A comunidade gamer está praticamente toda falando sobre a polêmica de ter uma mulher no novo Battlefield. Mas se você ainda está por fora e não entendeu direito o que está acontecendo, antes de ler esse texto você pode assistir ao nosso vídeo no canal comentando os acontecimentos:

Agora que você já está completamente inteirado, segura essa jaca porque a situação está mais complicada.

Mas por que não importa a nacionalidade da mulher em Battlefield? Pelo menos não neste momento em que vivemos?

Desde ontem, pelo menos com mais intensidade, começamos a ver comentários falando que o problema não é ter uma mulher em Battlefield, mas sim que o problema é a falta de precisão história, já que os exércitos de países ocidentais não permitiam que mulheres lutassem na linha de frente. Que se a mulher fosse da União Soviética, estaria tudo bem, já que no exército vermelho havia várias mulheres.

Desculpe, mas este claramente não é o problema aqui. Tanto não é o problema que quando gravei o vídeo para o canal meu argumento era somente voltado para os comentários misóginos que apareceram, porque, acreditem, eu olhei CENTENAS de comentários, em diversas redes sociais, e não tinha visto até então uma pessoa falando que o problema era a nacionalidade da personagem. Inclusive a própria EA Games se manifestou sobre o assunto (fizemos um artigo sobre isso aqui no Garotas Geeks), e como podem ver em nosso outro artigo, a resposta deles também foi voltada para os comentários misóginos. Não vou falar que ninguém se manifestou sobre a questão específica da nacionalidade, mas a grande maioria dos comentários feitos até 3 dias depois da divulgação do trailer era basicamente sexista (você mesmo pode procurar por conta própria se não acreditar).

comentário battlefield v

Nós entendemos o ponto, que de certa forma é uma apropriação da cultura soviética daquela época, e também preferiríamos que o jogo desse os devidos créditos aos países que eram mais “progressistas” em questão de inclusão feminina. Mas mantenho o ponto de que este não é o verdadeiro problema dessa situação.

Como mencionei anteriormente, nos primeiros dias após o lançamento os comentários eram que “mulher na guerra não é realista”, não que “mulher lutando pelo exército britânico não é realista”- e esses são os comentários educados apenas, tem muita coisa horrível escrita por aí. A diferença é que agora deram um argumento (não que seja bom o suficiente pra causar todo esse rage) na mão dessas pessoas preconceituosas. Veja só, se o problema fosse a precisão histórica, já teriam dado rage em Battlefield há muito tempo (no próprio vídeo do nosso canal cito exemplos de coisas que estão bem longe da realidade). Todo esse ódio ter aparecido agora NÃO É UMA COINCIDÊNCIA.

E se quiserem ir mais longe ainda na discussão, toda a ideia e mecânica de um multiplayer já é completamente absurda perto de como funciona uma guerra de verdade. Ou seja, colocar um monte de coisas absurdas no jogo tudo bem, porque é para aumentar a diversão e é só um jogo, mas colocar uma mulher britânica já muda o discurso para “MAS ISSO É MUITO ABSURDO!!11! PRECISAMOS QUE ESTE DETALHE SEJA EXTREMAMENTE PRECISO”. O número de dislikes no trailer é absurdamente grande perto da média normalmente de dislikes em um vídeo. Mas claro, sempre tem a possibilidade de que a indignação seja real e que tudo isso seja apenas o mundo inteiro finalmente se unindo para que uma desenvolvedora americana de videogames faça justiça aos soviéticos. Principalmente os brasileiros né, a gente sabe como é um povo que adora qualquer coisa que faça referência à US.
vladmir putin

Nós sabemos que enaltecer um ponto do exército soviético é muito difícil de acontecer vindo de uma desenvolvedora cuja sede é nos Estados Unidos. O que é uma infelicidade, já que seria maravilhoso jogar com uma versão virtual de Lyudmila Pavlichenko e muitas outras. Se vivêssemos em um mundo no qual a igualdade de gêneros foi atingida, a indignação e o boicote ao jogo seriam super válidos. Mas não. Vivemos num mundo em que as mulheres ainda são constantemente esquecidas e deixadas de fora, ou quando são inseridas em um jogo muitas vezes ainda é de uma forma pejorativa e/ou sexualizada. 

Continuar usando o argumento de que ela é britânica para boicotar o jogo é um total desserviço pra evolução que houve de finalmente colocarem mulheres na série. Se ninguém comprar, o recado vai ser que colocar mulher em jogo de guerra não dá certo, não que colocar uma mulher que não condiz precisamente com os acontecimentos históricos não dá certo.

Compartilhe: