Pra ontem!

Conforme a representação feminina nas telonas se torna crescentemente complexa e multifacetada, isso também vai acontecendo com os homens pelos quais elas se apaixonam – e isso é ótimo. Podemos criar uma categoria específica para esse tipo ainda raro de personagem – ou de dinâmica de casal – na cultura pop que ainda não tem um nome exato. A melhor definição por enquanto seria algo do tipo “Cara que gosta de uma Mulher Forte™️, mas não age de forma estranha por causa disso”. Eles não são protagonistas. Um filme sobre esses caras talvez fosse tedioso. Eles apenas estão ali para ajudar. Eles oferecem apoio. Eles são fortes de outra maneira. Existe uma certa vibe tranquilona que eles compartilham.

Mas a pergunta que não quer calar é: por que ainda vemos tão poucos exemplos do tipo?

Eu acho que todas somos levadas a acreditar, por meio das “regras” do meio que consumimos, que protagonistas femininas fortes/independentes/duronas/complexas ou “Não Precisam de um Homem”, ou precisam de um parceiro de treinos como o seu interesse romântico – alguém que provavelmente se sinta intimidado pela moça. Alguém que seja igual a ela de todas as formas e que não deixe a balança pender na direção dela. Um rival.

Por que eu tenho essa sensação de que isso começou com conteúdos problemáticos e machistas ao estilo de “A Megera Domada”? Acho que é só um palpite. Até mesmo Orgulho e Preconceito, que é uma obra que amo, é praticamente sobre Elizabeth provando a si mesma que é uma oponente digna. O Sr. Darcy não é basicamente uma versão estranha e nerd de Petruchio, por um certo ponto de vista? As coisas não precisam ser assim, e é isso que me fascina sobre esses personagens quando os encontro.

Os primeiros dois que notei foram Daniel Sousa, em Agente Carter, e Gendry Baratheon, em Game of Thrones – particularmente nas primeiras temporadas. Além de serem dois dos meus personagens preferidos, existe algo de muito similar entre os dois que eu não conseguia apontar. O que havia nestes personagens que eu achava tão interessante? Eles não são os mais legais da história. Eles são espertos, mas não exatamente brilhantes. Eles são engraçados, mas nem tanto assim. Eles são apenas bons. Alguém do tipo que você gostaria de ter em sua equipe. Gente como a gente.

Mas o mais importante é que eles não se sentem intimidados por Peggy Carter ou por Arya Stark. Eles não sentem uma necessidade de competir. É possível, gente. É real. Alguém já te disse que você intimida os homens e que está solteira por causa disso? Ao que parece, você não precisa se diminuir para conseguir encontrar o amor.

Peeta, em Jogos Vorazes, é um pouco mais central para a história, mas é outro exemplo de personagem do tipo. Seu superpoder é seu doutorado honorário, concedido a ele por mim, em estudos de mídia e comunicação. Ele não é um lutador. Ele não olha torto quando Katniss toma a liderança em batalha. E ele é muito bom fazendo pão e pintando. (Vocês não acham que ele teria um ótimo Instagram?) De qualquer forma, a masculinidade tóxica poderia aprender muito com Peeta.

Faramir, em O Senhor dos Anéis, também conta, apesar de ser necessário explorar algumas fanfics para encontrar como ele se manifesta em seu relacionamento com Éowyn. Não temos muito nos livros e temos menos ainda nos filmes.

A forma como Finn, na trilogia mais recente de Star Wars se apaixona instantaneamente por todas as pessoas que conhece, homem ou mulher, e está sempre pronto a ajudá-los com aquilo que precisam também é um ótimo exemplo… Se Star Wars o deixasse beijar alguém, qualquer um, teria sido ótimo.

Eu me perguntava se Steve Trevor seria ou não um desses homens até o lançamento de Mulher Maravilha 1984. No primeiro filme, o relacionamento de Steve e Diana era um pouco… condescendente por vezes. Com um pouco de esforço, dá pra entender, que naquelas circunstâncias – Diana estava aprendendo sobre a humanidade no meio de uma guerra, o que é um pouco inoportuno – e não necessariamente havia uma questão de gênero, mas ainda é bem irritante alguém ficar o tempo todo tentando te corrigir na base do “bom, na verdade…”.

Mas temos pelo menos um bom exemplo do que estou falando no primeiro filme. Quando Steve chega pela primeira vez em Themyscira e vê as Amazonas defendendo a sua ilha dos soldados alemães, ele vê um movimento envolvendo escudos que vem a repetir no fronte Ocidental, ao lado de Diana. É uma forma de apoio. É útil. E então na sequência, a versão magicamente reencarnada e trocada de corpo de Steve entra no modo “Totalmente não Estranho com Relação a Isso”.

Quanto aos outros interesses românticos das Mulheres Fortes™️ do passado, Fox Mulder e Han Solo são protagonistas demais para se encaixarem no padrão. Além disso, o seu relacionamento com as Mulheres Fortes™️ também era baseado em discussões e disputas verbais. Jaime Lannister até chegou perto da descrição, em algum momento, mas ele também era muito “protagonistinha” e certamente um tanto estranho com relação a várias coisas.

E é claro, temos vários e vários personagens que falham complemente no teste, como Xander Harris em Buffy: A Caça-Vampiros, e Ron Weasley, em Harry Potter. E talvez eles sejam exemplos de que não precisamos acabar com esse tipo de personagem. Às vezes precisamos de discussões. E existe algum valor nesse tipo de flerte em histórias românticas, especialmente quando esses homens aprendem e crescem, para se tornarem parceiros das mulheres que amam, em vez de apenas rivais.

Na última temporada de Agents of S.H.I.E.L.D., Sousa oferece uma boa definição: “Você foca no bem maior, ainda que a custa de si mesma”, ele diz para Daisy, descrevendo não só a ela, mas basicamente a Peggy Carter.

Você quer que as pessoas pensem que você gosta de ficar sozinha, mesmo que sempre acabe ao lado dos seus amigos. Você odeia perder. Você continua correndo em direção ao problema, até que consiga resolvê-lo ou que meta a sua cabeça em uma parede de tijolos. Quando pessoas como você correm em direção a essas paredes, vocês deveriam ter alguém ali para ajudá-las a se levantar de novo.

E é basicamente isso. Ele gosta de ser essa pessoa para as mulheres que ama. Isso não é resgatar. Não é ensinar. É ajudar. É dar apoio para que alguém possa se levantar. E eles fazem isso parecer fácil, exatamente como deveria ser.


Fonte: TheMarySue

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