Precisamos conversar sobre uma matéria do The Guardian.

As mulheres não estão “perdendo” ou “se curvando” ao dirigirem franquias em vez de filmes independentes, e o artigo publicado pelo The Guardian que afirma isso é ignorante sobre o tema, afinal temos diversas mulheres ansiosas para trabalharem na direção de filmes.

Algumas querem dirigir franquias, como Cate Shortland em Viúva Negra, ou Cathy Yan em Aves de Rapina. Outras preferem dirigir e estrear em festivais como o SXSW, Sundance ou Outfest. E ambos os caminhos são válidos para a criação de conteúdo, valem o tempo das mulheres e ajudam a expandir o número de diretoras no cenário.

Imagem: Claudette Barius/DC Comics and Warner Bros.

As franquias não estão “devorando” as diretoras antes que elas possam “se estabelecer”, como sugere o artigo.

Universos como os da Marvel ou DC estão finalmente percebendo que parte de seu público-alvo, que também é composto por mulheres, quer se ver representado nas telinhas e telonas. E se você quer contar histórias que verdadeiramente ressoam e são representativas para mulheres e suas lutas, você precisa de diretoras.

É simples assim, sem táticas de intimidação, como se só existissem algumas poucas diretoras por aí.

Filmes como Mulher Maravilha, de Patty Jenkins, ou Os Eternos, de Chloé Zhao, tampouco estão criando disparidades de gênero. Eles estão abrindo portas e alcançando outras mulheres criadoras que nunca tiveram os recursos ou status para criarem filmes, em primeiro lugar. O que eles estão criando é um campo mais nivelado, em que homens e mulheres podem ser tratados igualmente e receber as mesmas oportunidades. Isso é igualdade de gênero e nós queremos isso.

Imagem: Warner Bros.

Além do mais, ao contrário do pensamento popular, dirigir filmes de franquias é um trabalho sério e que merece respeito.

Só por fazer parte de um coletivo maior não faz com que um filme subitamente perca o seu valor. Na verdade, o diretor deve trabalhar muito mais e saber como encaixar o seu filme no contexto geral da franquia. É um trabalho duro, que exige paciência e provavelmente muita leitura e escuta, a fim de conhecer a franquia e os seus personagens.

Esse argumento sobre mulheres dirigindo filmes de franquias também levanta um questionamento sobre o porquê de homens não receberem o mesmo tratamento que mulheres recebem ao entrar em franquias: cadê a preocupação sobre eles estarem “se curvando” antes de “se estabelecerem”? Ela não existe porque homens são a fonte primária quando falamos sobre dirigir filmes de franquia. Não existe a preocupação do porquê de não terem filmado outro grande sucesso depois de dirigirem uma obra da Marvel ou DC, por exemplo.

E esse é o coração do problema.

Mulheres estão entrando e dominando espaços que anteriormente eram exclusivamente masculinos, e isso está mudando as coisas de formas que eles não gostam.

Imagem: Alberto E. Rodriguez/Getty Images para Disney

Assim surgem sistemas sociais e ambientes em que homens não são o topo da cadeia alimentar dentro das franquias, e surgem espaços onde a igualdade de gênero ocupa um papel maior. E isso não é algo que podemos menosprezar ou deixar de lado. Isso é algo que devemos olhar mais de perto, uma vez que cada vez mais mulheres começaram a dirigir franquias.

Afinal, as mulheres não vão embora. Elas estão lutando por mais espaço para dirigir filmes e franquias que todas amamos. E isso jamais deveria gerar temor pelo futuro.

Na verdade, deveríamos estar animadas pelas jornadas únicas que serão compartilhadas e pelas histórias honestas que serão contadas por suas perspectivas.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue.

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