Em cada uma delas, podemos ver que apesar do Sr. Peanutbutter se dedicar a essas mulheres superficialmente, ele na verdade não escuta o que elas dizem precisar receber dele.

Ele se deixa levar tanto pela distração da diversão que não lembra de coisas simples como, por exemplo, o pedido de Katrina para que ele não a deixasse sozinha em uma festa cheia de estranhos (o que acontece e acaba fazendo ela ser “convertida” por Tim Allen). Outros exemplos são as vezes que ele esqueceu do medo que Jessica Biel tinha de múmias ou de que Diane odeia festas. Esse tipo de comportamento é o que faz com que os relacionamentos acabem.

Além disso, como Diane eventualmente acaba tendo que apontar durante a tentativa do Sr. Peanutbutter de consolar Pickles, ele sempre acaba namorando garotas muito mais novas do que ele, mas nunca pensa em amadurecer. Esta última parte é crucial porque o Sr. Peanutbutter não está conhecendo e namorando essas mulheres por ter interesses em comum (tirando a ideia de não ter filhos, ele e Diane não tinham quase nada em comum), mas porque elas eram “divertidas”, jovens e conseguiam manter o seu interesse por mais do que alguns segundos.

Ele ama essas garotas, mas de uma maneira infantil. É um amor sem entendimento sobre quem elas são ou sobre como amadurecer o relacionamento. Ele quer que as coisas continuem para sempre iguais, e isso é impossível.

Por muito tempo, o Sr. Peanutbutter parecia um dos mais doces e educados personagens da série, especialmente quando demonstrava apoio pela Diane. Tanto que o fato de Diane ter ficado irritada com ele fazer uma biblioteca de A Bela e a Fera para ela chateou muita gente. O ato pareceu sem dúvidas algo doce e carinhoso.

Porém, é muito importante entender que o que aquela cena representava para o relacionamento era o fato de que eles não conheciam um ao outro tão bem assim. Diane disse que não gostava de grandes demonstrações, festas e muitas coisas que existiam na linguagem de amor do Sr. Peanutbutter. Mas ele nunca ouvia. Não que Diane seja perfeita (ela não é), mas ela expressa constantemente como se sente, e as respostas dele raramente são proporcionais às palavras dela. É como aquela frase de Caminhos da Floresta: “Legal é diferente de bom”.

Esse é o Sr. Peanutbutter.

Assim como BoJack, ele quer fazer as coisas direito, mas não sabe como, porque sua versão de mau comportamento é tão superficialmente altruísta que ele acaba se convencendo de que o problema está na parceira, e que ele pode corrigir isso com outra garota.

Quando ele pede Pickles em casamento no final da quinta temporada – é o seu quarto casamento, todos sem nenhum amadurecimento, todos sem tentar ser melhor. Apesar das palavras de Diane, ele continua tentando se consertar usando Pickles como sua companheira de autoajuda, como uma muleta.

Diane afirma que o Sr. Peanutbutter não estraga as mulheres, mas ao escolher se casar com Pickles, apesar do aviso de Diane que ele deveria “crescer”, isso mostra que coisas ruins podem estar envolvidas em uma embalagem bonita e doce, sem deixar de serem tóxicas.


Texto traduzido do TheMarySue.

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