Sim, precisamos falar sobre a Catra.

ALERTA: esse post contém spoilers da terceira temporada de She-Ra e as Princesas do Poder.

Adora e Catra foi um dos primeiros shipps a sair do fandom do reboot de She-Ra quando a primeira temporada de She-Ra e as Princesas do Poder da Netflix foi lançada em 2018. Com base no primeiro episódio, foi um emparelhamento que fazia sentido. As duas personagens tinham uma química natural e uma história compartilhada; por que os fãs não abraçariam a ideia delas como um casal?

No entanto, a ideia de Adora e Catra formarem um relacionamento romântico se desfez diante de algo que só continua a se tornar mais claro a cada episódio da série: Catra é uma personagem tóxica.

Em todas as temporadas de She-Ra e as Princesas do Poder, Catra foi mostrada como alguém que só pensa em outras pessoas dependendo do que elas podem oferecer a ela. Quando Adora deixa a Horda para lutar ao lado da Aliança das Princesas, Catra leva tudo para o lado pessoal. Em sua mente, Adora não deixou apenas a Horda – ela deixou Catra para trás.

No começo, Catra tenta fazer Adora voltar. No entanto, no episódio da primeira temporada, “The Promise”, algo muda em Catra. Ela muda de alguém que queria que sua ex-amiga voltasse para alguém que a vê como um obstáculo a ser superado. Deste ponto em diante, ela não quer recuperar o que tinha com Adora. Em vez disso, Catra quer derrubá-la.

Esse desejo de “recuperar” a amiga e depois destruí-la, para acabar com a obsessão de sua mente, é uma evidência de quão nocivas são as atitudes de Catra em relação às outras pessoas.

E isso não é só com Adora. Depois que Entrapta é capturada pela Horda, Catra explora a boa natureza e ingenuidade da inventora somente para usar a tecnologia que ela pode fornecer na luta contra a Aliança das Princesas. Quando Entrapta começa a se conectar com Hordak (o líder da Horda), Catra começa a ficar ressentida com ela.

Teria sido fácil para os escritores da série seguirem o caminho da redenção com o desenvolvimento de Catra. Adora faz várias tentativas pra conseguir mudar o pensamento de Catra (notavelmente em “The Promise” e no episódio da terceira temporada, “Remember“). Por outro lado, Catra parecia inicialmente estar construindo uma espécie de família desajustada com outros membros da Horda, principalmente Scorpia e Entrapta, durante a 2ª temporada. Só que na terceira temporada, os escritores levaram Catra para a direção oposta.

Primeiro, seu ódio foi se tornando cada vez ainda mais intenso.

Na terceira temporada, Catra é presenteada com a oportunidade de deixar sua vida na Horda para trás. Ela é enviada por Hordak para o Crimson Waste, onde se supõe que ela vai morrer. Ao contrário desta expectativa, ela rapidamente assume o controle das gangues locais e se estabelece como líder por direito. Scorpia até aponta que ela parecia mais feliz do que nunca e questiona por que Catra desistiria disso.

A resposta é simples: vencer Adora é mais importante para Catra do que sua própria felicidade. Ela está tão obcecada em provar que está certa que vai até mesmo se machucar para atingir Adora.

No episódio “Moment of Truth”, ela decide abrir o portal, mesmo quando Entrapta avisa que isso significará o fim de tudo. Até agora, Entrapta parecia alheia ao custo potencial de seus experimentos científicos, mas até ela mostra que tem compreensão suficiente para saber quando parar.

Catra, por outro lado, faz tudo o que pode para abrir o portal. Ela não faz isso porque acha que seria uma ideia boa, ou porque ela é cega para as consequências de suas ações; ela faz isso porque, se não, Adora conseguiria “vencer”, e esse pensamento é mais inaceitável para ela do que a perspectiva do fim do mundo.

Segundo, Catra está disposta a ferir qualquer um para conseguir o que ela quer. Ela usa choque elétrico pra impedir Entrapta de avisar Hordak para não abrir o portal. Ela então passa a convencer Hordak que Entrapta, que se tornou sua única amiga, o abandonou – porque Catra acha que assim ela vai conseguir o que ela quer.

A última coisa a considerar é o que acontece com as pessoas ao redor da Catra, dependendo de como elas reagem à ela.

Quando Adora tenta alcançá-la, ela se vê rejeitada, e Catra só parece se ressentir ainda mais quando ela tenta – principalmente quando isso envolve o ciúme que ela tem da relação de Adora e Sombria. No final da terceira temporada, Catra tenta impedir que Adora conserte a realidade, chegando a ponto de culpar Adora pelo problema que ela mesma causou.

É só quando Adora aceita que não só ela não pode salvar Catra de si mesma, como também que ela não é responsável por fazer isso, que ela consegue salvar o dia. E Adora consegue isso porque ela reconhece que Catra é tóxica e ela enfim para de se culpar por isso.

Por outro lado, no início da terceira temporada, Entrapta convence Hordak a dar uma segunda chance a Catra, em vez de executá-la. No final da temporada, Catra agradece se voltando contra ela e manipulando Hordak contra ela. Ao contrário de Adora, Entrapta se coloca em perigo por causa de Catra porque acha que ela é sua amiga e, ao fazê-lo, sofre. Exatamente no caminho contrário de Adora, que conseguiu se libertar do relacionamento que tinha com Catra.

Ao longo das três temporadas de She-Ra e as Princesa do Poder, Catra mostrou-se não apenas egoísta, mas destrutiva em relação a si mesma e aos outros.

Ao optar por fazer os personagens que lhe dão uma segunda chance sofrerem, e por fazer os personagens que cortam relações com ela se sentirem livres, os escritores criaram uma história que diz que não é apenas bom cortar as pessoas tóxicas de sua vida, mas é o que você deveria fazer.

Tão importante quanto os arcos de redenção, às vezes é também importante a mensagem de saber quando deixar as pessoas que te ferem para trás.


Texto traduzido do TheMarySue. Imagens: Netflix

Compartilhe: