Ousados e necessários.

WandaVision mergulhou profundamente na mente de Wanda Maximoff, enquanto Falcão e o Soldado Invernal resolveu explorar a realidade racial de Sam Wilson, o trauma de Bucky Barnes e a situação social dos civis que foram “blipados” (mortos pelo estalo de Thanos) e que ficaram deslocados quando retornaram à vida. Mas a série se dedicou bastante ao primeiro tema.

**O texto a seguir contém SPOILERS do segundo episódio da série Falcão e o Soldado Invernal.**

Todos nós sabíamos que a série iria abordar questões raciais. E como não faria? Afinal, o Falcão foi o primeiro super-herói negro do cenário mainstream dos quadrinhos e se tornou o Capitão América no universo dos quadrinhos da Marvel desde 2014. E desde o seu surgimento nos quadrinhos, o personagem sempre teve de lidar com questões raciais. Sempre foi parte da sua história.

Imagem: Marvel Comics

Anthony Mackie, que interpreta o personagem, já afirmou, inclusive:

Sam considera o escudo uma representação do país em que vivemos. E existe muita trepidação sobre como um homem negro pode representar um país que não o representa.

O criador e showrunner da série, Malcolm Spellman, também falou um pouco sobre o personagem Sam: “Ele realmente acredita que existe uma discussão sobre o que levou vermelho, branco e azul – com as estrelas e listras – representar inerentemente uma opressão”.

E isso ainda não havia sido abertamente explorado – mas sempre esteve borbulhando sob a superfície.

No primeiro episódio, quando Sam tenta conseguir um empréstimo em um banco com sua irmã, o gerente faz alguns comentários com micro agressões, enquanto ao mesmo tempo tenta elogiar Sam por ser um Vingador. No segundo episódio, Sam é abordado pela polícia de Baltimore, a mesma responsável pela morte de Freddie Gray, que só muda a abordagem ao perceber que ele é um dos Vingadores.

Quando o “novo Capitão América”, John Walker aparece (com direito ao seu melhor amigo negro*, claro), ele chama Sam e Bucky de “ajudantes” de Steve Rogers, o que deixa claro como apesar de todo o heroísmo do Falcão, ele ainda é reduzido a um personagem secundário.

Mas o soco no estômago vem quando Carl Lumbly aparece como Isaiah Bradley na série.

Imagem: Marvel Comics

Ele era o antigo Capitão América negro, um super-soldado que foi torturado para se transformar nisso e depois foi deixado de lado. Sam fica aterrorizado com o fato de nunca ter ouvido falar nele quando Bucky os apresenta. E o surgimento do personagem se torna um fio condutor para a série, que a partir de então começa a lidar com questões maiores.

*Além disso, sentimos muito por Clé Bennett, que é um ator negro canadense fantástico. Ele interpreta Lemar Hoskins/Estrela Negra, um personagem que existe nos quadrinhos e que já foi conhecido como… Bucky. Sim. Então aquela cena fica ainda mais constrangedora, né? Pois fica mais: quando o personagem foi criado por Mark Gruenwald, o ex-escritor Dwayne McDuffie disse a Gruenwald que “Buck” é uma expressão depreciativa utilizada para ofender afro-americanos. Gruenwald não conhecia a conotação racial e trabalhou com McDuffie para criar uma história lidando com o problema, dando a Lemar um novo nome: Battlestar (ou Estrela Negra, na tradução oficial para o português).

Malcolm Spellman explicou isso para a Variety:

A magia de abraçar a diversidade nas salas de redação e de ter uma equipe quase inteiramente composta por pessoas negras permite que você mergulhe na cultura pop. Quer dizer, a população negra é mestre nisso, e quando damos uma chance para fazer o que temos que fazer, se torna algo universal e para todos, porque os nossos desafios e ponto de vistas são uma versão concentrada dos maiores desafios humanos. Então, sim, esses momentos que você menciona são direcionados, e cavamos mais fundo e mais fundo enquanto a série progride.

E, felizmente, a série conseguiu de fato progredir e nos proporcionar uma season finale emocionante.


Texto traduzido e adaptado da TheMarySue.

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