A caminho da representatividade feminina em peso na mídia!

No final de 2016, em antecipação à estréia de “Rogue One: Uma História de Star Wars“, a chefe da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, conversou com a Variety sobre os esforços da empresa para diversificar seus diretores da mesma forma que a franquia está diversificando as mulheres enquanto atrizes e protagonistas de seus filmes. Ela afirmou:

Queremos ter certeza de que, quando convidarmos uma diretora para fazer ‘Star Wars’, ela esteja preparada para o sucesso. São filmes gigantescos, e você não pode entrar neles com praticamente nenhuma experiência.

Kennedy não estava exatamente errada: na época, havia um punhado de mulheres – Patty Jenkins, Ava DuVernay, Kathryn Bigelow, Lana e Lilly Wachowski, Mimi Leder – que foram contratadas para dirigir filmes com orçamentos de grande sucesso.

Mas seu raciocínio fazia pouco sentido, dada a ladainha de diretores masculinos que receberam as chaves do reino de Hollywood depois de fazer alguns – ou apenas um, ou zero – filmes muito menores, geralmente independentes.

(Uma pequena amostra: Christopher Nolan com “Batman Begins“, Joss Whedon com “Os Vingadores“, os irmãos Russo com “Capitão América: O Soldado Invernal“, Colin Trevorrow com “Jurassic World“, Gareth Edwards com “Godzilla“, Andy Muschietti com “It – A Coisa“, Tim Miller com “Deadpool“, Jordan Vogt-Roberts com “Kong: A Ilha da Caveira“, Taika Waititi com “Thor: Ragnarok” – enfim, vocês entenderam.)

De qualquer maneira, Kennedy deu voz à punição que manteve as mulheres fora do comando das maiores e mais lucrativas propriedades de Hollywood desde, bem, sempre.

Em 2020, isso vai mudar de uma maneira sem precedentes.

Cinco dos maiores títulos lançados no próximo ano – incluindo os quatro principais filmes de super-heróis – serão dirigidos por mulheres: “Aves de Rapina” de Cathy Yan; “Mulan” de Niki Caro; “Viúva Negra” de Cate Shortland; “Mulher-Maravilha 1984” de Patty Jenkins e “Os Eternos” de Chloé Zhao.

É difícil exagerar o quão importante isso pode ser. Este ano, foi uma das principais notícias em outubro quando Stacy L. Smith da Annenberg Inclusion Initiative da USC disse à Variety que até 14 dos 100 filmes com maior bilheteria em 2019 seriam dirigidos por mulheres. Até o momento, esses filmes (atualmente 15) respondem por aproximadamente US$1,23 bilhão em receita doméstica e US$2,79 bilhões em fatura global no ano.

Porém, apenas 2 desses 15 – “Capitã Marvel” e “Frozen 2”, ambos co-dirigidos por mulheres – são verdadeiros blockbusters globais. Em 2020, apenas os cinco filmes acima mencionados poderiam facilmente colocar em cheque a baixa representatividade que mulheres diretoras tiveram em 2019. Mesmo que um ou dois desses filmes tenham desempenho inferior, de forma coletiva essas cinco cineastas devem modificar para sempre o conhecimento convencional calcificado que dificulta as carreiras de inúmeras mulheres em Hollywood por gerações.

Em termos gerais, nada muda a mente Hollywoodiana melhor do que o dinheiro e, pode ser que a essa altura, no próximo ano – pela primeira vez! – possamos estar numa concorrência com um pouco mais de paridade, principalmente entre os 10 filmes de maior bilheteria do ano, divididos entre diretores homens e mulheres.

É o tipo de mudança que é impossível ignorar e que poderia – e deveria! – ter efeitos em toda a indústria, desde o surgimento de maiores oportunidades para mulheres até um melhor reconhecimento das cineastas durante a temporada de premiação (Oscar, Golden Globes, SAG, etc).

Certamente, temos que dar crédito para a Disney e para Warner Bros. por intensificar a divulgação e entregar essas franquias que estouraram bilheterias para mulheres. Também vale a pena notar que todos, exceto um desses cinco filmes, são filmes com mulheres protagonistas – e “Os Eternos” apresenta várias personagens principais, interpretadas por Angelina Jolie, Salma Hayek e Gemma Chan. Enquanto isso, a Sony Pictures está lançando dois filmes baseados em vilões do Homem-Aranha em 2020, dirigidos por homens: “Morbius” de Daniel Espinosa  e “Venom 2” de Andy Serkis. 2020 realmente faz história nas bilheterias para cineastas mulheres, então talvez pudéssemos ver o próximo lote de spin-offs do Homem-Aranha da Sony – ou “Velozes e Furiosos”, as sequências de “Vingadores” e até filmes de “Star Wars” – dirigidos também por mulheres .


Texto traduzido e adaptado da Variety.

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