Opinião bem ousada.  E válida.

O cineasta de anime, Mamoru Hosoda, declarou para a AFP (Agência de Imprensa Francesa) no último mês que tem problemas com a forma como as mulheres são apresentadas nos meios de entretenimento no Japão, apontando uma tendência a apresentá-las como “sagradas” e “nada a ver com a realidade de quem são”. Ele mencionou também um “grande mestre da animação que sempre coloca jovens mulheres como as suas heroínas”, e comentou que “para ser franco, eu acho que ele faz isso porque não tem confiança em si mesmo como homem. Sua veneração por jovens mulheres me perturba e eu não quero ser parte disso”.

Apesar de Hosoda não falar o nome de Hayao Miyazaki, a agência apontou que ele era o foco da conversa.

De acordo com Hosoda, “você só precisa assistir a animações japonesas para ver como jovens mulheres são subestimadas e não levadas a sério na sociedade japonesa”. Em seguida, ele afirmou que em seus trabalhos, ele busca evitar representar suas heroínas como “símbolos da virtude e inocência”, que para ele representam a “opressão de ter de ser como todo mundo”.

A discussão sobre essas questões de gênero surgiu durante um debate sobre seu último filme, Ryū to Sobakasu no Hime (BELLE, ou em tradução literal, “O Dragão e a Princesa Sardenta”). A obra conta a história de Suzu, uma adolescente no final do ensino médio que decide se tornar uma cantora virtual sob o pseudônimo “Belle”. Ela é uma garota introvertida e com pouca confiança, mas consegue se sentir confortável neste mundo virtual.

A entrevista também discutiu as representações na internet, com Hosoda afirmando que queria apresentar o mundo virtual como um ambiente positivo para jovens. Ele queria que a geração mais jovem pudesse se sentir empoderada quando online, dizendo que eles “cresceram com a rede… e ainda assim tem de ouvir constantemente sobre como ela é algo ruim e perigoso”. Ele criticou as representações distópicas da internet, como aquela apresentada por Steven Spielberg em seu filme Jogador Nº 1(2018).

Relacionamentos humanos podem ser complexos e extremamente dolorosos para pessoas jovens. Eu queria mostrar que este mundo virtual, que pode ser duro e terrível, também pode ser positivo. Jovens nunca podem se separar dele. Eles cresceram com isso. E nós temos que aceitar e aprender a utilizá-lo de uma maneira melhor.

E essa não é a primeira vez que Hosoda expressou sentimentos complicados acerca de Miyazaki. Em uma entrevista concedida em 2009, para a ANN, ele citou o aclamado diretor como uma inspiração para se tornar um animador, afirmando que “Eu era, e ainda sou, um grande fã do trabalho de Hayao Miyazaki. Eu passei muito tempo assistindo aos seus filmes quando era mais novo”.

Depois de dirigir Digimon Adventure: Bokura no War Game, pela Toei Animation, ele foi contratado pelo Studio Ghibli para a direção de O Castelo Animado, mas abandonou o projeto para se tornar um cineasta independente. Em entrevistas posteriores, ele afirmou ter deixado o estúdio porque sentia uma pressão muito grande para que fizesse filmes como os de Miyazaki.

Ryū to Sobakasu no Hime estreou no Japão em 16 de julho, e está sendo distribuído no exterior via IMAX. O filme deverá ser lançado nos EUA no final deste ano, mas ainda não temos notícias sobre sua distribuição no Brasil.


Fonte: Anime News

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