O papel realmente merecia uma pessoa trans de intérprete.
Eddie Redmayne falou várias vezes sobre seu papel em A Garota Dinamarquesa, no qual interpretou uma mulher trans. Mais uma vez, ele está expressando seu pesar por ter assumido esse papel.
Dirigido por Tom Hooper, o filme biográfico romântico (vagamente) de 2015 contou a história de Lili Elbe e Gerda Wegener. Lili era uma pintora e transexual dinamarquesa, e Wegener uma ilustradora e pintora que se casou com Elba antes de sua transição. Como a lei dinamarquesa da época não reconhecia o casamento entre duas mulheres, seu casamento foi anulado em outubro de 1930 pelo rei Christian X, após quase 30 anos de união. O filme foi inspirado no romance de David Ebershoff.
Quando foi lançado, com os atores principais Redmayne (Elba) e Alicia Vikander (Wegener), o filme também gerou uma frustração de que essa era a representação de um romance homossexual trans, contado principalmente pelas lentes de homens cis – sem mencionar o fato que eles mudaram a causa da morte de Elba, que faleceu devido a um transplante de útero (sua quinta operação), que gerou rejeição. Em vez disso, no filme, ela morre após a segunda cirurgia de redesignação de sexo.
Na época, a escritora trans Carol Grant disse que o elenco de Redmayne era “regressivo, redutor e contribui para estereótipos prejudiciais”. Ela acrescentou: “O que deveria ter sido uma celebração de uma figura transgênero muito complexa e atraente é, em vez disso, transmisógino e simplesmente misógino em geral”.
É desconfortável como o inferno estar tão cedo na minha própria transição e ver palavras como “bravura” e “heroísmo” usadas para descrever Redmayne, mesmo que ele seja capaz de se livrar da experiência após sua provável vitória no Oscar, o tempo todo sendo isso um ponto prático de vida para mim e para milhões de outras mulheres trans como eu.
Durante uma entrevista ao Sunday Times, Redmayne disse que a crítica era justificada e reafirmou que assumir o papel foi um “erro” e ele não aceitaria se fosse oferecido hoje.
“Não, eu não aceitaria agora”, disse especificamente.
A maior discussão sobre as frustrações em torno do elenco é porque muitas pessoas não têm uma cadeira à mesa [dos elencos]. Tem que haver um nivelamento, senão vamos continuar tendo esses debates.
É ótimo que Redmayne não tenha se afastado dessa conversa porque há um motivo para continuarmos conversando. Há mais cadeiras à mesa, mas não o suficiente.
Fontes: The Mary Sue | CNN.
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Débora é musicista, professora de artes, pesquisadora de sociologia de gênero. Autoproclamada otaku-não-fedida e gamer casual. A alcunha de Liao veio de um site aleatório de geração de nomes japoneses (Liao é chinês, mas tudo bem).