E como o D&D lidou com essas histórias

Olá contadores de histórias,

Hoje nós vamos falar de assuntos complicados.

Quem joga RPG sabe que não há relação do jogo com violência, ocultismo ou qualquer coisa do gênero, mas nem todos sabem disso. Ainda hoje nos deparamos com as falsas informações; propagadas em jornais, revistas e vídeos;  e muitas dessas tem sua raiz no pânico satanista que aconteceu nos anos 80 nos EUA relacionado ao Dungeons & Dragons. Parece coisa de muito tempo, mas ainda acontece, só uma busca rápida do google e pronto. E hoje, depois de muito pensar sobre o assunto vim falar sobre isso.

O D&D nasce em 74 desenvolvido originalmente por pela TSR Inc. de Dave Anderson e Gary Gygax. E nos anos de 1980, não muito depois de seu surgimento, quando as crianças e adolescentes da época começaram a jogar os pais começaram a se perguntar o que era aquilo. E é claro, como todas as coisas que temos contato pela primeira vez, tudo parecia muito estranho. Muitas pessoas e personalidades importantes foram a público falar sobre os perigos e ‘coisas bizarras’  no livro e muitas vezes estavam equivocadas por um simples motivo: D&D e todos os outros RPGs são pura ficção e fantasia. 

Mas ainda não foi o suficiente, então Frank Mentzer (nome fodão do RPG desde aquela época e responsável pela icônica edição da Caixa Vermelha do D&D) foi convocado para lutar pelo seu direito de jogar!

Satanismo e RPG 5 Satanismo e RPG 6

Muito do trabalho dele consistia em falar publicamente, em rádios, revistas ou até mesmo atender o telefone de pais preocupados ou irritados sobre seus filhos jogarem RPG. E tudo o que ele fazia era explicar o jogo, dizer o que nós estamos cansados de saber, que é só um momento de criar histórias entre amigos, construir ficção juntos. E nada mais que isso. E Frank ainda disse:

Um dos equívocos mais comuns e que apareciam com muita frequência, por exemplo, era dizerem: “Você faz feitiços nesse jogo!” As pessoas fora do hobby estavam levando a ficção literalmente, e achando que as magias eram reais!

Quando a segunda edição do D&D saiu a editora retirou de seus livros os demônios, como uma amostra de simpatia para aqueles que achavam que isso mostrava que o jogo era ruim. Para ter um bom parâmetro o pai de Frank era um ministro e ele viu o trabalho do filho, leu o livro e viu que era um bom trabalho. E é o que realmente é: um bom livro sobre criar ficção, baseado em histórias comuns de fantasia medieval.

A TSR levava muito a sério o assunto e queria acabar com essa má impressão no final dos anos 80, mas enquanto eles tentavam explicar o que os pais não entendiam surgiram fortes campanhas falando mentiras sensacionalistas. Na época até uma história em quadrinhos chamada Dark Dungeons foi criada para mostrar como o D&D era satânico e trazer as pessoas para Jesus. E assim como no brasil por lá também tiveram casos sensacionalistas que foram associados ao RPG

Sim, as pessoas achavam que tudo o que estava no livro seria tomado como realidade.
Sim, as pessoas achavam que tudo o que estava no livro seria tomado como realidade.

Você pode imaginar como muito do que dizem de ruim tem seu início em coisas como o Dark Dungeons, nesse misto de falta de informação e de equívocos. Mas os pais ficam assustados quando veem seus filhos entrando em contato com isso, só porque não conhecem. E não é anormal terem esse medo, é uma resposta bem comum frente ao desconhecido. O trabalho de Frank e dos responsáveis da TSR na época continuou, falando publicamente, publicando romances baseados no D&D para mostrar que era tudo parte de livros de histórias épicas medievais e tentando cada vez mais deixar claro o que era o RPG. Era tudo o que poderiam fazer e fizeram, dedicando todos seus esforços a mostrar que não havia mal nisso. Frank dizia passar dias e horas no telefone só falando com pais e explicando, porque as vezes é tudo o que podemos fazer.

Muitas das pessoas querem trazer seus amigos para o RPG quando jogam, afinal eles querem se divertir juntos. Então alguém que já gosta de filmes e livros com histórias medievais, sobre cavalheiros que matam dragões e juntos salvam uma vila toda, podem se ver trocando uma baladinha por uma noite jogando D&D com os amigos. E não há mal nisso, é uma troca de hobbies. Pessoas criativas e que gostam de escrever também podem se ver querendo jogar RPG, já que o jogo envolve exatamente o exercício de criar histórias coletivamente.

RPG - Expectativa: Um épico grupo de aventureiros desbravando terras ermas. Realidade: Um bando de amigos sentados em uma mesa criando histórias.
RPG – Expectativa: Um épico grupo de aventureiros desbravando terras ermas. Realidade: Um bando de amigos sentados em uma mesa criando histórias.

Os personagens que aparecem nos RPGs nada mas são do que representações de personagens comuns em narrativas de ficção e fantasia. Os livros que tanto deixam as pessoas confusas, são apenas modos de dar exemplos de personagens e organizar regras para que a história tenha alguma estrutura para ser criada. Sabemos que palavras como mestre, teste, magias e etc, podem soar estranhas para muitos que tem contato pela primeira vez com isso. Mas elas nada mais são do que jargões que o jogo usa para se expressar, e nada disso tem lugar na realidade, ainda assim são só produtos para a criação de uma contação de histórias com seus amigos.

E assim como Frank nosso trabalho é tentar esclarecer e mostrar que, no fim do dia, tudo o que o RPG nos traz é a oportunidade de nos divertirmos e de criar histórias juntos. O mais puro exemplo de se divertir juntos.

E vocês, alguma história ou caso dessa época relacionado ao RPG? Conta aqui nos comentários!

Fonte: Geek and Soundry 

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