Talvez o episódio mais verdadeiro tenha sido os amigos que fizemos ao longo do caminho.

Todos nós já tivemos esse problema: você está assistindo sua série de TV favorita, com episódios cujo enredo é realmente pesado e que te deixou muito animado para a história principal. E daí você tem um episódio em que tudo parece parar e os personagens passam de 22 a 45 minutos inteiros fazendo as coisas mais tediosas que parecem totalmente desconexas da história principal – o temido filler, ou, para os íntimos, episódio de preenchimento.

Mas será que é só pra encher linguiça mesmo?

O TVTropes.org define episódios de preenchimento como “entradas em uma série geralmente contínua que não estão relacionadas ao enredo principal, não alteram significativamente as relações entre os personagens e geralmente servem apenas para ocupar espaço.” Animes são infames por isso (o que é compreensível, já que muitas séries de anime têm centenas de episódios), mas a crítica também foi levantada recentemente contra séries com poucos episódios, mesmo com séries de live-action como The Mandalorian, um filler de Star Wars, na Disney+ (que tem apenas oito episódios por temporada).

O problema com essa definição é que alguns dos melhores episódios de muitos programas de TV populares devem ser considerados “preenchimento”.

Como exemplo disso, temos Avatar: A Lenda de Aang. Os episódios A Praia (episódio 5 do 3º Livro) e Contos de Ba Sing Se (episódio 15 do 2º Livro, também conhecido como o episódio do Little Soldier Boy) provavelmente se qualificariam como filler, já que não acrescentam nada ao enredo principal, mas são essenciais para construir personagens e relacionamentos.

Ver o Tio Iroh chorar marcou muito o fandom da série.

Então, o que realmente dá a alguns desses episódios o rótulo de filler e outros não?

Principalmente, a reação dos fãs.

Muitas pessoas começaram a rotular episódios que não gostam como fillers que não têm conexão com a história principal, apesar do fato de que uma boa parte desses episódios são de fato vitais para a série como um todo. Eles trazem novos personagens ou locais, introduzem novas ideias ou temas para desafiar a visão de mundo do protagonista, ou desenvolvem personagens e relacionamentos, mesmo que esses desenvolvimentos não “alterem imediatamente as relações entre os personagens”, muitos dos quais são essenciais para ter uma história envolvente.

Quando o Mandaloriano acaba sendo desviado de sua missão por um bando de Jawas que o incumbiram de pegar um ovo de Mudhorn, parece uma coisa totalmente sem sentido, especialmente, para o segundo episódio da série. No entanto, essa missão é o catalisador que faz com que o Mandaloriano construa um relacionamento real com a Criança e, eventualmente, forneça ao Mandaloriano seu símbolo dentro do clã: o próprio Mudhorn que ele e a Criança mataram juntos.

Imagem: Lucasfilm

Se não fosse por esse episódio, o Mandaloriano não teria nenhum motivo para resgatar a Criança, além do fato de que ele é um Baby Yoda extremamente fofo. O episódio 2 torna isso uma questão de honra, de pagar uma dívida, de fazer o certo por sua herança como um Mandaloriano Enjeitado.

Imagem: Lucasfilm

Além desse episódio, temos O Prisioneiro (o sexto episódio da 1ª temporada), que é na verdade muito mais que um episódio de preenchimento, porque foi considerado um dos episódios mais empolgantes da série.

E embora a 2ª temporada tenha parecido um tanto episódica em sua fórmula “faça essa tarefa para conseguir essa informação”, cada episódio se conectou ao tema principal do que significa ser um Mandaloriano: seria nunca revelar seu rosto nem desonrar sua armadura (Redenção, A Herdeira)? Seria para manter sua palavra apesar das complicações que surgem (A Passageira, A Herdeira)? Seria para proteger aqueles de quem você gosta, mesmo que isso signifique comprometer sua identidade e quebrar sua palavra (A Jedi, O Que Acredita)? Cada episódio desafia Din Djarin de uma nova maneira, de uma forma que a média dos filmes de Star Wars raramente é capaz de desafiar as crenças de seus personagens principais.

Então, por que temos tanto ressentimento por episódios fillers?

De muitas maneiras, as redes sociais, as transmissões ao vivo e os vídeos de reação no Youtube, por exemplo, cultivaram essa ideia de fazer julgamentos precipitados sobre uma mídia a partir do momento em que ela sai. Embora seja possível fazer isso com um filme, em que a história deve ser capaz de se sustentar por si só, um único episódio de uma série de TV (geralmente) não é a história completa, especialmente se não for o final de uma temporada.

Outra razão é que muitos serviços de streaming estão reduzindo os episódios fillers para tornar seus programas o mais “consumíveis” possível, contando com constantes angústias e reviravoltas na história para manter a atenção do público.

Os episódios fillers são “usados ​​depois de um episódio ou arco de história particularmente cansativo e emocional, ou como uma pausa no meio de uma sequência de episódios intensos e servem para iluminar o clima, para contrastar com o clima ‘sombrio’ do episódio anterior”.

Eles podem parecer bobos e desconectados, mas muitas vezes são a lufada de ar fresco que o público não percebe que precisa até que esteja de volta à ação.

O que seria do episódio final de Avatar, Cometa de Sozin, sem Os Atores da Ilha Ember para recapitular de forma bem cômica todas as provações e tribulações da gangue de Aang?

E foi um episódio icônico, fala sério!

A temporada final de Game of Thrones foi essencialmente uma tentativa de transformar cada episódio em um chamado “Episódio UAU”, cheio de ação e reviravoltas na trama e de “fanservice“. No entanto, isso acabou prejudicando a série, porque havia muita coisa acontecendo em episódios insuficientes, levando a saltos no desenvolvimento do personagem que pareciam muito repentinos e injustos. Os fãs ansiavam pelo ritmo das temporadas anteriores, onde o progresso era lento, mas momentos de triunfo e horror foram conquistados ao longo de episódios, se não temporadas inteiras, de acúmulo.

Não é à toa que esse meme existe.

Então, da próxima vez que você se sentir frustrado com um episódio “entediante”, tente encontrar um momento que você tenha gostado, seja uma piada ou uma interação com o personagem. Lembre-se de que esses episódios são capítulos de uma história e que a história ainda está sendo contada.

E para os escritores e contadores de histórias por aí, lembre-se: a alegria está na jornada. Essas fugas e buscas paralelas costumam ser o diamante bruto, muito mais recompensadores do que a joia da trama principal.


Texto traduzido e adaptado da TheMarySue.

Compartilhe: