Um encontro cheio de girl power e arte!

No dia 06 e 07 de maio aconteceu um encontro cheio de amor e girl power na Quanta Academia, que fica do ladinho do metrô Ana Rosa, aqui em São Paulo. Foi com muito prazer que fomos no sábado conferir o evento e bater um bate papo com as criadoras do site Lady’s Comics.

Esse já é o terceiro encontro que as Lady’s fazem. Sempre prezando o cuidado com os seus leitores e assuntos que devem ser discutidos em seus bate papos com convidados ilustres ou nos workshops que foram oferecidos nesses dois dias de encontro. Foi uma versão mais pocket, comparado aos outros encontros oferecidos, mas não deixou de envolver muito amor e incentivo para as mulheres que querem investir em suas artes ou só prestigiar quem já esta inserido nesse mercado de arte brasileiro.

No encontro tivemos uma feira com diversas artistas convidadas, mostrando uma gama enorme de arte – e fiquei com vontade de comprar tudo -, além da super troca de ideias que os leitores estavam tendo com essas artista; tanto com apresentação de portfólio, quanto com a apresentação de técnicas artisticidades. O encontro foi uma lindeza só e a gente fica aqui esperando um quarto, quinto, sexto e muitos outros encontro.

Confira agora a entrevista com as Lady’s:

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1 – Quando surgiu a ideia de criar um site colaborativo, como a Lady’s Comics?

Marimma Fonseca: Foi em meados de 2010. A gente começou sem nenhuma pretensão como um blog mesmo, para falar de mulheres e quadrinhos. Começamos fazendo semanalmente review de quadrinhos e entrevistas, mas inicialmente era somente eu a Samantha Coan e a Lu Cafaggi – que é quadrinista. Depois a Samara Horta ingressou e a Lu Cafaggi acabou saindo para fazer outros trabalhos. Agora já vai fazer 7 anos que existe a Lady’s Comics, um site totalmente colaborativo. Surgindo consequentemente os encontros para conhecer os leitores e novos artistas e uma revista chamada Risca.

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2 – Como lidar com várias mulheres de diferente lugares?

Samara Horta: Não somente as colaboradores, mas quando a gente faz os eventos, pensamos nas convidadas com o critério de centralizar, mas dando a oportunidade para todas as meninas que fazem quadrinhos e estão em outros lugares do país, trazendo toda uma bagagem cultural bem variada. Quando você me pergunta como é lidar com isso: é sensacional. Todas tem questão muito parecida, que é o apoiar uma à outra. As mulheres que fazem quadrinho, as pesquisadoras e as leitoras, elas se apoiam.

Marimma Fonseca: No caso das colaboradoras, resolvemos pegar mulheres fora do país também, justamente para termos noção de como é o mercado para as mulheres, além de trazer alguma autora que não conhecemos.

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3 – Quando começo a paixão de vocês por quadrinho?

Samantha Coan: Não comecei com Turma da Mônica, como a maioria. Na verdade o interesse começou com os animes, depois que assisti InuYasha, o mangá foi lançado no Brasil e foi o primeiro “quadrinho” que comprei. Há partir daí, comecei a consumir quadrinho, mas só fui me desvencilhar dos mangás, quando entrei para as Lady’s, onde trocamos figurinha e acabava lendo diversos títulos.

Marimma Fonseca: Eu comecei como a maioria, lendo Turma da Mônica mesmo. Era o quadrinho que sempre tinha em casa de fácil acesso, além das tirinhas de jornais. Acompanhei muito o trabalho do AngeliLaerte e o Glauco. Mas só peguei o gosto mesmo por quadrinhos na faculdade, por conta do meu TCC, que foi sobre o quadrinho Palestina, de Joe Sacco. A partir disso, percebi que o quadrinho poderia tem uma gama muito variada de histórias, além do que estava acostumada.

Samara Horta: Minha história também não foge muito disso. Eu comecei com a Turma da Mônica e depois eu descobri os mangás na adolescência. Eu tenho um tio que coleciona quadrinhos e na época que comecei a ler mangás, eu pegava alguns outros quadrinhos na casa dele. Lendo muita coisa intencional, apesar de ler quadrinhos de super heróis, nunca curti muito. Quando estava acabando a faculdade, a Lady’s surgiu. Eu me tornei fã, fiquei amiga das meninas e fui convidada para escrever com elas, daí em diante, nunca mais parei de ler quadrinhos, principalmente independentes.

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4 – Tem algum artista que inspirou vocês a seguirem as suas carreiras ou influenciou a criação do site?

Marimma Fonseca: Não. Apesar de falarmos muito sobre arte e quadrinho, nenhuma de nós é quadrinista. Mas no meu caso, recentemente fui estudar desenho em uma escola de Belo Horizonte, onde descobri muito o processo de criação de um quadrinho. Eu acabei optando por seguir o ramo da ilustração, mas citar uma pessoa só, é muito difícil.

Samara Horta: Na verdade é a ausência das pessoas. Ninguém falava que tinha mulheres fazendo quadrinho. A curiosidade, junto com a necessidade de falar sobre isso, fez com que criássemos algo que falasse sobre. Atualmente, nos inspiramos em todas, pois queremos fazer um projeto bacana para elas.

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5 – Atualmente na vida pessoal de vocês, com o que as três trabalham?

Samara Horta: Tem a questão da Lady’s, que a gente faz por muito amor (por muito amor mesmo) e a gente não recebe nenhum dinheiro, além de levar muito tempo, por nos dedicarmos muito ao site. Mas fora da Lady’s cada uma tem uma profissão. Sou jornalista, mas atualmente trabalho mais com marketing e análise de redes sociais. Eu trabalho de forma independente como freelancer desde 2011 e me mantenho desta forma.

Samantha Coan: Eu sou design, em breve professora. Responsável por toda identidade visual da Lady’s Comics e dá revista Risca.

Marimma Fonseca: Sou formada em jornalismo mesmo, mas eu escolhi o caminho da ilustração. Chutando totalmente o balde do jornalismo, para me dedicar 100% a minha paixão. Atualmente sou ilustradora freelancer e é maravilhoso.

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6 – Como vocês encaram o mercado brasileiro de quadrinho para as mulheres? 

Samantha Coan: Eu acho que esta melhorando, mas elas estão mais em publicações independentes. Estando totalmente presente, dialogando diretamente com  próprio público. A editora Nemo esta trazendo muitos quadrinhos feito por mulheres, inclusive que publicavam seus trabalho somente na internet e migraram para a mídia impressa.

Marimma Fonseca: Algumas editoras andam mais preocupadas em lançarem quadrinhos de mulheres. A própria Boitempo tem um selo de quadrinho chamado Barricada e o primeiro quadrinho lançado foi de uma mulher. Conseguimos ver que as editoras tem começado a se preocupar em trazer esses assuntos à tona. Seja por questões mercadológicas ou não, estamos vendo um tratamento feminino.

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7 – Alguma de vocês já passaram pela situação de ter tido o trabalho de vocês ser confundido com o de um homem?

Samara Horta: É difícil, porque a própria Lady’s antes era bem rosa (rsrsrs). Acho que nunca chegou diretamente para a gente. Já teve situações de alguns caras que implicam com nosso trabalho, mas nada que levássemos a sério.

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8 –  Qual a importância que vocês acham que o site Lady’s Comics tem no mercado brasileiro de quadrinhos?

Samara Horta: É bem difícil responder isso, porque ao mesmo tempo a gente fica “nossa não é possível que eu esteja pensando tão alto“. Eu penso que teve uma mudança, onde a Lady’s influenciou. Tanto que a cada evento que fazemos, ao montar a programação, nossa preocupação é incentivar novas leitoras e quadrinistas. Eu gosto de pensar que oa Lady’s teve uma parcela de culpa nesse incentivo – sem querer sem convencida rsrsrs.

Samantha Coan: Lembro que na primeira entrevista o Sidney Gusman, que trabalha para o Mauricio de Souza, se interessou pela quadrinista Ana Luiza Koehler, que fazia mais quadrinhos para fora do país. Através de uma das nossas matérias, chamou a artista para trabalhar com eles no estúdio e esta até hoje.

Marimma Fonseca: Só de pensarmos em estar aqui  em São Paulo, que acreditamos ser um grande pólo de artistas e imaginar que nós demos inicio há muita coisa, nesse sentido de produção é bem surreal. Ainda mais por não sermos quadrinistas e conquistar este espaço.

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9 – Tem alguma coisa que aconteceu nesses anos todos de Lady’s e vocês gostaram muito?

Marimma Fonseca: Acho que no encerramento do primeiro encontro, depois que saímos da internet e vimos pessoalmente nossos leitores, pareceu muito real. Isso dá muito gás para continuar, pois a vontade de desistir no meio do caminho é grande. São momentos transformadores como esse, que fazem tudo valer a pena.

Samara Horta: Há momentos de bastidores nosso que requer muita união, força de vontade e carinho. Nós três criamos um vínculo muito grande. Cada uma faz uma coisa diferente na Lady’s, mas a gente nem precisa falar para fazer, pois temos um ótimo entendimento não verbalizado. É meio clichê, mas a verdade é que uma das coisas mais legais que aconteceu foi a nossa amizade, que é o que mantem a Lady’s

Samantha Coan: Uma coisa que me marca muito é ouvir pessoas mais velhas que fizeram quadrinhos. A gente fez um lançamento da Risca com a artista Ciça Pinto no ano passado e amanhã teremos a Mariza Costa Dias. Ambas tem anos de carreira em quadrinho. Se não fosse a Lady’s não iriamos ter como conhecer essas mulheres e mostrar a história de suas carreiras para outras pessoas.

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10 – Para finalizar, deixe uma mensagem para as mulheres que querem ingressar no ramo da arte ou investir nelas mesmo para algo mais.

Samara Horta: Tenha coragem de se expor. Somos programadas para termos vergonha e sermos inseguras em tudo. Vivemos em uma sociedade onde exigem muito da mulher, mas a verdade é que não temos que ter medo de fazer aquilo que amamos. Só coloque na internet seu trabalho, nem precisa se identificar. Só coloque e seja feliz.

Marimma Fonseca: Pratique sempre. Ninguém vai fazer uma graphic novel da noite para o dia. Assim como a gente falou que nosso site começou de forma despretensiosa, ninguém vai começar e já vai virar o quadrinho do ano ou o mais vendido. Para tudo isso tem um caminho a percorrer.

Samantha Coan: Para finalizar – super complementando tudo o que foi discutido rsrsrs -, procure outros artistas para bater um papo, mostre seu portfólio, troque uma ideia sobre sua arte. Entre em grupos de arte e pergunte a opinião das pessoas sobre sua obra. Não fique chateada se não for a resposta que você queria ouvir. Sempre vai existir haters por aí, mas também existe pessoas que prezam seu crescimento como artista.

 

Eu quero agradecer imensamente as meninas do Lady’s  que tiraram um tempinho do seu tempo para dar essa entrevista, a super parceria da Quanta Academia, que nos deram muita atenção e disponibilizaram o espaço para fazer o encontro, e a Priscila Araújo que ajudou a tirar essas linda fotos do evento.

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