O racismo sempre aparece no mundo geek com anúncios de elenco composto por pessoas pretas e isso é exaustivo.

Alguns dias atrás, foi anunciado o trio principal da próxima série de Percy Jackson no Disney+, que incluía Leah Sava Jeffries (Empire) como Annabeth. Logo após esse anúncio, também soubemos que Ncuti Gatwa (Sex Education) seria o 14º Doutor em Doctor Who.

Estamos envolvidas em espaços de fandom há décadas, e tivemos duas reações: “FINALMENTE!” seguidas de “não damos nem cinco minutos para surgirem racistas criticando as escolhas de elenco”.

Apesar dos comentários horríveis que são lançados contra os negros no espaço geek, há algo a ser dito sobre comentários que tentam ao máximo NÃO soar como racismo. Como eles dizem: não é sobre a cor da pele, é sobre a precisão do personagem de acordo com o material de origem – que, normalmente, é um livro.

O interessante é que isso nem sempre é válido na situação inversa. Se uma pessoa branca é escalada para um papel que, nos livros, deveria ser de um personagem preto ou pardo, logo dizem que “eles escolheram a melhor pessoa para o trabalho”. Isso também acontece com elencos em que alguém escala um ator de pele mais clara para um personagem de pele mais escura.

Mas se a melhor pessoa foi escolhida para o trabalho, por que a mesma lógica não é aplicada quando, neste caso, dois atores negros estão conseguindo o papel? As pessoas sempre falam sobre como o elenco deve ser escolhido baseando-se apenas em quem é a melhor pessoa para o trabalho, e certamente parece que é o caso de Ncuti Gatwa. Afinal, ele é um ator premiado que é conhecido por sua personalidade dinâmica e energia. A representatividade é, sem dúvida, incrível, e podemos dizer que ele é muito merecedor desse tipo de oportunidade.

Inclusive, o roteirista Russell T. Davies, concorda:

“Ele tem talento. Foi a audição mais brilhante. Foi nossa última audição. Foi o nosso último. Pensávamos que tínhamos escolhido alguém e ele veio simplesmente conquistou a vaga. Genuinamente. Assisti Sex Education, adorei o trabalho dele. Estou devidamente, corretamente, emocionado. Será um futuro brilhante.

E, no entanto, estamos aqui redigindo esta matéria sobre a reação previsível que sempre acontece. Aparentemente, o critério “melhor pessoa para o trabalho” só se aplica a um certo tipo de ator (branco!), e mesmo que o personagem seja capaz de mudar sua aparência para se parecer com qualquer um.

racismo

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Na maioria dos casos, sempre que um ator negro consegue um papel que o fandom considerou branco, acusações de “contratação visando apenas a diversidade” circulam por aí.

Quando as pessoas pretas abordam questões como racismo, sempre são retratadas como aquelas que precisam “acalmar”. Enquanto isso, Leah Sava Jeffries, uma criança, está sendo assediada na internet porque ela está em uma série do Disney+. Porque “não é assim no livro”.

Mas… Rick Riordan QUER que ela interprete Annabeth.

A declaração de Riordan é traz alguns pontos relevantes, e entre eles traz os “fãs” para a realidade, dizendo que a escolha foi dele, baseada única e exclusivamente no fato de que estava procurando os melhores atores para dar vida aos personagens, e que a aparência física era secundária.

E agora? Qual é a justificativa? Racismo.

Esperar uma reação negativa é um problema?

Estamos bastante familiarizadas com o esforço das pessoas para tentar justificar a toxicidade que lançam em atores negros que foram escolhidos para interpretar esses tipos de personagens. E, especialmente, com o fato de que fãs e atores negros têm que silenciar suas postagens e fazer pausas nas mídias sociais, têm que “ser fortes” porque eles já sabem que alguém vai ter algo depreciativo a dizer.

Isso em si é um problema.

Não dá para descrever como é saber que sua mera presença em um espaço vai gerar uma resposta negativa de alguém, e não de uma maneira “o trabalho dessa pessoa não é bom”, mas de uma forma “eu não gosto de pessoas negras”. Ter que equilibrar a comemoração de ver pessoas pretas tendo seus trabalhos reconhecidos e alcançando espaços que nunca antes conseguiram com “não olhe os comentários” é muito desanimador.

Algo sobre as situações de Jeffries e Gatwa realmente chatearam. Como os anúncios foram em datas próximas, a discussão piorou muito na internet. E mesmo que em ambos os casos eles tenham o total apoio dos criadores, isso ainda não é suficiente para impedir que as pessoas tentem expulsar uma jovem negra das redes sociais.

O papel de Riordan foi essencial ao se posicionar. No entanto, ele não deveria TER que dizer às pessoas para não assediar uma criança. Nós não deveríamos ter que ver pessoas negras que gostam de Doctor Who desviando dos comentários. Jeffries e Gatwa não deveriam se sentir contratados para preencher algum tipo de cota de diversidade. Ninguém deveria ter que lidar com racismo.

Os elogios e escolhas dos criadores deveriam ser suficientes, mas sabemos que, para alguns, nunca será.


Texto traduzido e adaptado de The Mary Sue.

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