Resenha das edições #1 à #3 de Estranhos no Paraíso.

Duas garotas: Katchoo e Francine. Katchoo é a garota que não leva desaforo pra casa. Muito sincera e de temperamento forte, é uma artista muito sensível. E completamente apaixonada por Francine, a amiga com quem divide a casa. Francine é doce, meio boba alegre, super insegura, mas que quando bota uma coisa na cabeça vai até o fim. Elas parecem dois opostos, mas, na verdade, são mulheres decididas que correm atrás do que querem.

 

Francine só namora homens babacas, e o atual é o Freddie. O cara que acabou o namoro porque ela não quis trepar com ele após um ano juntos. Ela achava que quando trepava com os caras, eles acabavam tudo por perderem o interesse. Quando, na verdade, o problema estava nos caras superficiais que não conseguem ter um relacionamento no qual não possam controlar o parceiro. E Katchoo, coitada, tem de aguentar essa situação. Não calada, afinal, grita e joga na cara de Francine várias verdades. Mas sofre apaixonada.

Daí, aparece David, um rapaz doce e solícito, que se apaixona por… Katchoo! Que ama Francine. Que gosta de Freddie. Que gosta de ninguém.

Estranhos no Paraiso2

Isso é Estranhos no Paraíso. Mas não só isso. A obra de Terry Moore lançada em 1993, vencedora do Prêmio Eisner em 1996, e que agora está disponível na plataforma online de leitura de quadrinhos, o Social Comics, fala de amizade, de amor, de convivência, de problemas reais da vida. De tentar encarar, da melhor forma possível, um relacionamento abusivo, as inseguranças por não achar que se encaixa em um padrão, traição, famílias desestruturadas, prostituição… cara. Que difícil!

Estranhos no Paraiso6

A obra não fica só no drama do dia a dia. Tem muita luta também, por incrível que pareça. Cenas com um bom nível de violência são protagonizadas por Katchoo, uma mulher que consegue resolver seus problemas sozinha, sem a ajuda de homem algum. E ela grita isso bem alto para todo mundo ouvir. E se tiver de capar um cara e ser presa por isso, ela o fará chegando até as últimas consequências. Daí surgem mistérios sobre o seu passado do tipo: por que ela tem uma ficha policial? E como consegue dar uma chave de nariz num homem com o triplo do seu peso?

Já Francine é aquela garota que se deixa levar pelas emoções. Quando fica triste, se afunda na comida, ou quando ama, fica cega. Porém, ao final da obra, descobrimos que ela sabe, sim, o quão incrível é, e resolve seus problemas do seu jeitinho. E David é o cara que a gente simplesmente quer ter por perto só porque ele é bom. É sempre legal ter pessoas boas por perto.

E fica a mensagem de que, no final, quem tem amigo, tem tudo.

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Fora a arte do Moore que dá formas diferentes a cada personagem. Katchoo é a garota baixinha e magrinha, que se veste de forma meio masculinizada. Francine é voluptuosa, cheia de curvas e charme. David é só um rapaz, nem forte, nem magro, como qualquer pessoa. O traço tem uma pegada tanto meio realista, mas ainda assim bem arredonda, com muita expressão e movimento. Muito agradável aos olhos, auxilia na narrativa ainda atual, dessas devoráveis.

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Eu cheguei a ler Estranhos no Paraíso no início dos anos 2000, emprestado de um amigo. Me encantei, mas não consegui continuar a leitura. Atualmente, estou traduzindo a obra para o Social Comics. Não a estou resenhando porque trabalho nela, mas porque me apaixonei completamente.

Ela possui camadas, poesia, personagens verdadeiras, e que me faz me emocionar a cada edição. Acho o amor que Katchoo sente por Francine simplesmente fascinante. Inclusive, torço por elas duas. Acompanho as dores de Francine de perto. A forma como desconta seus problemas na comida, e engordando, com um pesar, porém, entendendo tanto a situação de uma forma que só quem se sente perdida na vida consegue. E quem não está assim? Vejo David como um ombro amigo e que pode proporcionar ainda muitas coisas legais. Sabe aquela pessoa que surge na nossa vida e é maravilhosa? Então, é o David.

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Eles viraram meus amigos. E essa relação que se cria com a obra é algo bem difícil de se conseguir. Poucos alcançam essa proeza e Terry Moore conseguiu! Afinal, amor não tem gênero. Amor existe entre amigos, por si mesmo e pelos outros. Amor é respeito e uma constante nessa vida.

 

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