E precisamos falar sobre isso.
Atenção aos spoilers sobre o filme Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e da série WandaVision!
Serei bem boazinha ao dizer que fiquei bem decepcionada assistindo Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Depois de anos esperando o filme e com a promessa de que ele lidaria com os acontecimentos da série WandaVision (sem dúvida, a que mais gostei até agora nessa nova fase televisiva do UCM), eu esperava bem mais.
Mas principalmente, o que eu esperava era que o filme lidasse com o mínimo de coerência com Wanda Maximoff/Feiticeira Escarlate.
O problema em si não é a vilanização da personagem (embora ela também seja problemática, e já já chego nesse ponto). O problema é que ao fim de WandaVision, temos uma Wanda que sabe que agiu de forma errada ao manter presos os habitantes de Westview, uma Wanda que sofreu muito, mas que soube dar adeus às ilusões criadas pela sua própria mente, uma Wanda que se arrependeu e entendeu que não podia continuar. E sim, também a vemos buscando no Darkhold pela voz de seus filhos, mas até então nada nos indicava que ela estava “fora do controle” ou “possuída” pela energia negativa do livro.
Acontece que a Wanda que nos é apresentada no início do filme Doutor Estranho no Multiverso da Loucura está 100% entregue ao caminho da vilania, capaz das maiores atrocidades para garantir que seus objetivos serão alcançados. Uma Wanda que mata a sangue frio centenas de pessoas. Aquela mesma Wanda que não feriu ninguém em Westview, que fez questão de tirar todos do Hex antes de sua luta contra Agatha, agora mata centenas sem nem piscar os olhos.
Existe uma explicação pra isso, mas não do jeito que você gostaria, e fizemos este post aqui.
“Ah, mas o Darkhold a corrompeu”, mas isso não nos foi mostrado, enquanto audiência, em momento algum. Usar um objeto amaldiçoado para justificar uma mudança de caráter tão grande em um personagem anteriormente tão bem construído é, para o mínimo, um recurso de escrita bastante preguiçoso. Claro, seria possível sim que isso tivesse acontecido, mas sem nos mostrar esse processo, a mudança fica brusca e completamente sem sentido.
Isso sem contar que Wanda com Darhold = vilã. Contudo, Strange com Darkhold = herói!
E sinceramente? Eu já estou cansada de ver excelentes e poderosas personagens femininas serem “enlouquecidas” em seus universos. Enquanto eu assistia ao filme, tudo o que conseguia pensar era: “Daenerys tudo de novo”.
A Marvel falhou com a Wanda do mesmíssimo jeito que a série Game of Thrones falhou com Daenerys Targaryen em sua última temporada. Duas personagens incríveis, construídas com nuance e profundidade durante anos e basta perderem os filhos para os roteiristas terem a justificativa para dizer “elas enlouqueceram pela dor”. E pior, eles só nos dizem isso, sem mostrar esse processo em tela, subestimando nossa inteligência e arruinando personagens que eram, até então, nossas favoritas.
Depois de quão incrível foi todo o desenvolvimento da Wanda em WandaVision, ter que lidar como o que Doutor Estranho no Multiverso da Loucura fez com a personagem me deixa triste e, também, com bastante raiva, para ser honesta.
Mulheres não são mais propensas à loucura. Não estão à beira de perder o controle de suas emoções e se tornarem vilãs implacáveis. A maternidade já é complexa o suficiente sem ter homens troçando da experiência.
Não posso deixar de recear o que vem pela frente depois da completa destruição daquela que era a personagem mais complexa e bem trabalhada dessa fase do UCM. Só posso desejar que a equipe da Marvel trate suas outras personagens femininas com mais respeito.
Leia mais sobre o UCM aqui no Garotas Geeks.
Doutoranda em Letras Clássicas pela USP; é escritora, tradutora e maga das Letras num geral. É otaku e fã de Star Wars desde bem pequena. Queria ter o superpoder da Rumor (Umbrella Academy), mas se contenta em ser devoradora de livros, mangás e séries. Se não a encontrar numa dessas atividades, deve estar tentando escapar do Hades com o Zagreu.
