Existiu uma época em que o nosso “eu virtual” era muito mais legal que o nosso “eu real”. Isso rolou lá nos gold times dos anos 2000, com o ICQ e a net discada de 56k. Todo mundo era mais descolado no Fotolog e com o seu nick cheio de símbolos “» ¤ ®” copiados e colados do word 98.
Ao longo dos anos, parece que a quantidade de chatos aumentou e MUITO na internet. Mas de onde sai tanta gente chata desse jeito, MELDELS?
Os chatos pós-modernos e a internet:
Gente chata existe em todo lugar, a diferença é que na internet elas tem mais liberdade, porque sabem que a gente não vai enfiar a mão na cara delas revidar e armar um barraco, como acontece em filas de bancos, reuniões e restaurantes.
A internet possibilitou a geração dos chatos pós-modernos, aqueles que utilizam a maioria das situações e assuntos para expressar a sua chatice sem fim. Exemplo disso é a maioria do conteúdo do Twitter e Facebook ser sobre reclamações do cotidiano. Mas até aí tudo bem, a gente releva, afinal, atire a primeira pedra aquele que nunca usou o Twitter ou o Facebook para desabafar sobre como a vida foi injusta com você e como você teve um dia de merda.
Mas os chatos pós-modernos vão além dessas reclamações do cotidiano. Eles escolhem um assunto ou área específica e se deliciam colocando todos os defeitos possíveis que conseguirem encontrar. A frase “Não gostou? Faz melhor!11ONZE” não funciona com essa galera.
A internet nos deixa mais críticos, portanto, mais chatos?
O world wide web é um lugar fantástico, cheio de conteúdo, informação, comunicação e vem deixando nossa vida mais interessante desde o seu nascimento. A verdade é que a Revolução Digital transformou profundamente a forma como nós nos relacionamos com o o resto do mundo. Com a Internet, nasceu o Protocolo Digital: uma ética/estética/lógica que saiu do mundo online para offline (e está interferindo em nossos hábitos e relações desde então).
É como sair da caverna: hoje nós temos tudo ali, logo a mão, qualquer coisa sobre qualquer assunto está disponível na internet. Agora vem o problema da chatice pós-moderna: ao invés de agregarmos conhecimento, muitas vezes acabamos nos autodenominando ~especialistas~ em algum assunto, e a partir daí as críticas começam. O game X que não ficou com os gráficos tão perfeitos quanto deveria ou a adaptação do livro Y para a TV não ficou totalmente fiel à obra do autor. É como se colocar defeito nas coisas nos fizesse melhores do que a “massa” da internet.
Isso é e não é verdade. É visível que nos últimos anos o público da internet tem se tornado muito mais crítico do que há 10 anos atrás. Para se ter uma ideia da imensa quantidade de informações que atualmente temos à disposição, uma pesquisa realizada pela Global Information Center da Universidade de San Diego, nos EUA, aponta que em 2008 cada americano consumiu cerca de 34 GB de informação por dia, o que equivale a assistir a 68 longa-metragens com definição de uma televisão comum ou ler 34 mil livros de cerca de 200 páginas num período de apenas 24 horas. É CONTEÚDO BAGARAI, MERMÃO!
Nicholas Carr, escritor e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, diz que a internet está nos deixando mais burros. Eu diria que a internet está nos deixando mais impacientes.
A questão é: o que você critica, realmente precisa ser criticado?
Twittar reclamando do ônibus lotado, da fila do banco ou de como você acordou de mau humor, é algo completamente normal e humano. O problema começa quando você passa a utilizar a maioria das situações e assuntos da internet para destilar a sua chatice, ignorando todo e qualquer sinal de ironia ou diversão que ele apresente. A chatice em sua versão crítica é muito bem vinda, mas com moderação. (assim como já explicamos aqui no Garotas Geeks, no conhecido post “Quando o problema não são os outros, é você!”)
Nerd que é nerd gosta de criticar, a gente sabe disso, porque na maioria das vezes, ele entende e MUITO sobre o assunto que está sendo discutido. E isso é ótimo, e os fóruns estão vivões por aê para provar que as intermináveis discussões tem seus fundamentos e suas utilidades.
A internet nos ensinou muita coisa, mas também nos emburreceu um pouco. O world wide web anda chato demais, com pessoas que tendem cada vez mais a ser polêmicas com assuntos desnecessários.
Por uma internet com menos rage e mais amor, por favor.
Jornalista, pedreira, uma das fundadoras do Garotas Geeks e desbravadora de indie games. Muda a cor do cabelo 1 vez por mês, é a encarnação humana do Snorlax e faz cospobre de Pikachu nas horas vagas. Me encontre em qualquer lugar com o @tammynhoca :)
