Mas ainda tem MUITO espaço para outras melhorias.

Sim, me custou três semanas para recuperar do evento e é por isso que o artigo sai apenas hoje. Arrebentei meus pés (fiz escalda literalmente todos os dias e mesmo assim foi FODA), voltei pra casa com COVID e uma exaustão de chutar a boca do balão. Me arrependi em algum momento? Jamais. Mas, pensando sempre em ajudar quem quer ter memórias positivas de eventos assim, aqui vai um resumão da CCXP23 para quem quer se preparar para os próximos anos.

CCXP brasileira segurou a barra que foi 2023 na força e na coragem

Quem não ficou com receio dos eventos presenciais de entretenimento todos floparem quando surgiu a greve dos roteiristas é sortudo ou ignorante. A Comic Con de San Diego, que é a maior do mundo e que ocorre em julho, tomou um golpe duríssimo e ficou marcada como a mais vazia da história. Fiquei me perguntando o tempo todo se a CCXP aqui ia conseguir manter o lema do “épico” sem a maior atração do evento, que são os artistas e celebridades. É verdade que sem isso ainda é um baita evento – a CCXP é a maior concentração para consumo de produtos geeks, o evento mais esperado do ano para cosplayers e a maior Artist’s Alley do país – mas há de se convir que a presença de atores, atrizes, diretores e artistas renomados é o que leva o público à loucura. San Diego não deixa ninguém mentir.

A venda dos ingressos pra CCXP23 começou em abril e a greve só terminou em setembro, então com certeza tinha muita gente comendo as unhas de ansiedade: será que valia o ingresso? No Twitter, a galera discutiu muito se o evento floparia, mesmo após o final da greve, já que os anúncios de personalidades famosas foram mantidos em segredo até os 45 do segundo tempo. Foi correria? Foi, mas imagino que também tenha sido pros estúdios, que precisavam aproveitar o restinho do ano para divulgação de suas obras, que não podia acontecer enquanto a greve estava ativa.

Mas veio aí: Xuxa, Sandy e Junior, Chris Hemsworth, Anya Taylor-Joy, Zendaya, Florence Pugh, Timotheé Chalamet, Zack Snyder, Junji Ito, Jodie Foster, Kurt Russel, Tyler Hoechlin, Jason Momoa – e outros tantos apareceram para salvar o dia. Todo mundo finalmente respirou de alívio.

A CCXP consegue dar seus rebolados e isso gera mais confiança no público para as próximas edições. A greve ter terminado um pouco antes de novembro ajudou? Sem dúvidas. Talvez por isso as próximas edições devam ser todas em dezembro.

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Prós

Quem compareceu na CCXP23 notou de cara uma mudança muito positiva: o evento tinha claramente uma equipe de apoio muito maior. Isso significa que menos pessoas ficam perdidas na SP Expo, que é gigante, e também que os consumidores recebem mais ajuda em todos os sentidos, inclusive dando maior sensação de segurança.

Outra coisa que também melhora com isso é que a questão das filas melhorou. No ano passado, pontuei aqui no site que as filas eram extremamente desgastantes e geravam frustração por variados motivos. Muita gente ficava horas esperando por nada. Desta vez, as atrações dos estandes podiam ser agendadas no site, e o Palco Thunder tinha uma equipe designada só para garantir que quem entrasse teria lugar na plateia. Deu gosto de ver porque é o justo a se fazer.

Falando em atrações, outra coisa que melhorou com certeza foram as ativações de estandes de empresas. A CCXP22 focou muito em ativações que eram instagramáveis, que são legais, mas não preenchem um dia de evento, ainda mais porque as opções de brincadeiras tinham espaço muito reduzido na SP Expo. É bom ter fotos legais para postar nas redes, mas a memória de boas diversões é o que faz todo mundo querer voltar. Nisso a CCXP23 se destacou mais porque foram diversas atrações com brincadeiras, apresentações musicais, atividades lúdicas (quem quiser ver em detalhes pode dar uma espiada lá nos stories salvos no meu Instagram). Dessa forma, pessoas de todas as idades saem com a sensação de que valeu a pena o ingresso. Não só as ativações foram boas, inclusive: a FANLAB brilhou nas vendas do vestuário geek e a Iron Studios deixou todo mundo babando com as figures. Mas tinham uma variedade de lojas oferecendo figures fantásticas e eu venderia meu rim por essas duas aqui:

Figures de A Viagem de Chihiro, animação do Studio Ghibli. Imagem: Débora Carvalho

O Artist’s Valley estava fantástico esse ano. As escolhas de ilustradores e artistas deram para quem gosta de consumir esse tipo de arte o melhor que há na internet e na literatura de quadrinhos (et all). Muitos artistas consagrados nacional e internacionalmente se dedicando pelos fãs, e muitos artistas novos esbanjando carisma, provando merecer lugar ali. Foi difícil segurar meu limite do cartão de crédito, mais do que em qualquer outro local do evento. É sempre bom também poder conhecer seus artistas preferidos pessoalmente, então é ótimo que a CCXP abra um espaço não só para isso, mas também para que um público grande possa ter contato com um setor importantíssimo da nossa cultura.

As celebridades convidadas também deram vida ao evento. O que ouvi do público nesse sentido foi de expectativa cumprida. A CCXP22 brilhou neste campo – teve Keanu Reeves, Paul Rudd, Hugh Grant, Pedro Pascal, Bella Ramsey, Rodrigo Santoro, Jenna Ortega, Gwendoline Christie e MUITOS outros do mesmo calibre e fama, então a CCXP23 teria que se virar do avesso para conseguir superar. Considerando a greve de Hollywood, dá pra dizer que um milagre aconteceu. Não tinha muito como superar, mas também não deixou a desejar. Mas além da galera gringa, nossas celebridades locais também marcaram o evento – desde a homenagem mais que merecida para Xuxa, as novidades de filmes nacionais como Mamonas Assassinas ou Cidade de Deus 2, o carisma de Selton Mello e Guilherme Briggs e o ótimo trabalho do Ed Gama e Estevam Nabote no Palco Creators são detalhes que não poderiam ficar de fora. Aliás, destaco a oportunidade das coletivas de imprensa. Poder ver o Junji Ito de pertinho foi MARAVILHOSO.

Coletiva de imprensa com Junji Ito. Imagem: Débora Carvalho

Para o consumidor, a experiência da organização das estandes também melhorou. Esse era um ponto que nem mesmo cheguei a comentar ano passado, então foi uma surpresa muito grata. Com exceção do Artist’s Valley, que ficou um pouco como setor de passagem (o que prejudica a venda dos produtos e tira um pouco o foco do setor), todos os outros estandes deixaram a experiência do evento mais fluida. O destaque aqui foi o Magic Market, que ganhou mais espaço e mais atrações no final da SP Expo – e foi ótimo: um cantinho reservado só pra curtir jogo de tabuleiro? Genial. Mais lojas e mais customização para parecer medieval? Lindo de ver. Além disso, a opção de lojas de alimentação do lado de fora do pavilhão da SP Expo foi ÓTIMA, tanto considerando o calor quanto a sensação de não estar em locais tão amontoados de gente.

Apesar da estrela do evento ser o Palco Thunder, achei muito bacana acompanhar os demais palcos, e o Palco Ultra para mim foi uma experiência singular. Sim, ficar sabendo das maiores novidades de produções midiáticas super populares em primeira mão é foda, mas o Palco Ultra tem muito potencial de criar debates nacionais, gerar conscientização e acolhimento. Palestras com foco em gênero ou em minorias têm ali uma grande chance de acontecer e influenciar não só o público, mas também parte da imprensa. De coração, acho que a CCXP poderia investir bastante nisso e se tornar um evento com responsabilidade social também. Foi lindo ver um palco se dedicar a ouvir mulheres falando sobre representatividade feminina, assim como também foi maravilhoso ver Padre Julio Lancelotti falando no Palco Omelete sobre pobrefobia.

A nossa realidade hoje é de muito consumidor do universo pop/geek/nerd que é acrítico e que acredita piamente que arte existe alheia à sociedade em que é criada. A CCXP pode ajudar muito a combater isso, tornando esse universo um pouco mais acolhedor e inclusivo.

Palestra “Furiosas! Mulheres que chutam bundas” no Palco Ultra. Imagem: Débora Carvalho

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Contras

Infelizmente o que há de pior no evento são os preços da alimentação. Para mim é inconcebível que eles sejam mais altos que preços exercidos em rodoviárias e aeroportos. Sim, a oferta e demanda ali é extremamente alta, mas isso não quer dizer que o evento precisa exercer esse nível de preços – ao mesmo tempo proibindo entrada de caixas de isopor, bolsas térmicas e garrafas de água grandes, por exemplo. Não é questão de, como é num aeroporto, ter mais gente disposta a pagar mais pela segurança de não precisar sair do aeroporto. É questão de só existirem aquelas opções. O evento tem movimentação intensa e os ingressos são caros, então é compreensível que o público sinta revolta com os preços praticados. Eu mesma paguei R$60,00 em uma refeição simples (um copo pequeno de macarronada e uma latinha de refrigerante) e sinceramente me senti lesada. Esse é de longe o ponto mais negativo da CCXP. Acho abusivo mesmo. Oriento todo mundo que conheço a não consumir alimentos e bebidas dentro do evento, porque vale mais a pena carregar peso que pagar esse preço. A longo prazo, só vejo prejuízo nesse sentido.

Outro ponto importante que a organização do evento pode considerar para os próximos anos é a mobilidade baixa nos dias mais movimentados da CCXP – agora imaginem o quão difícil é essa mobilidade para quem é cadeirante. Especialmente no sábado e domingo, o evento lota muito e fica bastante difícil se locomover. Talvez separar sentidos de caminhada ajudasse, como ocorre nas estações de metrô. Se é possível, não sei, mas pensar em algo assim ajudaria muito.

O Brasil teve ondas de calor este ano e elas talvez continuem nos próximos anos. A SP Expo tem um sistema de ventilação que consegue diminuir a sensação térmica de São Paulo, mas alguns ambientes careciam de mais atenção. Em especial o Magic Market, que chegou a ficar com um cheiro bem desagradável no final de semana (casou com o tema medieval, lol).

A segurança no evento ainda deixa a desejar. Ouvi de vários casos de furtos, em especial no Artist’s Valley. Como mencionei anteriormente, ter uma equipe de apoio maior auxilia nesse sentido, mas seria interessante que o evento tivesse um apoio de forças policiais, por exemplo. Ter que sair da CCXP só para fazer boletim de ocorrência não é legal e a internet dentro do pavilhão nem sempre colaborava para poder fazer BO online. A questão da vistoria na entrada do evento também poderia melhorar: só foi impecável no domingo, onde houve de fato averiguação de conteúdo de mochilas e bolsas e o uso de detectores de metal. Infelizmente é necessário. Com o crescimento dos tiroteios realizados por grupos reacionários no país (que aliás compõe boa parte dos consumidores de mídia nerd e geek), é de vital importância pensar em como evitar uma desgraça, não só dos consumidores, mas dos convidados, que podem ser mais facilmente considerados como alvos.

Em falar no Artist’s Valley, também acho imprescindível que a equipe responsável pela aprovação dos artistas faça um controle mais rígido para evitar que artes feitas por IA não sejam aceitas no evento, por questões éticas e em respeito aos artistas.

Um contra que não dá para deixar de comentar também é que a Florence Pugh foi atingida no rosto por uma criatura imbecil no Palco Omelete. O pior de qualquer fandom são sempre os fãs, claro. Tem gente com medo da atriz nunca mais voltar para o Brasil e também de nas próximas edições os atores não quererem proximidade nenhuma com a plateia. Talvez seja melhor mesmo, para garantir que a segurança deles não seja comprometida e que a imagem dos brasileiros não fique manchada. Mas um meio termo seria ótimo.

Por fim, vale mencionar que estou IMENSAMENTE agradecida pela CCXP ter deixado a música repetitiva do evento mais voltada para o lado de fora do SP Expo, mas algumas estandes dentro do evento ainda abusaram do play non-stop. Para quem está de passagem talvez não incomode tanto, mas pra qualquer um que fique por mais de 2 minutos próximo, a experiência é infernal. Rolou até arte disso, e deu muita dó de quem estava no Artist’s Valley mesmo:

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Dicas para as próximas vezes

Resumidamente, aqui deixamos as maiores dicas para quem quer aproveitar bem o evento.

Roupas geeks estilosas são um must-have para o evento, mas andar confortável é essencial. Levar remédios para dor e abusar das oportunidades para ficar sentado também ajuda muito. Eu extrapolei do meu tempo em pé/caminhando e fui embora com dores crônicas, então nas próximas vezes vou procurar não testar meus limites. Depois do evento sempre tem a caminhada para a casa/hotel. Você VAI sentir cansaço. Respeite seu corpo e evite doenças causadas por esgotamento, estresse ou imunidade baixa. E lembre-se: descansar não é improdutivo.

Tenha planejamento para controlar suas finanças durante os dias do evento. Procure evitar compras impulsivas e lembre-se que muitos itens continuam disponíveis nos estoques das lojas após o evento. É ótimo comprar sem preocupar com frete, mas é preciso considerar também que existe o trajeto até em casa – e ninguém quer estragar seus preciosos produtos.

Se você puder levar consumíveis, especialmente água, LEVE. A CCXP foi feita para gastar, tudo é um convite para seu suado dinheirinho sair voando da carteira, desde a abertura dos ingressos. Considerando que a CCXP acontece entre as 11h e 20h, procure fazer as maiores refeições do dia fora do evento.

Aproveite o aplicativo e os anúncios da CCXP para se programar bem e aproveitar o que há de melhor no evento. São muitas atrações e é impossível acompanhar todas. De novo, não se esqueça do tempo para descansar.

Use seu poder enquanto consumidor ou participante do evento e seja vocal. Todo mundo tem o direito de reclamar. Nem tudo se resume a críticas negativas, é claro, mas as sugestões existem com esse objetivo. É assim que todo mundo se aprimora e cresce. E a CCXP23 cresceu muito porque a Omelete soube ouvir todo mundo fica feliz. (:

Torço para que a CCXP24 seja ainda melhor!


Leia também nossa review e dicas do ano passado aqui no site!

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