A nova animação deixou a história de He-Man muito mais interessante e você só perde em não assistir!

No dia 23 de julho, chegou à Netflix a aguardada série de animação Masters of the Universe: Revelation, e em português traduzido para Mestres do Universo: Salvando Eternia. A animação contou com a produção de um dos ícones da cultura nerd norte-americana: o diretor, produtor, eventual ator, roteirista de cinema e de quadrinhos, Kevin Smith.

O elenco de dubladores contou com estrelas como Chris Wood (conhecido por interpretar Mon-El, na série Supergirl, da CW), como He-Man/Príncipe Adam; Sarah Michelle Gellar (a eterna Buffy – a Caça Vampiros, e também a Daphne dos filmes live-action de Scooby-Doo) como Teela; Lena Headey (que interpretou a impiedosa e poderosa Cersei Lannister em Game of Thrones) como Maligna; Mark Hamill (que ficou imortalizado no papel de Luke Skywalker em Star Wars, mas que também é um dos maiores dubladores de vilões da cultura pop, tendo emprestado sua voz para personagens como Coringa, Megatron Prime e Ozai – o imperador do Fogo de Avatar: A Lenda de Aang) como Esqueleto; Liam Cunningham (o Sir Davos Seaworth, também de Game of Thrones) como Mentor; entre outros.

No Brasil, o time de dubladores foi igualmente excepcional, contando com alguns dos maiores nomes da atual geração de dubladores, como: Guilherme Briggs na voz do Pacato; Glauco Marques na voz do He-Man/Príncipe Adam; Maíra Gomes na voz de Teela; Guilherme Lopes como Esqueleto; Márcia Coutinho como Maligna; Ricardo Rossato como Mentor e Mário Jorge de Andrade como Gorpo.

Antes de continuar a falar da nova série, porque você não é obrigada a conhecer a animação original, vamos fazer uma breve contextualização:

A origem de He-Man e os Mestres do Universo

He-man and de Masters of Universe - Divulgação Filmation-Mattel
He-Man and de Masters of Universe – Divulgação Filmation-Mattel

A série animada He-Man e Os Mestres do Universo foi lançada em 5 de setembro de 1983 no Reino Unido, e em 26 de setembro de 1983 nos EUA. No Brasil, o desenho foi inicialmente exibido em 1984, no programa Balão Mágico e, posteriormente, no Xou da Xuxa e na TV Colosso. A animação teve originalmente duas temporadas, com 130 episódios de aproximadamente 22 minutos. A produção ocorreu pela Filmation, encomendada pela Mattel, com o objetivo de impulsionar as vendas da linha de brinquedos Mestres do Universo. 

A sinopse: No planeta Eternia, terra de magia, mitos e fantasia, o Príncipe Adam, jovem filho do Rei Randor e da Rainha Marlena, é secretamente o guardião do Castelo de Grayskull. Quando levanta a Espada do Poder e grita “Pelos Poderes de Grayskull!”, Adam se transforma em He-Man, o homem mais poderoso do universo. Junto com seus amigos Mentor, Teela, Gato Guerreiro (que na verdade é a transformação do tigre medroso de Adam, Pacato), Feiticeira e Gorpo, He-Man usa seu poder para defender Eternia das forças do mal de Esqueleto e sua trupe de vilões. Basicamente, Esqueleto quer derrotar He-Man e conquistar o Castelo de Grayskull para ter poderes suficientes para governar Eternia (sim, é praticamente um plano do Cebolinha repetido por 2 anos a fio).

Mas então qual o motivo do rebuliço ao redor da nova série? Apesar dos cinco primeiros episódios terem se saído bem com os críticos, a série sofreu ataques de fãs desapontados com algumas decisões “polêmicas”. Discutimos a seguir.

ATENÇÃO: a partir daqui, vamos dar SPOILERS de Mestres do Universo: Salvando Eternia. Se você ainda não viu, pare tudo e vá lá conferir! Se você não se importa com pequenos spoilers, sente e pegue a pipoca.

Por que o revival está recebendo tantas críticas?

O fato da Mattel ter escolhido Kevin Smith para o papel de produção executiva da nova fase do desenho já diz muito. Qualquer pessoa familiarizada com a sua obra, em geral filmes indies profanos como Clerks (O Balconista, 1994), Chasing Amy (Procura-se Amy, 1997)  e Dogma (1991), ficaria surpreso – o próprio Smith se surpreendeu com o convite da empresa de brinquedos. Ele contou, numa entrevista para a Variety, que era apenas um adolescente quando o desenho original estava sendo lançado, e não era exatamente um fã obstinado. Disse:

Quase odiava assistir, porque pensava ‘esse programa é para bebês’. Eles têm um dos vilões mais durões da história, o Esqueleto, que é visualmente incrível, e tudo o que ele faz é dar cambalhotas e não lutar de verdade. Ninguém nunca foi esfaqueado. Mas estávamos nos anos 80, então você assistia tudo que estava passando.

Fora seu trabalho no cinema, Smith foi autor de séries de quadrinhos como Demolidor da Marvel e Arqueiro Verde da DC no final dos anos 90 e início dos anos 2000 – então sim, ele entende bem de heróis e, por isso, mesmo conseguiu trabalho nas duas maiores empresas de quadrinhos do mercado. Rob David, vice-presidente de criação de conteúdo da Mattel, apreciava o trabalho de Smith desde sempre: “Ele pegou algumas das grandes coisas que Frank Miller fez com o Demolidor e encontrou uma maneira de honrar isso, mas depois construir algo novo sobre isso”. Explica-se a partir daí a intenção da empresa: eles queriam que Smith fizesse o mesmo com He-Man, pegando a série dos anos 80, e continuasse essa história com aqueles personagens, só que agora para um público adulto. Finalmente, He-Man e Esqueleto poderiam realmente lutar, e um – ou ambos – poderiam ser esfaqueados! E Smith adorou a ideia – sabendo desde o começo que era difícil trabalhar nesse tipo de coisa, e também como uma base de fãs reage quando não recebe exatamente o que cresceram assistindo. Mas ele aceitou o trabalho como um desafio e prometeu ser fiel ao espírito do desenho original.

Um pouco depois de 24 horas após a estreia de Mestres do Universo na Netflix – e apesar dos avisos quase universalmente positivos dos críticos – a série sofreu bomb review, ou seja, foi “bombardeada com críticas” de usuários que postam, por exemplo, no Rotten Tomatoes e no IMDb (explicamos sobre o que são essas bomb reviews no nosso Instagram). O consenso entre os #chateados: Smith não deu aos fãs o que eles assistiam quando cresceram – o que quer dizer que ele não deu o He-Man da década de 80.

No entanto, é aí que a série brilha! Já no primeiro episódio, Smith, David e o resto da equipe tomaram uma decisão criativa ousada: He-Man e Esqueleto “morrem”, levando com eles toda a magia de Eternia. A missão de Smith era fazer uma série do He-Man em os personagens pudessem realmente morrer, então qual a melhor maneira de deixar isso claro do que matar o herói e vilão principal logo de cara? Após isso, são os amigos de He-Man, e até mesmo alguns de seus inimigos, quem precisam descobrir como trazer a magia de volta e salvar o mundo e o universo. Nessa busca, eles são liderados, com relutância, pela ex-compatriota leal de He-Man, Teela.

E é exatamente em função disso que a história ganha profundidade: surge um enredo encorpado com riscos reais e consequências reais, com personagens cheios de nuances, imbuídos de sentimentos genuínos e maturidade psicológica. Qualquer clássico que queira se reinventar anda em corda bamba para agradar os fãs, mas é importantíssimo que tente evitar meramente regurgitar o que veio antes. Nas palavras de Smith: “Para que algo esteja vivo, deve ter a capacidade de surpreender. Tem que ter capacidade para crescer”.

No episódio 2, Teela está trabalhando como uma mercenária, e sua desilusão com He-Man e alienação da magia funcionam como uma espécie de alegoria para o cinismo da idade adulta, ofuscando as maravilhas da infância. Ela é o veículo perfeito para o que Revelation estava tentando fazer: remover tudo o que os heróis se preocupavam para chegar ao cerne de quem eles realmente são, e o que os torna heroicos. Smith finalmente permitiu que He-Man tivesse sua própria Jornada do Herói, tendo Teela como motivação. Através dela, Smith mostrou a importância de He-Man e de todos os temas debatidos em sua jornada.

Masters of Universe Revelations Divulgação 3 Netflix

Mestres do Universo finalmente fez com que o desenho de He-Man não fosse sobre um único gênero, mas sobre se ver em algum personagem. Se tornou algo que nos dá nostalgia do passado, mas também o prazer de assistir e perceber que o novo é muito melhor. Alguns fãs só querem sua infância novamente, mas de forma alguma isso significa que a ideia conservadora do “bom mesmo era antigamente” seja verídica ou sincera. O passado teve suas coisas boas, mas o presente tem milhares de vantagens.

Por isso, não resta dúvidas que Smith e sua equipe foram bem-sucedidos em alcançar o que se propuseram a fazer: uma série que se pareça com uma continuação adulta e sofisticada da série de animação He-Man do anos 80. O compositor Bear McCreary (que fez trilhas fantásticas para Battlestar Galactica e The Walking Dead) escreveu uma partitura arrebatadora que leva a história a sério e traz uma emoção ainda maior para a narrativa. Várias partes do desenho original voltam, mas usadas com inteligência – e vários personagens legais fazem aparições memoráveis. A série animada, liderada por Patrick Stannard e Adam Conarroe (responsáveis pela animação arrepiante de Castlevania, também da Netflix), presta uma atenção amorosa à estética do design do original. Os personagens ainda dirigem veículos como aqueles da linha de brinquedos do He-Man – ao mesmo tempo que se atualizam para permitir um olhar adulto e sensível. Um exemplo: Adam é agora um jovem mais magro e normal, que inclusive prefere ser assim em vez de um super-homem corpulento.

Tanto o fato de que o Príncipe Adam se sente mais confortável em sua aparência real do que com seu alter ego heroico, quanto o fato dele ter morrido ou de que uma série anteriormente liderada por um homem repentinamente coloca uma mulher em seu lugar, geraram uma onda raivosa de uma parte não tão expressiva, mas bastante vocal do fandom de He-Man. E essa parte de qualquer fandom (majoritariamente masculina) é sempre a mais problemática. Eles sabem que ser vocal impacta, e usam essa habilidade em sites de crítica para dar chiliques e encontrar outros que se identifiquem com esses chiliques – alguns que foram inclusive postados pela conta do Twitter @NerdBoomer (exemplo 1exemplo 2exemplo 3exemplo 4exemplo 5exemplo 6 *aqui paramos pra tomar um ar*, exemplo 7, e por aí vai…).

Leia mais: Quando o fandom se torna algo problemático

A resposta negativa para Mestres do Universo: Salvando Eternia foi, em sua maioria, um ataque malicioso de homens que não gostam de expressões como “masculinidade tóxica”, “feminismo”, “empoderamento feminino”, “representatividade”, “machismo”, “racismo” ou “homofobia”, mas adoram palavras como “lacração” e “politicamente correto”. Sentem ojeriza de mulheres musculosas (na verdade de todo tipo de mulher, mas vez ou outra direcionam seu ódio para tipos específicos) – ou mulheres minimamente reais. Teela foi severamente atacada e criticada como “masculina demais”, já que a série trouxe personagens que fazem consenso com o que são: se batalham corporalmente, têm corpos que admitem combate; se usam magia, são mentalmente poderosas em todos os possíveis sentidos e, por isso, usam palavras afiadas. Não estão lá apenas para apreciação do olhar masculino, hétero, branco e cis. Olhar esse que objetifica e desumaniza, que rouba a agência, as nuances emocionais e o respeito que vem do “ser uma personagem imperfeita e ativa com quem mulheres reais conseguem se identificar”.

Smith chegou a desabafar sobre isso: “Eu sei que tem algumas pessoas que estão tipo, ‘Ei, cara, essa série virou politicamente correta’”. “E eu estou tipo, tudo bem, ótimo, então o desenho original que estamos sequenciando também era. Vá assistir de novo. Existem garotas em todos os episódios. Lide com isso.

E ainda completa:

Tem sido interessante ver quem realmente é um fã incondicional. Porque qualquer pessoa que diga, ‘Ah, cara, não tem He-Man o suficiente’ ou algo assim, não entende a franquia em que o baseamos. Houve episódios em que ele [Príncipe Adam] perdeu a espada e nunca se tornou o He-Man. Não era como se He-Man sempre salvasse o dia. Seus amigos o ajudavam. Essa era a porra do ponto da série. […] Eu descobri maneiras realmente interessantes de virar a dinâmica da série do avesso e aumentar as apostas a um ponto que o original nunca viu. Eu vejo as pessoas online dizerem ‘Ei cara, eles estão se livrando de He-Man!’. Tipo, você realmente acha que a Mattel Television, que me contratou e me pagou, quer fazer uma porra de uma série ‘Masters of the Universe’ sem He-Man? Cresça, porra.

A gente adora um bom diretor que sabe usar ironia!

Tudo isso dito, apresentamos a vocês as nossas razões de porque todo mundo deveria assistir (e de quebra por que esse tipo de incelzinho nerdola, racista e machista deveria ir pastar):

Oito motivos para conferir Mestres do Universo: Salvando Eternia

Poster Masters of the Universe Revelation - Divulgação - Netflix
Pôster Masters of the Universe Revelation – Divulgação – Netflix

1 – A dublagem: tanto original em inglês quanto a versão brasileira estão impecáveis! É claro que não dava para contar com os mesmos dubladores, alguns já faleceram ou se aposentaram. Mas o elenco de dubladores é de primeiríssima qualidade, e valoriza ainda mais a animação. Além dos nomes já comentados acima, temos ainda a atriz, apresentadora e influenciadora digital Tiffany Smith como Andra, nova companheira de jornada de Teela; Dennis Haysbert (nada menos que Deus, na série Lúcifer) como o poderoso Rei Grayskull e Alicia Silverstone (mostrando que é bem mais do que uma Patricinha de Beverly Hills ou a Batgirl daquele esquecível Batman e Robin) como a Rainha Marlena.

2 – A animação: o desenho animado original era um tanto tosco, pois o objetivo da série era simplesmente impulsionar vendas de brinquedos e não ser um produto cultural de extrema qualidade. Tanto os cenários quanto os personagens eram bastante limitados. Já Mestres do Universo: Salvando Eternia é de encher os olhos! A animação é super bem feita e tem identidade própria. Traz elementos e faz referência ao antigo desenho de He-Man, felizmente eliminando as coisas mais bregas e dando um toque de humor mais refinado, que cativa o novo público (a animação tem agora uma classificação etária para maiores de 12 anos). Neste novo desenho, percebemos a dedicação do estúdio em compor inúmeras paisagens e cenários do planeta, com diversos detalhes e uma paleta de cores muito mais completa. O interior do Castelo de Grayskull e da Montanha da Caveira, diferentes planos de realidade, servem como exemplo.

3 – A dinâmica entre os personagens: em um plano mais aprofundado do que na animação antiga, Mestres do Universo dá a cada personagem características mais únicas e com maior nuance, o que gera cenas de ação muito mais dinâmicas e empolgantes! Essa parte inclusive possibilitou eliminar outro problema: o control C + control V no design dos personagens ou aquelas cenas excessivamente repetidas e irritantes do desenho original.

4 – O roteiro: o trabalho de Kevin Smith em reviver a saga de He-Man é simplesmente sensacional e ambicioso! Para criar uma nova sequência para estes personagens, é claro que não seria possível repetir a receita de bolo do Bárbaro-Super-Forte-De-Tanguinha-que-resolve-tudo-na-pancada. Uma verdadeira jornada heroica precisa ter desafios, suspense, superação, desenvolvimento de personagem, aliados essenciais, sacrifícios, descobertas… Isso é muito mais do que “He-Man derrotando o plano maligno do Esqueleto desta semana”. E Mestres do Universo: Salvando Eternia oferece o pacote completo: ação, suspense, humor e drama na medida certa, além de inúmeros easter eggs para agradar os fãs mais antigos. E, claro, um enredo muito, muito ousado do começo ao fim – que aliás, finalmente faz bom proveito do lore da franquia. Afinal de contas, ver até mesmo o Esqueleto ser capaz de aprender com seus próprios erros e conquistar aquilo que sempre quis, era – muito provavelmente – a pitada de “picância” que essa história mais precisava.

5 – Os personagens principais e secundários: essa nova Eternia, de Kevin Smith, é bem mais interessante, contudo sem ignorar os fundamentos que fizeram de He-Man e Os Mestres do Universo uma animação tão querida. Uma das características mais legais desta nova animação é que todo mundo evoluiu enquanto personagem. Teela foi promovida à Mentora, enquanto Maligna, Mentor e Feiticeira envelheceram (como vinho!). Os vilões seguidores de Esqueleto tiveram seus próprios prosseguimentos, e até mesmo Gorpo teve um desenvolvimento grandioso. Mas a série nova vai além: cria novos e carismáticos personagens, que se mostram essenciais nesta nova jornada. Descobrimos também que Eternia é bem mais do que o reino do Rei Randor e da Rainha Marlena, o Castelo de Grayskull e a Montanha da Caveira.

6 – Representatividade: a Eternia que foi exibida na TV nos anos 80 parecia um reino nórdico: todo mundo muito branco e de olhos claros. O mais diferente era He-Man, com sua pele bronzeada. As poucas personagens femininas pareciam ter somente a função de servir de suporte para os heróis e de fanservice para os espectadores. Na nova animação, por sua vez, temos uma produção muito mais adequada aos nossos tempos. Adam é consciente do seu papel, e não hesita em se sacrificar para salvar aqueles que ama, mais de uma vez. Vemos afinal personagens negros, homens e mulheres que fizeram e ainda fazem a diferença e são essenciais para a salvação de Eternia, no passado e no presente: Andra, a valente, leal aventureira e engenheira que acompanha Teela em sua jornada heroica e o habilidoso, bonitão e impressionante Rei Grayskull – ele mesmo, o primeiro He-Man, em cuja homenagem foi criado o Castelo de Grayskull.

7 – E, é claro, o protagonismo feminino: Teela é, canonicamente, o centro da nova animação. Ela é uma guerreira treinada, forte e corajosa, que desconhece a extensão do seu poder e sofre por ter sido, na sua opinião, traída por todos a quem amava. Ela sim, sempre foi a personagem mais complexa e interessante de Eternia. E uma série que quisesse ser realmente relevante e ter uma narrativa grandiosa precisaria mostrar a jornada de uma personagem com tanto potencial de desenvolvimento. Para completar, Andra é a parceira perfeita para essa nova fase da vida de Teela: é inteligente, divertida e curiosa. Admira e confia profundamente na amiga, e não mede esforços para acompanhá-la onde quer que for. Até mesmo a Feiticeira e Maligna tem suas histórias expandidas: a protetora do Castelo de Grayskull é poderosa, destemida e muito sábia, pois percebe que para salvar Eternia e, consequentemente, toda a magia do universo, é preciso se aliar com alguém que antes era sua inimiga: Maligna. Uma das personagens mais interessantes da nova animação. Ela definitivamente tem um dos melhores desenvolvimentos entre todos. Ela atua como condutora, e é relevante para colocar em ação vários personagens.

8 – Irritar nerdola chato: Existe algo mais prazeroso que assistir ou acompanhar coisas que grupos cheios de ódio por minorias tentam boicotar? A motivação cresce quando isso acontece. Mas, apesar das piadas aqui, é de essencial importância que esse tipo de mídia tenha nosso apoio – são tão poucas as empresas que realmente se esforçam para criar coisas inovadoras e diversas, e a Mattel realmente deu passos bem audaciosos em lançar Mestres do Universo com todas essas mudanças. A empresa também sabia o quanto isso poderia irritar essa parte do fandom, e mesmo assim nos presentearam com essa série animada. E ela significa muito. Principalmente para mulheres que agora se sentem realmente incluídas e para pessoas negras que agora fazem parte desse universo de forma realmente relevante. A animação importa para todos aqueles que anseiam por mídias que percebam a relevância de trazer essa identificação com todos os tipos de público – não apenas com aquele nicho que hoje se sente atacado pelo simples fato de mulheres e negros ganharem posições de destaque que sempre mereceram. Muitas dessas queixas no boicote podem ser interpretadas facilmente como machistas por natureza, e com certeza deve haver uma maneira melhor de comunicar suas frustrações sem ser um completo babaca. Vale dizer ainda que crítica audiovisual e opinião pessoal são duas MUITO coisas diferentes. Crítica profissional (ou minimamente decente) deve ao menos tentar ser imparcial, e os fãs também conseguem fazer isso se não estiverem cegos de ódio. As análises de especialistas, inclusive, não costumam ser tão negativas exatamente porque os críticos não vão deixar de avaliar o esforço e o trabalho de toda uma equipe (produção, animação, dublagem, não só roteiro) – o que inclusive justifica as notas estarem tão altas por parte dos especialistas. Aliás, fica aqui um detalhe curioso: a única crítica negativa entre as TOP 5 críticas do Rotten Tomatoes apenas condena o fato de que ainda hoje se fazem desenhos com fins comerciais para aliciar crianças.

Apesar de tudo, para quem estiver chateado ou frustrado com o final da Parte 1, o dublador do He-Man, Chris Wood, deu este conselho: “Eu diria para continuar assistindo, com a maior piscadela que uma entrevista apenas de áudio pode dar. Em um mundo cheio de poderes mágicos e sobrenaturais, tudo é possível”.

Até, talvez, conquistar fãs raivosos. Ou não. Se você odeia mulheres, ativa ou passivamente, não assista Mestres do UniversoVocê vai odiar, então vai às redes sociais com sua misoginia e receberá críticas e risadas como resposta (exatamente como você merece).

De forma alguma a série é perfeita, mas a intenção é muito boa, e acerta a maior parte do tempo. Quer dizer, a gente também ficaria um pouco chateada se fizessem uma série nova de Sailor Moon e matassem Usagi. Mas se você assiste com a mente aberta e com amor pela infância, você se permite viver uma experiência totalmente nova que talvez te dê um olhar muito mais legal da história original. Também achamos que a série não precisava ser dividida em duas partes. Mas agora que a Parte 1 já foi lançada, e não tem nada o que se possa fazer, aguardamos ansiosamente para ver como a série vai se desenvolver.

Para finalizar, gostaríamos de lembrar que é importante compartilhar o que você achou na internet – especialmente em sites de crítica, buscando neutralizar os ataques de chilique.


Este texto foi produzido em parceria com a editora Débora Liao.

Fontes: The Mary Sue | Variety | RottenTomatoes | Créditos de imagem: Entertainment Weekly

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