Por que o contrário não acontece?

GirlGamer Esports Festival é o primeiro campeonato oficial de e-sports para celebrar e valorizar as mulheres dentro do universo dos games.

O festival todos os anos acontece em diversos países. Foi anunciado que o evento ocorreria no Brasil pela primeira vez, entre os dias 5 e 6 de outubro, sob a administração da BBL e-SPORTS. A iniciativa é bem louvável e importante, já que o universo gamerainda é um espaço que corta muito a voz das mulheres. Contudo, a equipe feminina Athena’s e-Sports narrou uma situação decepcionante e absolutamente insensata.

O festival exige que as equipes femininas utilizem o Plays.tvum software específico para comprovar a identidade de quem está jogando, o que não é exigido para as equipes masculinas em festivais similares.

Ao questionar a motivação, uma das administradoras da BBL e-SPORTS disparou:

“Sobre o uso do plays.tv, é exatamente para ter certeza de que são mulheres e não homens jogando”

“Homens não precisam usar o plays.tv porque não colocam mulheres para jogar no lugar deles”

O comentário foi rapidamente editado no Discord da organização, mas a equipe salvou screenshots antes e depois da edição e denunciou à organização do evento.

Confira a publicação da equipe na íntegra:

GirlGamer SP

Antes que se questione acerca dos printsa equipe já esclareceu que não achou correto expor a administradora em questão ao público, procedendo diretamente a denunciar à organização.

A questão da identidade também foi denunciada por outras jogadoras de outro time, indicando problemas similares e, inclusive, a exclusão de uma jogadora transsexual por “não possuir identidade feminina”, muito embora fosse transsexual há alguns anos.

“Sinto muito pelas meninas e entendo muito a dor, pois meu time (Minerva eSports) está passando pelos mesmos problemas”

Cabe aqui, observar que consta no regulamento do campeonato que a BBL e-Sports é a responsável pelas regras durante a competição, bem como pelo julgamento de casos que não estejam amparados pelo livro de regras do evento:

GirlGamer Festival SPA BBL se posicionou sobre o caso:

“A BBL, por meio desse posicionamento, demonstra seu repúdio com atitudes contra a igualdade de gêneros no e-sports. A BBL não trata de forma diferenciada jogadoras e jogadores. Durante o campeonato GirlGamer de League of Legends houve muitas solicitações das próprias jogadoras pelo uso do programa PlaysTV, que já grava a tela da jogadora e o microfone, como forma de verificação das equipes.

Algumas jogadoras, inclusive, reclamaram dos jogos classificatórios sem o PlaysTV ou outro método de verificação in game. O uso de programas para verificação dos times é uma prática utilizada em diversos torneios ao redor do mundo. O uso do PlaysTV durante as próximas partidas do torneio GirlGamer não é uma medida de ataque a minorias, e sim uma forma de deixar as jogadoras mais seguras.

Os torneios femininos são uma forma que a BBL encontrou de criar um ambiente seguro para o desenvolvimento de mulheres no e-sports. Por isso, é sempre importante buscar alternativas que deixem as jogadoras mais seguras de participarem das competições.

Não se pode ignorar também a possibilidade de fraudes dentro da competição e essa é mais uma forma encontrada de legitimar todas as participantes do campeonato.

A BBL se desculpa publicamente pelo infeliz comentário da administradora do torneio, que não condiz com as crenças e os objetivos da holding. A BBL já se desculpou diretamente com a responsável da equipe Athena’s por essa situação.”

Apesar do posicionamento e das explicações sobre o uso do software, BBL não justificou o motivo deste tipo de exigência não existir nos campeonatos masculinos, já que as alegadas fraudes também podem ocorrer nestes, já que não são questões adstritas ao gênero feminino.

É uma enorme frustração ver a diferença de tratamento entre equipes masculinas e femininas, especialmente dentro de um campeonato feminino e cujas diretrizes buscam a maior inclusão e valorização das mulheres no universo machista dos games.

Ser mulher em um ambiente que não quer a presença feminina é muito difícil e a única forma de garantir espaço é através da união e da atuação como agentes da mudança.

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