Como a representatividade LBGTQ+ vem evoluindo dentro do universo K-Pop 

K-pop é um gênero musical que vem crescendo muito nos últimos anos e tem um papel importante no aumento da representatividade LGBTQ+, especialmente dentro da Coreia do Sul, um país extremamente conservador.

O surgimento do K-Pop e sua popularidade

A Coreia do Sul tinha saído de uma ditadura há pouco tempo e os ideais de forte nacionalismo se refletiam até na música. Tinha uma bem famosa que chamava “Ah! Republic of Korea”, que basicamente era um hino patriótico em forma de música pop, encomendada pelo ditador Park Chung Hee.

Como toda ditadura, a mídia era controlada pelo governo, de modo que, para fazer sucesso, a música tinha que estar de acordo com os gostos dos governantes. Por isso, a cultura parou de evoluir, de progredir. Por isso, em 1992, quando o grupo Seo Taiji&Boys apareceu em um programa de música na televisão foi o momento crucial para o desenvolvimento do K-pop (e da Coreia do Sul em si) porque foi o instante em que ficou demonstrado para todos que a cultura ainda podia evoluir. O estilo trouxe roupas diferentes, músicas diferentes, coreografias diferentes… as pessoas podiam ousar mais.

O grupo até lançou uma música que bombou muito, chamada “Come Back Home”, onde falavam sobre o sentimento de raiva e angústia que sentiam sobre a sociedade coreana da época e a vontade que as pessoas tinham de ir embora. Estranhamente essa música não foi censurada pelo governo, embora outra do mesmo álbum tenha sido.

A economia do país foi crescendo junto com a carreira do grupo e, quando eles se aposentaram, o legado do K-Pop era tão grande – antes mesmo do nome do estilo musical existir – que outros grupos começaram a surgir.

O estilo acabou viralizando no mundo com a música Gangnam Style”, de PSY, que foi o primeiro clipe da história do YouTube que alcançou um bilhão de visualizações. E, em 2017, surgiu um dos maiores nomes do estilo, o grupo BTS.

K-pop como ferramenta de representatividade

Como o estilo musical foi um grande aliado na luta contra a ditadura – como foi aqui no Brasil a MPB – ele também tem sido uma ferramenta importante para a abertura da representatividade LGBTQ+.

A gente sabe que a Coreia do Sul é um país altamente conservador, mesmo após tanto desenvolvimento. O ator Hong Seok-cheon foi um dos primeiros artistas sul-coreanos que expôs bravamente sua homossexualidade ao público no início dos anos 2000 e, infelizmente, o ato acabou custando sua carreira.

A dança também foi uma grande aliada do K-Pop para trazer este tipo de assunto à tona porque sempre houve uma grande atribuição da tarefa a algo mais feminino e sempre ligado àquela ideia de que a mulher deve ser delicada e sensual, especialmente em uma sociedade tão machista. O estilo musical sempre quis trazer a ideia de que a dança é democrática para todos os gêneros e sexualidades.

Num momento mais atual, Holland foi o primeiro cantor de K-Pop assumidamente LGBTQ+ e que abordou isso em suas músicas. Inclusive, seu debut (termo usado no universo musical para indicar a estreia de um grupo) “Neverland” fala abertamente sobre a sua sexualidade e a vontade que ele tinha de poder ir para um lugar onde pudesse ser livre. Foi um momento marcante, inclusive porque o clipe demonstra abertamente o amor entre dois garotos, com um beijo lindíssimo.

Aliás, recentemente Holland lançou uma música chamada Narc__C” (leia-se, narcisismo), baseando em sua própria experiência: mostra um casal gay e fala sobre amor próprio. Afinal, muitas pessoas que se identificam com a sexualidade diversa da heterossexual sofrem muito com a auto-aceitação, por conta dos preconceitos que existem dentro da sociedade.

O grupo BTS tem contribuído bastante para o aumento desta representatividade, considerando que possuem um grande número de fãs no mundo todo.

No ano passado, o grupo se dirigiu à Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York como embaixadores da boa-vontade dizendo que as pessoas deviam falar por si mesmas, e que “não importa quem você é, de onde você é, sua cor de pele, sua identidade de gênero”.

K-pop representatividade LGBTQ+
Imagem via K-Pop Herald

Pode parecer um gesto pequeno, mas foi muito importante, especialmente dentro do universo sul-coreano. O apoio de expoentes musicais e culturais tem uma importância imensa porque a progressão dos direitos LGBTQ+ se deu especialmente através da cultura.

Além destes, podemos citar ainda  Jeon Ji-yoon, mais conhecida como Jenyer, que recentemente lançou um clipe para seu novo single Illusion, apresentando um número de drag queens locais.

É muito importante ressaltar o trabalho dela porque sabemos que dentro do universo LGBTQ+os gays possuem muito mais visibilidade que lésbicas, bissexuais, transsexuais e os demais tipos de sexualidade.

E o progresso?

Existe um evento de orgulho LGBTQ+ em Seul, oficialmente conhecido como SQCF e, este ano, foi um dos mais bem sucedidos, atraindo quase 150 mil participantes.

Ao contrário da cultura pop, o progresso na política tem sido mais lento (assim como nos demais países ao redor do mundo, inclusive no Brasil).

O que podemos esperar é que a mudança cultural possa trazer reflexos positivos no universo político, já que ela retrata de forma muito mais fiel e atual a sociedade em que vivemos.

Curtiu? Então leia mais sobre K-Pop aqui 🙂

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