Confira a crítica de Cruella sem spoilers!

Continuando a trilha de produções de filmes live-action, chegamos na temível vilã dos anos 90: Cruella. Aliás, a história dela começa muito antes das produções da Disney, uma vez que foi baseada no livro escrito em 1956: “The Hundred and One Dalmatians” (Os 101 Dálmatas, em português).

Sendo assim, nessa nova produção, a Disney encarou o desafio de conseguir trazer uma aceitação aos dias atuais. Afinal, como reproduzir tanta crueldade considerada antiquada e inaceitável em 2021? Como fazer um público engolir maus-tratos aos animais depois de chorarem com a produção de Dumbo (2019)?

Por conta disso, a narrativa do novo filme de Cruella esteve em desenvolvimento desde 2013, encarando o maior desafio deles: a ética.

 Garotas Geeks
Filme Cruella / Reprodução: Disney+

Cruella – uma vilã para ser amada?

Com a direção de Craig Gillespie — que confessa não ter visto ‘101 dálmatas’ de 1996 — a trama mostra as origens de Cruella (Emma Stone), ou melhor, Estella. Nos primeiros minutos somos apresentados a uma garotinha que encarou uma infância complicada, rodeada de bullying e estranhamento da sociedade pelo seu cabelo biologicamente meio preto e meio branco (vamos lembrar que o filme se passa na Londres dos anos 1970).

Para completar a história triste, Estella fica órfã ainda na infância e passa a roubar pelas ruas de Londres para sobreviver com seus amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Trabalhando como faxineira em uma loja de roupas, a protagonista também passa por maus momentos com um chefe que a humilha por tentar mostrar seus talentos com moda. Difícil não se comover, né?

Quando finalmente ela consegue a oportunidade de ser notada pela Baronesa (Emma Thompson), uma estilista renomada, Estella novamente passa por momentos difíceis nas mãos dessa vilã, obcecada por poder, que também humilha seus funcionários. Vida difícil né? Isso ainda não é nem um terço da narrativa triste.

Cruella - Garotas Geeks - Estella
Estella / Reprodução: Disney+

Ou seja, a Disney apresenta uma história extremamente triste para o público se simpatizar pela humanização de Cruella. E sim, isso dá muito certo, ao longo da história fica impossível julgar a personagem pelas suas ações. Mas, será que realmente precisava disso? Há muitos vilões no cinema que são simplesmente maus, sem nenhum argumento, e ganham toda a atenção do público. Dessa vez, quando temos uma mulher no papel de vilã, temos uma narrativa toda construída em cima de justificativa.

Até que Cruella apareça com seus planos mirabolantes, a narrativa é construída para deixar a personagem agradável. Aliás, as principais maldades de Estella só existem no jornal, com a mídia supondo algo que ela não fez.

Um remake live-action diferente dos outros

No início do filme fica claro que essa é uma releitura dos filmes anteriores. Algumas referências aparecem, mas são sutis (como nas cenas pós-créditos). Diferente de live-actions anteriores, como Aladdin, O Rei Leão e A Bela e a Fera, diretores e roteiristas de Cruella tentam se distanciar de produções anteriores, com outros rumos. Isso foi uma boa jogada para acabar com as comparações do público e assim permitir que o filme não se prenda à sobra do seu antecessor.

Aliás, foi dessa forma que conseguiram retirar os maus-tratos aos animais sem acabar com as referências principais da personagem.

Cruella - Garotas Geeks - The future
Tradução: O futuro / Reprodução: Disney+

Mas, isso também pode ter sido um ponto que ocasionou uma construção fraca de alguns personagens. Como a amiga de infância de Estella, Anita, que é alusão à amiga dela em 101 Dálmatas. Nesse filme, apesar de sua presença constante, a história dela não é construída, sendo uma coadjuvante com poucas falas.

Fora as protagonistas, os únicos personagens que conseguem aparecer um pouco mais são os capangas de Cruella, que ao contrário do esperado, não são apenas capangas. Jasper e Horace possuem forte presença com personalidades próprias — fugindo do famoso clichê de que capangas só estão ali para serem os ajudantes toscos dos vilões. Aqui, eles são de fato a família de Cruella.

A produção do filme

Além disso, outro ponto de destaque do longa é sua trilha sonora. As escolhas foram certeiras para transparecer a alma rebelde da personagem com músicas que representam a época que a história se passa.

Em relação aos efeitos especiais, deixam a desejar? Em algumas cenas sim! Mas, confesso que esses efeitos não se tornaram toscos para mim, e sim lembraram algo mais “cartunesco”. Além de ajudar a deixar mais leve as cenas para o público infantil. Enquanto os jogos de câmera, ao mesmo tempo que foram clichês em alguns momentos, foram geniais em outros.

Cruella - Garotas Geeks - Figurinos
Figurinos Cruella / Reprodução: Disney+

Por fim, não precisa nem dizer que os figurinos são o destaque. A moda é o tema central do filme com roupas sendo exageradas e impactantes. Praticamente, Cruella insere a cultura punk na alta sociedade britânica e impressiona a todos.

Com uma narrativa não muito inovadora, mas sob uma nova ótica, Cruella entrega tudo que promete. Entrando na lista de melhores live-actions da Disney. Por mais que deixe a desejar a construção vilanesca da personagem principal, o filme desperta o interesse do começo ao fim com uma vilã que, para muitos, não merecia um novo filme.

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