O filme é FODA. A HQ também.

Se você mora no planeta C-53, provavelmente já ouviu falar muito sobre a Capitã Marvel, discutindo tudo, desde sua história de origem nos quadrinhos até os primeiros detalhes do filme. Para mim, nada disso foi mais alto do que a animação da minha mãe quando ela me ligou depois de ver o trailer pela primeira vez. “É a Capitã Marvel! Ela não está vestindo um maiô! Ela está vestindo um traje de voo! Ela é piloto!”

Minha mãe lia histórias em quadrinhos da Marvel quando era criança, antes de ser excluída do espaço por aquelas expectativas estreitas e de gênero que encorajavam as meninas a serem comissárias de bordo em vez de pilotos de caça. Ela sempre sonhou que poderia voar e ser uma super-heroína. Meu avô era piloto e construía aviões na garagem, então minha mãe cresceu em busca de um voo. Ela cresceu e não se tornou uma piloto de caça (embora não seria uma surpresa se ela decidisse fazer isso, tipo amanhã), mas se algum super-herói me lembra da minha mãe, é a Capitã Marvel.

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O slogan do filme da Capitã Marvel é “Mais alto. Mais distante. Mais rápido.” Isso é mais do que uma declaração de intenção para o filme. Esta é uma referência para o que Kelly Sue DeConnick fez no decorrer dos quadrinhos, e embora haja um Vol. 1 intitulado Higher, Further, Faster, More, a ideia (e de fato, a própria linha de pensamento) vem de In Pursuit of Flight, o Vol. 1, escrito por DeConnick, com arte de Dexter Soy e Emma Rios.

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É nesse momento que Carol Danvers faz um novo corte de cabelo, troca seu traje de banho clássico pelo traje de voo, agora icônico (bom trabalho, Jamie McKelvie!) e vai de Miss. Marvel para a Capitã Marvel. Qualquer um que queira continuar no auge de sua empolgação com esse filme deve começar por aqui.

Em In Pursuit of Flight eles sabiam o que estava fazendo quando audaciosamente atualizaram uma personagem mulher já estabelecida, e bateram de encontro com os pessimistas logo de frente nas primeiras páginas, em que a Capitã Marvel e o Capitão América se unem para lutar contra um cara mau, um idiota misógino do mundo real, o Homem-Absorvente (eu poderia dizer que a metáfora praticamente se escreve sozinha, mas dizer isso é tratar apenas superficialmente o diálogo fabuloso que DeConnick criou nessa HQ.)

Essa cena de luta também serve como um caminho para um dos meus lembretes favoritos: para a Carol, ‘Capitão’ é apenas um título, não um ranking de hierarquia. Ela é tecnicamente um Coronel e supera Steve Rogers. Pelo menos, na prática dentro do exército seria assim. Como uma Vingadora, ela não tem certeza de onde ela se encaixa ainda.

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Este volume da Capitão Marvel é sobre Carol tentando descobrir o que significa para ela assumir o novo papel. Ela está examinando de onde ela veio para entender onde ela quer ir a partir dali. Ela olha para seus mentores e inadvertidamente (através de desvios envolvendo viagens no tempo porque né, quadrinhos) se torna uma líder.

Essa HQ é um livro sobre as mulheres trabalhando juntas para remover os limites em seu caminho. Alguns desses limites foram colocados ali por outras pessoas, mas alguns são construídos com base em suas próprias dúvidas. A mentora de Carol, Helen Cobb, teve que trabalhar em torno dos rígidos papéis de gênero de meados do século XX para se tornar uma piloto recordista e uma BAMF (badass motherfucker).

E embora os poderes de Carol tenham mudado significativamente os pontos de partida, isso não significa que tudo que é especial sobre ela venha desses poderes ou que eles facilitem as coisas para ela. In Pursuit of Flight é sobre como desenvolver o potencial do nosso poder, não simplesmente saber quanto de poder ou que tipo de poder nós temos.

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Dei à minha mãe o volume do In Pursuit of Flight, juntamente com alguns outros quadrinhos escritos pela DeConnick. Ajudar minha mãe a redescobrir seu amor pelos quadrinhos e ver o quanto isso significa para ela – que uma mulher pode ser uma piloto de caça em um traje de vôo (não em um collant), e também uma super-heroína epônima em uma das maiores franquias da cultura pop do mundo – tem sido muito especial.

Fala-se muito sobre o que esse tipo de representação isso significa para nossas filhas, mas às vezes esquecemos o quanto uma super-heroína como a Capitã Marvel pode significar para mulheres como nossas mães, assim como a todas as mulheres que nos ajudaram a ser “as estrelas que sempre fomos destinadas a ser”.


Texto traduzido e adaptado do The Mary Sue, autoria de Tia Vasiliou | Imagens: Marvel Comics

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