Um pouco da história de John Lewis e Martin Luther King e suas lutas para o fim da segregação nos EUA.

Estamos em um momento na história em que se está discutindo ativamente sobre minorias e suas questões. Principalmente sobre preconceitos e violências que as cercam. Um desses temas que existe muito forte no Brasil é o racismo.

Durante nossa colonização, muitos negros oriundos do continente africano foram trazidos à força para cá para serem escravizados. E, bem, essa história a gente já conhece. Assim como seu resultado: um país com muitos negros que não se encontram em pé de igualdade com outros setores da sociedade.

Este fenômeno também se deu nos EUA, ainda que de forma diferente. E isso resultou num racismo mais escancarado. Pode-se até se perguntar como um racismo pode ser mais escancarado do que no Brasil.

A Marcha 1

Daí, então, para entender o esse contexto estadunidense e suas características, existe a HQ “A Marcha – livro 1: John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade”, com roteiro de John Lewis e Andrew Aydin e arte de Nate Powell, lançada pela Editora Nemo. Contudo, essa não é uma obra para falar só de racismo, mas de uma luta, ainda que pacífica.

A Marcha 6

John Lewis é um líder do movimento pelos direitos civis/humanos e político estadunidense. Sua luta foi pautada pela não violência e dentro da igreja evangélica. Aqui, é narrada a sua história.

Com um roteiro que vai e volta entre o presente de 2009 e seu passado na infância, adolescência e jovem adulto, Lewis vai contando como foi crescer numa fazenda, depois ir para a escola e então conseguir entrar para a faculdade.

A Marcha 10

Mas essa sua vida era pautada pela segregação racial, afinal, ele é negro. Então sua escola era a de “gente de cor” – nos EUA existe esse termo para designar qualquer pessoa que não seja branca – e isso significava um prédio sem estrutura e nem área de lazer, assim como um ônibus escolar muito precário. Mas o que faltava de infraestrutura, tinha de vontade de ensinar e aprender.

Desde cedo foi despertado em Lewis a noção de que com conhecimento técnico, escolar, ele poderia buscar por algo. E este algo ainda estava sendo definido em sua vida.

A Marcha 8

Tendo uma forte ligação com a religião evangélica – não essa comercial popular no Brasil, mas aquela que prega o amor ao próximo – ele tinha a clara noção de que todos são iguais perante a Deus. E, assim, teve contato com o Evangelho Social que Martin Luther King pregava.

E ser despertado por estes ensinamentos, além de querer uma realidade em que uma pessoa de cor pudesse ser atendida num balcão de lanchonete, ou experimentar uma roupa numa loja de departamento fez com que isso iniciasse a sua Marcha pela Liberdade.

A Marcha 14

Essa HQ tem uma leitura rápida e fluida. As idas e vindas ao passado são bem transacionadas. É quase como ler um filme.

O texto é simples, de fácil entendimento e narrativa clara. A arte tem uma pegada mais para o realismo, toda em preto e branco e com expressão bem humana. Sem exageros, os traços caracterizam tanto a dor, a raiva, como a alegria.

A música também faz parte da história uma vez que ela aparece aqui e ali permeando certas cenas. Sempre como um elemento que carrega uma informação e leveza a mais para momentos duros. É ela quem salva e acalenta a alma.

A Marcha 13

As composições das páginas são inteligentes ao ponto de saber usar cada espaço para permear a narrativa. Há tanto a divisão de quadros mais comum das HQs quanto, ao fundo deles, imagens e cenários que dão um tom dramático ou que situam geográfica e temporalmente.

Voltando à equiparação cinematográfica, é como aquelas cenas em que o diretor escolhe uma paisagem com uma bela fotografia para então introduzir um diálogo ou situação.

A edição tem capa cartonada com orelhas e miolo em offset. A segunda parte já foi lançada pela editora e estou louca para ler.

A Marcha 12

Pois o resultado é uma HQ envolvente, inspiradora, que dá um nó na garganta e levanta questionamentos. Porque em plena década de 1960 “pessoas de cor” não podia sentar em balcões de lanchonete, ou ir para as mesmas escolas que pessoas brancas? E quando se tentava conviver juntos, eram presos? Por que hoje, em 2019, ainda existem salários mais altos para brancos? Por que as cadeias têm mais gente preta, e isso tanto em 1950s a até hoje? Por que quando se luta por direitos humanos autoridades prendem e proíbem tais ações?

Não há respostas diretas, pois esse é um ensinamento que se tem que entender, ler e assimilar para que, então, marchemos.

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