Por que procuramos romances adolescentes e nos sentimos tão bem quando os assistimos?

Quantas vezes você já correu para assistir romances adolescentes quando estava para baixo ou simplesmente para passar o tempo?

Por que gostamos tanto dos romances adolescentes? Porque eles costumam representar o amor romântico idealizado que nos é mostrado como nosso propósito maior de vida, como se nós nos sentíssemos completos somente depois de encontrar o parceiro ideal.

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O conceito do amor romântico

Esse conceito de amor romântico não é recente: ele já aparecia, mesmo que de forma mais crua, nos textos de Platão na Grécia Antiga, Japão Feudal, Império Romano e assim por diante. As obras shakesperianas como Romeu e Julieta e Tristão e Isolda são grandes exemplos de narrativas que exaltam este conceito.

Jean Jacques Rosseau foi um dos maiores responsáveis pela consolidação desses ideais, pois acreditava que o amor de um casal – que, na época, devia ser necessariamente formalizado através da instituição do casamento, que sempre revelou seu propósito financeiro – era a única forma de reduzir o comportamento egoísta do ser humano para que ele agisse em prol do bem comum. Essa proposta de relação amorosa reuniu os conceitos de felicidade, amor e sexo numa só instituição.

A propagação desse pensamento se deu através do cinema, nos anos 1940, com os icônicos filmes E O Vento Levou Casablancaentre outros, levando à ideia de que o amor romântico é o que nos completa.

Como isso é traduzido pelos romances adolescentes?

É cada vez mais comum a representação deste amor romântico nos filmes adolescentes. Os filmes costumam trazer a mensagem de que o final feliz vem com o relacionamento – e que antes dele, ainda que se fosse feliz, nunca seria completo.

Também costumamos ver casais fazendo grandes loucuras de amor, agindo de forma exageradamente romântica em várias oportunidades, especialmente depois da clássica situação de chateação, como gesto de desculpas e que, magicamente, faz deixar para trás toda a mágoa.

Como esta ideia é imposta como padrão, ao assistir aos filmes, nos sentimos felizes, completos e realizados pelo personagem, o que nos faz desejar este tipo de amor avassalador em nossas vidas.

Romances adolescentes

E qual é o problema disso?

Este tipo de ideia cria frustrações em nossos relacionamentos reais. Não é dizer que não se pode ser gentil, fazer loucuras de amor ou se desculpar, mas este tipo de pensamento é reforçado o tempo todo e tido como referência para as nossas relações, trazendo consigo padrões inalcançáveis, como o de que o parceiro nos deixa loucamente apaixonados e felizes o tempo todo.

Com isso, além de jogarmos toda a responsabilidade de nossa felicidade no colo de outra pessoa, acabamos nos cobrando para buscar alguém que nos faça sentir assim – e se não faz, nos sentimos frustrados, fracassados, e mais uma vez, culpamos o parceiro, porque achamos que aquele não é o amor verdadeiro e que o relacionamento é disfuncional.

A psicanalista e escritora especializada em relacionamentos, Regina Navarro Lins,  em entrevista ao Jornal Nexo traduziu bem os efeitos disso:

O condicionamento cultural é muito forte. Chegamos à idade adulta sem saber se nossos desejos são nossos ou se aprendemos a desejá-los. Mas estamos vivendo um modelo [o amor romântico idealizado] que não dá conta da realidade contemporânea, que não dá mais respostas satisfatórias.

Não se diz que não se pode produzir ou gostar deste tipo de filme (até porque particularmente é meu gênero favorito), mas apreciá-los com a consciência de que não retratam o amor real.

Também não significa que você não encontrará parceiros românticos daqueles que te levam café na cama diariamente, porque estas pessoas existem, mas sim que está tudo bem se a pessoa não tiver este tipo de atitude, e que pequenos desentendimentos corriqueiros acontecem, porque o que realmente não existe é o “felizes para sempre”. A felicidade não depende única e exclusivamente de sua vida amorosa!

É claro que não podemos também aceitar migalhas ou parceiros que não dispensem o respeito e o carinho que merecemos – amor próprio é essencial. Mas é importante ter cuidado para não trazer este padrão inalcançável e irreal para sua vida e culpar-se (ou o parceiro) por não ser assim.

Relacionamentos são complexos, como tudo o que envolve seres humanos, e está tudo bem se não coincidir com este padrão, desde que seja saudável e com aspectos muito mais profundos do que o amor apaixonado, como respeito, companheirismo e incentivo mútuo ao crescimento dentro e fora da relação.

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Curtiu? Leia aqui sobre como “Um Lugar Chamado Notting Hill” é um perfeito exemplo do problema com comédias românticas. 

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