Especialista em Psicologia Positiva e Amor Patológico, Juliana Capel utiliza dramas asiáticos para falar de psicologia

Em meados de 2019 a então formanda em psicologia, Juliana Capel, teve seus primeiros contatos com os dramas asiáticos. Na época ela não imaginava o quanto isso iria impactar sua vida e sua profissão. Depois de se apaixonar pelos enredos e perceber neles várias alegorias capazes de conversar sobre inúmeras emoções, a especialista em Psicologia Positiva e Amor Patológico, viu nos dramas um excelente artifício para dialogar sobre psicologia. Batemos um papo com ela, que hoje tem um perfil no Instagram focado em trazer insights através dos dramas.

A psicóloga Juliana Capel com os livros do drama It’s ok not to be Okay (Netflix, 2020) lançados pela Intrínseca este ano

Garotas Geeks: O que te levou a criar conteúdos sobre drama e psicologia?
Juliana Capel: Quando me formei, fiz alguns cursos de marketing e eles sempre nos ensinavam a procurar algo que gostássemos de falar para acrescentar nos conteúdos das redes sociais. Logo, pensei: “o que posso acrescentar para que as pessoas saibam mais de mim, além do ser psicóloga?” Claro que bateu um friozinho na barriga por se tratar de séries que, até então, poucas pessoas assistiam. Também não havia outros psicólogos utilizando essa “abordagem” falando sobre os dramas, fazendo análises, mas eu entendi que precisava me mostrar mais, colocar mais de mim nos conteúdos e decidi começar a falar sobre os dramas que assistia correlacionando com os assuntos que trabalho em psicologia, no trabalho terapêutico. E deu super certo!
Hoje consigo ensinar os assuntos até mais complexos (como teorias da psicologia) com exemplos das histórias, que me permitem dar mais leveza ao assunto, se tornando mais didático e de fácil absorção.

GG: Como os seus seguidores reagem quando você aborda nos dramas favoritos deles alguma patologia ou personagem/relacionamento problemático?

JC: Ótima pergunta! (risos) Alguns conseguem entender o que eu quero passar de primeira, outros compreendem, mas ainda ficam relutantes, defendendo os personagens. Mas, tá tudo bem! Compreendo que certos assuntos como relacionamentos abusivos e transtornos psicológicos ainda precisam ser bastante divulgados para que as pessoas conheçam mais sobre o assunto e consigam identificar os sinais. Entendendo que isso realmente existe, acontece aqui na vida real e dá para mudar, buscar ajuda para melhorar/tratar esses assuntos. Tenho feito mais esse trabalho de conscientização e tem funcionado. Muitos seguidores me mandam mensagens atualmente me dizendo que estão sendo muito mais críticos (de uma forma boa) com as histórias que assistem, entendendo o porquê de se identificarem com certos personagens, situações etc.

No k-drama It’s ok not to be okay (Tudo bem não ser Normal, Netflix) vários episódios comoventes se passam dentro do hospital psiquiátrico

GG: Dramas como Tudo Bem Não Ser Normal, Loucos um Pelo Outro e Hometown Cha Cha Cha tocam em temas como saúde mental, com alguns personagens indo ao psiquiatra e se cuidando. Como você analisa essa abordagem sobre saúde mental mostrada nos dramas?
JC: Eu acho fantástico porque vem quebrando esses paradigmas relacionados à saúde mental, tornando visível que precisamos de ajuda em determinados momentos e circunstâncias. Ainda mais em um país como a Coreia do Sul, que tem certa resistência sobre esses assuntos. Isso mostra que falar sobre saúde mental é necessário e salva vidas. O principal ponto é mostrar que tá tudo bem você precisar de ajuda, que não é somente pessoas com transtornos mentais que precisam de um acompanhamento profissional, naturalizando a busca para melhorar sua saúde mental. Muitas vezes precisamos de apoio profissional ao longo de nossa vida, seja para resolver conflitos internos, melhorar nossa autoestima e relacionamentos, desenvolvimento profissional, etc. Entender que não precisamos lidar com tudo isso sozinho já é um ótimo passo.

A incrível Dan-I de Romance is a Bonus Book (Netflix, 2019)

GG: Como você analisa a evolução dos dramas nos últimos anos em relação ao desenvolvimento de personagens femininas e relacionamentos amorosos?
JC: O comportamento feminino veio mudando bastante ao longo dos anos. Sei que assisto somente há 3 anos, mas assisto dramas antigos e os mais atuais, percebendo uma enorme diferença entre as protagonistas, consequentemente nos relacionamentos amorosos também. Antes tínhamos muito aquele roteiro baseado em a mocinha precisar sempre de ajuda, de um homem para resolver a vida dela (risos). Hoje já vemos mulheres mais fortes, donas de si, de suas carreiras e vendo o relacionamento como de fato ele é, apenas uma das fontes de satisfação e felicidade. Acredito que essa mudança vem ocorrendo também da expansão da mulher no mercado de trabalho, estamos cada vez mais independentes e buscando nossa estabilidade em todas as áreas da nossa vida, inclusive a psicológica/emocional. Minha grande inspiração dos dramas é a Dan-I, protagonista de Romance is a Bonus Book. Uma mulher forte, resistente, persistente e que não perdeu a leveza da vida com o passar dos anos e dos sofrimentos, nunca deixou de acreditar em si mesma diante os obstáculos. Minha heroína!

A divertidíssima Bong Bong, de Strong Woman Do Bong Soon (JTBC, 2017)

GG: Pensando que estamos sendo constantemente bombardeados de informações a todo momento. Qual drama você indica para quem quer relaxar e descansar?
JC: Sem dúvidas o meu queridinho que eu assisto toda vez que estou estressada: Strong Woman do Bong Soon. É aquele drama que você ri do início ao fim, foge do estereótipo do casal onde o homem é durão e a mocinha é sensível. Aqui temos uma mulher extremamente forte protegendo o seu chefe que é um amorzinho de pessoa (risos). Tem ação, mistério, muito amor e um ótimo desenvolvimento dos personagens. Vale super a pena assistir para se distrair e melhorar o humor!

Descendentes do Sol (KBS, 2016) conta a história de uma equipe médica que vai trabalhar em uma zona de conflitos

GG: Qual o seu drama favorito e por quê?
JC: Meu drama preferido é Descendentes do Sol. A história em si é completa para mim. Mostra o amadurecimento dos personagens com as circunstâncias adversas, que eles não teriam presenciado se continuassem na sua zona de conforto. Tem companheirismo, tem conflitos reais, mostra uma realidade diferente da nossa, que sabemos que existe, mas não temos muito contato (voluntariado em zonas de conflitos), e com isso não pensamos com frequência no sofrimento que existe ao redor desse mundo a fora. Além do romance, claro! (risos) Eu sou uma pessoa muito romântica, ao mesmo tempo que sou pé no chão. Gostei da construção do relacionamento dos protagonistas, onde apesar das circunstâncias, lutaram para estar um ao lado do outro depois de assumirem os seus sentimentos. Tem ação, romance, amizades contagiantes… Tudo pra mim.

It’s Okay, That’s Love (SBS, 2014) retrata as vidas e amores de pessoas com transtornos de ansiedade

GG: Você tem algum personagem complexo que te fez refletir bastante? Qual e por quê?
JC: Ah, tem sim! Recentemente assisti It’s Okay, That’s Love e minha cabecinha fritou com tanta informação, de tanto conteúdo bom para trabalhar. Jang Jae Yeol, o personagem principal do drama, desenvolveu um transtorno grave na sua adolescência devido ao sofrimento que a sua família passava, proveniente de um relacionamento abusivo da mãe. Foi fantástico a forma como a história abordou essa questão porque mostra que todos nós estamos propensos a passar por esses sofrimentos, até desenvolver transtornos mentais. Independente de classe social, profissão, gênero, idade, etc.
Mostrou também que devemos estar atentos aos nossos sofrimentos e aos dos outros, porque não tratar logo no início pode desenvolver grandes consequências que teremos que lidar uma hora ou outra. Foi um personagem que me tocou bastante, pela forma que ele carregou todo o sofrimento sozinho ao longo dos anos para ajudar sua família. Me emociono toda vez que lembro das cenas dele durante as crises do transtorno. Um drama que vale a pena demais assistir para entender melhor como é importante cuidarmos da nossa saúde mental e das pessoas ao nosso redor.

Nós adoramos o papo com Juliana Capel e seus conteúdos são incríveis. Para conhecer mais a psicóloga e seu trabalho, siga o Instagram dela @julianacapel

Leia mais sobre dramas asiáticos aqui no Garotas Geeks!

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