Está tudo bem foi considerado um dos melhores livros de romance de 2023 pelo The Guardian.

Em Está tudo bem, de Cecília Rabess, acompanhamos Jess, de 22 anos, no seu primeiro dia de trabalho como analista financeira na Goldman Sachs. Ela fica frustrada ao constatar que fará parte da equipe do seu grande rival na faculdade: o conservador, privilegiado – e branco – Josh.

Jess, que é a única mulher negra no escritório, sente-se ignorada e subestimada. E embora Josh não a poupe nas críticas que lhe faz – da atitude pessoal ao desempenho profissional – a verdade é que a apoia sempre que ela precisa, chegando a enfrentar os restantes colegas.

À medida que a rotina os aproxima, os preconceitos de um e outro começam a diluir-se. Entre almoços no escritório e coquetéis de fim de tarde, a relação de trabalho transforma-se lentamente em algo semelhante a uma amizade. Até ao dia em que se envolvem num romance eletrizante e tempestuoso, que os choca a ambos.

Mas as diferenças entre eles são demasiado profundas. Jess, que está agora a começar a descobrir quem é, vê-se forçada a perguntar a si própria quanto está disposta a ceder por amor, e até, na verdade, se o deve fazer de todo. Um fantástico romance de estreia, que nos apresenta Cecilia Rabess como um talento literário a não perder de vista, Está Tudo Bem coloca-nos diante de um espelho e obriga-nos a ver as mais duras verdades sobre nós próprios. Afinal, quem somos por detrás das nossas escolhas?

está tudo bem

História

Está tudo bem é uma história de amor improvável que acontece num cenário cultural e político polarizado. Temos a protagonista, uma mulher preta de esquerda, e  por outro lado, o rapaz branco de direita. A leitura desta frase já nos faz questionar o que poderia uni-los, já que literalmente tudo os separa.

A trama se desenvolve através de Jess, que logo no primeiro dia de trabalho não fica nada feliz quando descobre que vai trabalhar com Josh – branco e conservador – com quem discutia muito nas aulas. Já não bastava ser a única mulher preta dentre todos os analistas do banco, sendo subestimada pela equipe, ainda teria que lidar com isso. Porém, somos surpreendidos, já que Josh é quem acaba ajudando Jess de formas bastante surpreendentes – ainda que não da melhor maneira possível. Assim, começa uma amizade improvável e uma química nítida.

Chega-se, então, em 2016, ano em que Donald Trump é candidato à presidência dos EUA, de modo que o país e o mundo encontram-se polarizados como nunca.

Então, quando o impossível acontece, temos que lidar com um ponto crucial: o amor é mesmo capaz de superar tudo? O quanto estamos dispostos a ceder por amor? Existem coisas das quais não podemos (ou devemos?) abrir mão?

Vale a pena?

Está tudo bem é um livro que nos coloca diante de um espelho e nos leva a ver as mais duras verdades sobre nós mesmos, nossos limites e nossas escolhas.

Cabe aqui uma pequena digressão sobre a autora. Cecilia Rabessé uma mulher preta, escritora e cientista de dados que já trabalhou na Google e na Goldman Sachs, sendo este seu primeiro livro. Desde o início, já conseguimos identificar a importância de termos mais pessoas pretas alcançando lugares de destaque para termos os relevantes recortes de classe e raça em todos os lugares – afinal, é muito menos comum encontrarmos estes temas em romances.

O final do livro traz à tona o questionamento: será que nossas escolhas nos param? É ético namorar alguém que vai contra tudo em que você acredita? É certo trabalhar em uma indústria que lucra com um sistema falido? O que devemos e a quem? Para Josh, a resposta é clara: “Jess, você não deve a ninguém”, ele diz enquanto ela luta contra o pensamento angustiante de que seu pai de princípios ficaria profundamente desapontado com ela. A autora não oferece respostas fáceis.

Realmente, o livro ostenta o destaque que recebeu de grandes mídias no exterior, como The Guardian Times. A leitura é fluída, trazendo o romance e reflexões políticas em conjunto, com grande protagonismo.

O final comporta grandes críticas: há aqueles que concordam ou discordam de como tudo se encerrou. De toda a forma, a reflexão se torna muito válida.


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