Rainha do Norte!

“- Eu me lembrarei, Vossa Graça” – disse Sansa, embora sempre tivesse ouvido que o amor era um caminho mais seguro para a lealdade das pessoas do que o medo. “Se eu for uma rainha, vou fazê-los me amar.”A Clash of Kings, capítulo 60, Sansa VI.

*** SPOILERS DO FINAL DE GAME OF THRONES ***

Sansa Stark, primeira de seu nome, terminou a série sendo coroada Rainha de um Norte independente, cumprindo sua jornada – realizando seu desejo de um dia ser rainha, embora muito diferente do que ela pensava que seria.

Desde o começo, Sansa Stark foi uma das minhas personagens favoritas em ASOIAF/GOT, mas também estou plenamente ciente que se eu tivesse visto uma personagem como a Sansa alguns anos antes, eu poderia tê-la detestado de uma forma ignorante.

O incrível sobre a Sansa, nos livros, é que nós conseguimos ver o ponto de vista dela em primeira pessoa. A maioria das heroínas na fantasia são mais como Arya ou Brienne – guerreiras que são sufocadas em um mundo sexista, resistente a permitir que elas sejam reconhecidas por seus verdadeiros eus. Em comparação, Sansa é muito lady, muito mocinha, no sentido tradicional. Ela foi criada ouvindo canções e histórias de cavaleiros e da nobreza, e seu desejo era imitar a bondade que ela via. Uma perfeita Cinderela.

Como resultado disso, Sansa é muito mais ingênua e convencional que Arya quando a história começa, e um pouco esnobe à sua própria maneira. O que muitos esquecem ao julgar a personagem é que ela tinha apenas onze anos quando os livros começam e aproximadamente catorze quando a série começa.

Imagem: HBO

Sansa estava encantada com o fato de que ela iria a King’s Landing e com seu noivado com o belo príncipe Joffrey Baratheon. Ela não via que ele era um idiota porque ela queria acreditar na bondade que ele apresentou para ela.

Sua lealdade inicial a Joffrey é usada contra ela porque afinal de contas “ela deveria saber”, mas quem argumentou isso ignorou o fato de que Sansa estava no estágio de sua vida em que ela se interessada apenas em garotos, em ser rainha e também ser a rival da sua irmã. Ela era uma garota com sangue nobre e bastante privilegiada. Ela via a ilusão de um nobre príncipe e acreditava nisso porque foi educada para ser confiante e paciente, especialmente com alguém que está prestes a se tornar seu marido. Portanto, ela ignorou as mudanças de humor de seu detestável companheiro, abraçando o interesse de Cersei Lannister. E a única pessoa que teve o bom senso de adverti-la sobre essa fachada falsa de Joffrey é Sandor Clegane, o Cão – que não era exatamente o melhor conselheiro do mundo, ainda mais para uma garota como Sansa.

No torneio da Mão, Sansa vê o evento como semelhante às suas histórias de infância, e isso serve apenas para reforçar suas noções de cavalheirismo. O Cão conta praa ela como seu irmão, Sor Gregor Clegane, queimou seu rosto. Ainda assim, ela continua acreditando nas mentiras alimentadas por ela mesma e acaba contando pra Cersei que Ned estava planejando ir embora porque ela não sabia a verdade dos planos de seu pai. Após a prisão de Ned, Sansa é forçada a chamar seu pai de traidor e, apesar de implorar na frente do rei e de seus servos por misericórdia, ela é forçada a ver seu pai ser executado.

Imagem: HBO

Quando Joffrey leva Sansa para ver a cabeça de seu pai, ela pensa em empurrá-lo da ponte, mesmo que ambos morressem na queda, e só é impedida por causa que o Cão interrompe seu plano. É uma cena emocional no livro, mas Sophie Turner passa as emoções da personagem perfeitamente na série, e aquele é o começo do enredo sério de Sansa. Ela pensou que ela era a princesa da história e seus olhos foram brutalmente abertos para a verdade.

Não há heróis… Na vida real, os monstros ganham.

Depois dessa temporada, Sansa é mantida como refém e, para sobreviver, usa seus modos de dama, enquanto finge amar Joffrey para se manter viva. Sua única esperança restante é se lembrar que ela é uma herdeira de Winterfell e ela usa isso para adquirir toda a vantagem que puder. Mesmo sofrendo, Sansa permanece resistindo. Quando um cavaleiro chamado Sor Dontos chega bêbado na festa de Joffrey, ela inventa uma mentira para poupar sua vida e Joffrey apenas tira-lhe o título de cavaleiro e faz dele um bobo da corte, como Sansa sugeriu.

Esta cena mostra o intelecto por trás da bondade de Sansa. Muitas pessoas reclamaram que Sansa não era “forte o suficiente” ou “inteligente o suficiente”, embora isso seja completamente falso nos livros (ela é quem organiza sua fuga em dois livros). Toda vez que eu via alguém falando que a Sansa era “inútil”, eu me perguntava: se você fosse feito refém aos onze/doze anos de idade, como você agiria? Você, depois de ver que a razão de sua existência era uma mentira, depois de perder seu pai na sua frente, depois de ser feito refém em um mar de inimigos, conseguiria se transformar em um assassino guerreiro? Isso é o que muitas pessoas queriam que Sansa fosse, mas esse nunca foi o personagem dela. Ela era alguém que – apesar de ser espancada constantemente, menosprezada e prejudicada – sobreviveu e aprendeu com seus erros.

Imagem: HBO

A força suave de Sansa foi algo importante para mim porque, por um longo tempo, o personagem dela era algo que eu não conseguia me identificar também. Nos anos 90 e início dos anos 2000, criamos heroínas femininas que podiam fazer tudo, que eram poderosas e ferozes. Em uma equipe de heróis ou aventureiros havia sempre a personagem “feminina” e a “durona”, e sempre criando aquela ideia de que a personagem mais feminina era boba, burra ou frívola. E isso continuou sendo perpetuado até alguém como Katara em Avatar: O Último Dobrador do Ar aparecer, quando conseguimos uma heroína que era foda e doce ao mesmo tempo, ainda que ela estivesse em contraste com a personagem “tomboy” que era a Toph.

Eu internalizei esse tipo de mentalidade quando eu era mais jovem, porque eu vi a feminilidade e suavidade retratada como fraqueza muitas vezes, e eu não queria ser fraca.

Sansa foi uma dos personagens que me ajudou a desmistificar isso. Uma das minhas coisas favoritas sobre a Sansa era que ela não perdia a capacidade de ser gentil, ela não perdeu sua suavidade. Vimos isso na segunda temporada/no segundo livro, quando o exército de Stannis se aproximava e foi Sansa quem consolou as senhoras que estavam enclausuradas junto com Cersei, que era um inferno de pessoa. Também vimos algo semelhante na cena do casamento entre ela e Tyrion. Nos livros, na parte em que Sansa não se ajoelhou para Tyrion, aquele foi um momento de resistência. E isso foi cortado da série né, porque… ugh. Não vamos entrar nesse ponto.

Apesar dos problemas que tenho com as mudanças feitas na personagem de Sansa na série, permanece a sensação de que ela e a performance de Sophie Turner realmente tocaram meu coração. Tudo que eu queria era que ela sobrevivesse e ficasse bem. Eu queria que Sansa ficasse bem tanto quanto quero que todas as garotas que foram esmagadas pelas pressões desta sociedade fiquem bem, todas que tiveram sonhos e otimismo e sentiram que essas coisas foram destruídas. Sansa me lembrou da força que temos para sobreviver a esses momentos. Sansa foi espancada, abusada e, para piorar, estuprada na série – mas ela se vingou de uma forma diferente, aprendendo as lições que pôde com pessoas terríveis e não se tornando como elas. Sansa – não Robb, não Bran, não Arya – conseguiu unir os cérebros dos Tully e dos Stark juntos, em um reinado.

Sansa Stark é a Rainha do Norte, e ela sobreviveu a todos aqueles que abusaram dela, todos aqueles que duvidavam dela, e isso é algo para celebrar.

A RAINHA NO NORTE.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue.

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