Um pouco sobre o mercado em duas perspectivas femininas.
O mercado de desenvolvimento de jogos pode ser assustador para algumas garotas. Salários inferiores, menor reconhecimento, poucos cargos disponíveis, assédio e ambientes tóxicos são apenas alguns dos relatos vindos da indústria. Felizmente, há quem tenha decidido encarar a profissão de frente, mostrando para o mundo os seus talentos e suas paixões.
Durante a Game XP 2019 tivemos a oportunidade de bater um papo com duas desenvolvedoras que estavam apresentando seus projetos na Dev Park – uma arena exclusiva com estandes de jogos brasileiros independentes, semelhante a um “mini Big Festival.” Elas contam um pouquinho sobre suas experiências no universo “dev like a girl”. Confira:
Ziani

Garotas Geeks: Fala um pouco sobre você, Ziani.
Ziani: Eu sou uma das game designers do projeto. Fui uma das pessoas que pensou em como o jogo seria jogado, o que teria nele, quais seriam as mecânicas, as pessoas que iriam jogar e o que elas gostariam de ver no jogo. Fiquei mais com essa parte criativa.
GG: Foi seu primeiro projeto ou você já tem outros games no currículo?
Z: Faz 1 ano que estou estudando Jogos na UFRJ, mas esse foi meu primeiro projeto grande, fora da faculdade. Todos os outros foram para a faculdade. Este é o primeiro que estou tendo um envolvimento maior, e ele tem uma proposta interessante, que é para os parques do Rio de Janeiro. Como é uma coisa mais concreta, por causa da questão cultural, tem mais investimento e mais olhares, e acabou sendo o meu maior projeto.
GG: Você, como mulher, está sendo bem recebida nesse projeto, ou sente alguma diferença na forma de tratamento?
Z: No projeto as coisas são mais abertas porque somos eu e mais uma menina, e os outros 3 integrantes são homens. Mas a gente sempre luta por isso, e não aceitamos discriminação. Vocês querem uma game designer boa, uma programadora boa? Então estamos aqui. Mas na faculdade essas coisas são diferentes; nós temos um Núcleo lá para apoio das meninas que estão na faculdade. Muitas querem sair por causa desse meio mais machista, mas a gente sempre apoia elas, e está dando super certo.
Com relação a estarmos aqui na GameXP, não senti nenhuma discriminação. A gente vê algumas diferenças, mas mais porque algumas pessoas são mais conhecidas. Por questão de gênero, acho que as coisas não estão mais visíveis, principalmente aqui dentro, que é um evento grande.
GG: Algum recadinho que você queira deixar?
Z: Queria incentivar o pessoal que tem interesse em fazer jogos a entrar nesse mundo porque é uma coisa muito divertida!
Maria Catarina

Garoas Geeks: Fala um pouco sobre o projeto Cadente.
Maria Catarina: Cadente é um jogo mobile inspirado em alguns jogos como Angry Birds e Astra. Eu fiz a arte do jogo, outra pessoa fez a música e outra programou. Nós três juntos desenvolvemos a ideia, então somos todos os game designers do projeto também, apesar de cada um ter a sua especialidade.
GG: Já tinha feito algo na área de games? Você estuda games?
MC: Já fiz alguns games antes, mas analógicos. Fiz jogos de cartas e tabuleiros, mas digital, esse é o primeiro. Estou envolvida não só com esse game, mas com a área de games, porque faço parte de um grupo na faculdade que se chama RPG, que desenvolve jogos tanto analógicos quanto digitais. É um grupo da PUC-Rio. Então temos como desenvolver jogos na faculdade também.
GG: Como você se sente sendo uma garota nesse universo que, muitas vezes, é super machista?
MC: É complicado, né? Eu tive a sorte (ou não) de fazer jogos eu mesma, sozinha, ou com mais uma pessoa, jogos sempre independentes, então nunca senti o peso de algum chefe ou de alguma organização que tenha políticas não-abrangentes. Mas, por exemplo, entre os finalistas [do Concurso Inova Games], só tem eu de mulher. Isso é muito estranho, sabe? Acho que deveria ter pelo menos a metade, já que somos a metade da população (ou talvez até mais…). Aí me sinto muito honrada, acho que eu posso fazer alguma coisa que traga mais mulheres para onde estou agora porque é muito legal!
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O Dev Park foi um estande da Game XP 2019, que ocorreu entre os dias 25 a 27 de junho, no Rio de Janeiro., e fez parte da Inova Arena, elaborada pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro. Uma parte da equipe da Secretaria estava lá, e nos explicou um pouquinho sobre esse projeto:
“Estamos trazendo alguns desenvolvedores que foram incubados no Rio Criativo, que é um programa dentro da Secretaria, assim como alguns outros desenvolvedores que vieram através de uma chamada pública, e foram selecionados com a curadoria do Diogo [Assessor-chefe do Rio Criativo].” disse Juliana Vargas, Coordenadora de Eventos da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro.

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Redatora, especialista em criação de conteúdo para jogos digitais e acadêmica de Letras. Cresceu escondida entre estantes de livros e dungeons de RPG. Orgulhosamente Top 100 Mundial em Robot Unicorn Attack.