Pra quem gosta de ler sobre histórias de superação.

O texto a seguir é uma tradução de um relato pessoal de autoria de Lindsay Romain para o site Nerdist. Buscamos reproduzir o texto da maneira mais fiel possível, mantendo inclusive a sua pessoalidade.

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Minha mãe era muitas coisas. Uma filha amada. Uma amiga dedicada. Uma amante de gatos. Uma pessoa incrível, sensível, carinhosa, criativa e perfeitamente imperfeita, que eu amava com cada fibra da minha alma. E então, em um instante, ela se foi. Cruelmente arrancada desse mundo, da minha vida, e do futuro que merecia. Eu estaria mentindo se dissesse que lidei graciosamente com a sua morte. Eu sou incapaz de olhar o lado positivo. Eu passei os 20 anos desde a sua morte em um estado alternativo de mania, perigoso e sem a base do seu amor.

Nesse ano, o vigésimo aniversário de sua morte caiu no dia 4 de maio. Uma data cruel para mim, uma fã de Star Wars, que o dia representa as coisas que mais odeio quando quero ficar triste e raivosa: união, otimismo, comunidade, esperança. Eu sempre tive uma inclinação por ficar triste e deprimida em aniversários de morte. Me deixar mergulhar profundamente na minha dor, porque eu posso, pelo menos nesse momento, no dia mais triste do meu ano. Um dia que me lembra apenas de sua ausência. Eu não quero comemorar um universo fictício e lucrativo com hashtags falsas e ostentação de produtos. Eu quero chorar e reclamar de um mundo que continua seguindo em frente sem a única pessoa que eu gostaria que estivesse nele.

Mas estranhamente nesse ano, eu não me senti tão inclinada a ficar para baixo. Porque eu tenho de ser honesta: eu usei a morte da minha mãe como uma desculpa para não viver direito por muito tempo, em todas as datas, e não apenas em um marco. Eu tenho me sentado calcificada nas ruínas da perda dela. Eu romantizei a depressão que foi deixada em sua despedida. Isso transbordou de mim e manchou meu humor de forma caótica e as vezes sem qualquer fundamento. Eu deixei isso me colocar de lado e me isolar ao ponto de viver uma vida esquelética; uma que repousa sobre louros, mas nada além disso. Meus relacionamentos sofreram e levaram minha saúde mental junto. É solitário ser obcecada com sua própria solidão.

Lembre de Star Wars. Eu sempre usei filmes, televisão e cultura pop para me ajudar a viver, mas eu nunca fui muito fã de Star Wars. Eu tinha brinquedos quando era criança, eu assisti aos filmes, eu construí pacotes de Lego com amigos e assisti às prequels no cinema. Mas nunca pareceu algo realmente meu. E ainda assim, por algum motivo, notícias da nova trilogia me fizeram sentir algo bom. Eu estava vivendo sozinha em Chicago, desesperada para construir minha vida como escritora, tentando tirar significado literalmente do nada. E aquela primeira foto de elenco me empolgou. Eu não conseguia explicar o porque desse fandom que nunca significou muito para mim ter subitamente se tornado algo empolgante. Era preternatural; como se a Força estivesse me chamando.

O que eu não sabia quando vi pela primeira vez aquela foto, é que Star Wars estava prestes a mudar a minha vida. Eu segui cada atualização sobre o primeiro filme, O Despertar da Força, com uma alegre obsessão. Eu me lembro de forma tão clara da transmissão do painel comemorativo de Star Wars para o filme sendo desenvolvido, rangendo os dentes em antecipação. Eu lembro de ter visto ao painel da Comic-Con em um periscópio trêmulo, da minha cama, me levantando para dançar quando o concerto de John Williams foi anunciado. Eu não era ainda uma parte disso tudo, mas eu estava na expectativa. E me senti atraída por razões que ainda não consigo explicar.

Então O Despertar da Força finalmente foi lançado. E a experiência mudou naquele momento: de algo que parecia divertido e interessante para algo que mudaria tudo.

Em poucos segundos de contato com Rey eu senti uma combustão. Eu me reconheci naquela garota, que também era comprometida com a sua solidão como se isso a tornasse especial.

Feliz por contar os dias sem quaisquer planos de ação. Seu apartamento decorado com talismãs de sua infância, assim como o meu lotado de lembranças da vida da minha mãe que a mantinham viva em mim. Seu leitmotiv (tema melódico) que a seguia como uma sombra das estrelas, soletrava solidão em sinos e cordas. Ela se tornou imediatamente tão querida para mim, mesmo que em poucos minutos de tela.

Assim como a vida de Rey tomou caminhos inesperados rapidamente – na maior parte por ações dos outros que a jogaram em uma névoa do destino – minha vida também mudaria rapidamente. Após conseguir alguns trabalhos freelancer de alto-padrão, eu subitamente fui jogada na vida que tanto fantasiei sobre: uma com estrelas de cinema e glamour, cheia de inspirações criativas. Eu escrevi, assisti e fiz tanta coisa. E Star Wars era constantemente minha âncora. Meu amor por essa nova série trouxe um amor por todo o universo. Eu consumi todos os tipos de mídia, reassisti as obras originais e prequels tantas vezes que agora estão enraizadas em mim, devorei a série animada de Dave Filoni, as novels canon e os quadrinhos. Esse conhecimento me fez trabalhar e também me fez sentir realizada de formas inesperadas. Isso me deu a carreira que sempre sonhei.

Ser uma fã profissional de Star Wars tem vantagens e desvantagens. É um fandom intenso, e um que pode entrar na sua cabeça. Mas esses pequenos momentos sombrios valem a pena se for pensar em todas as coisas boas que Star Wars trouxe para a minha vida: descoberta, comunidade, família. Eu encontro coisas novas para amar a cada vez que assisto. Eu encontrei um filme favorito em Os Últimos Jedi, que desafio o ego de Rey, e também o meu: crianças (aparentemente) órfãs grudadas em sua auto importância em vez de construindo um futuro para si mesmas.

Neste 4 de maio, eu honrarei Star Wars. Utilizarei todas as hashtags bobas. Eu vou comprar os brinquedos. E vou agradecer a essa franquia que me deu tanto. Tantos amigos, tantas lembranças, tanto conforto em tempos difíceis.

E vou continuar deixando que me desafie a fazer o que a Rey eventualmente acaba fazendo: deixar seu passado para trás, se conectar ao universo e seguir corajosamente em direção ao futuro.

Eu não sei se minha mãe era uma fã de Star Wars. Nunca falamos sobre isso. Mas de vez em quando, quando me sinto emotiva e espiritual, eu me pergunto se ela se manifestou para mim na forma da nova trilogia, nem de que forma pequena. Para me mostrar as lentes pelas quais eu me via e me dar uma comunidade para me curar quando eu mais sentia a sua falta. Vinte anos é muito tempo para sentir falta de alguém, mas é tempo suficiente para finalmente começar a fazer mudanças.

Obrigada por tudo, mama. A Força está comigo, eu prometo.


Texto traduzido da Nerdist. Crédito de imagens: Lucasfilm

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