Um problema que com certeza impactou como os fãs se relacionam com os filmes.

**O texto a seguir contém spoilers do filme Thor: Amor e Trovão**

A fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel é a primeira que não se move claramente em direção a um grande mal ou arco de história coletivo. Além disso, ele é o mais diverso, tanto em relação aos criadores trabalhando nos filmes e séries de TV, como também em quem são os seus heróis. E é nesse momento em que o cansaço da Marvel começa a surgir.

De várias formas, o MCU teve o benefício das baixas expectativas. Quando Homem de Ferro foi lançado, muita gente poderia pensar que o final do filme seria uma conclusão natural. Vejamos, uma boa parte das pessoas responsáveis pelo MCU também trabalhou no muito criticado filme Demolidor (2003). No início, o efeito “freak-show” era que a franquia tinha conseguido fazer um bom filme, apesar de ser baseado em quadrinhos. Mas isso é passado. Nossas expectativas se inverteram. Agora queremos que esses filmes sejam bem finalizados e profundos, e que continuem a construir algo.

Parte disso se deve ao fato da Marvel e a Disney não pararem de lançar novos conteúdos. Parte se deve ao fato da Disney ser uma companhia de mídia extremamente poderosa e que controla conteúdos demais. Mas na minha opinião, parte do problema vem do fato do MCU tentar “elevar” os filmes baseados em quadrinhos – torná-los “para todo mundo”, e não apenas acessíveis e desestigmatizados nas mentes de um público que só costumava ignorar seus defeitos nos filmes do Batman.

Ao fazer isso, você rebaixa e apaga todas as coisas que fazem os filmes baseados em quadrinhos interessantes no processo. Especialmente quando você perde metade da propriedade intelectual do universo de quadrinhos que está adaptando. Você acaba sendo forçado a… se adaptar e é forçado a fazer Tony Stark seguir uma linha de história que não tem nada a ver com ele. Histórias criativas e interessantes não importam, uma vez que você precisa encaixar tudo neste universo interconectado.

Homem de Ferro 3 foi uma ótima comédia natalina que abordou a síndrome de estresse pós-traumático de Tony, mas por ser a sequência de Os Vingadores (2012), todo mundo queria que as histórias se encaixassem. Então, a evolução de Tony naquele filme foi completamente apagada porque a história maior precisava que o Homem de Ferro estivesse vivo para Capitão América: Guerra Civil (2016).

Thor sofreu imensamente com isso. Em diferentes níveis, todos os Vingadores tiveram problemas em sua caracterização nos filmes colaborativos, quando comparados com os filmes que protagonizaram. Mas Thor foi o mais prejudicado, do “ele é adotado” no primeiro filme, até ficar em uma banheira em A Era de Ultron (2015), até desaparecer em Guerra Civil, até que chegamos à Guerra Infinita (2018).

Logo após Ragnarok (2017), um filme que utilizou perfeitamente os cortes cômicos de Chris Hemsworth, tocou na temática queer e finalmente fez Thor ascender ao trono de Asgard, se acertando com seu irmão, veio Guerra Infinita, filme que matou todo o seu elenco de apoio (exceto Valquíria), com boa parte da matança acontecendo fora de cena.

Thor é tão poderoso que a sua presença altera completamente a maré de uma batalha, então seu conflito não pode ser sobre poder; tem que ser sobre quem ele é como pessoa. Quando o conhecemos, ele era vazio e arrogante. Só pensava em guerras e se tornar o Rei de Asgard. Sua história foi integralmente construída com o foco em se tornar mais humilde e aprender a amar alguém além de si mesmo. Isso fez com que ele abrisse mão do trono, e posteriormente em sua escolha por não enfrentar Gorr, para em vez disso passar os momentos finais de Jane ao seu lado.

Para mim, esse é um arco natural do personagem Thor, e isso mostra como ele se tornou uma pessoa capaz de se importar com o coletivo de sua comunidade e com mais pessoas além dele mesmo. O problema é que ele foi parte muito pequena dos roteiros, e sua história teve que manobrar ao redor das histórias de todos os outros personagens. Imaginem o que poderia acontecer caso Loki não fosse morto? Ou se a imensa maioria da população de Asgard não fosse exterminada? Essas escolhas não foram feitas por Taika Waititi, diretor de Ragnarok e Amor e Trovão, mas ele teve que lidar com elas.

Thor acaba se tornando um personagem perdido por vezes, e não é auxiliado pela falta de uma jornada própria do personagem nesse momento. Thor: Amor e Trovão é divertido, não se leva tão a sério e tem várias das características que tornaram filmes como A Múmia (1999) e O Retorno da Múmia (2001) um sucesso tão grande. Mas o problema é esquecer que essas são histórias menores, com finais menos ambiciosos. Não precisamos de um grande vilão, e sim de um propósito para os personagens, caso desejemos continuar com esses filmes.


Texto traduzido e adaptado do The Mary Sue.

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