Barbie não é responsável pelo comportamento de Ken!
A Barbie de Greta Gerwig tem sido amplamente celebrada como um filme que centra as experiências das mulheres, abordando questões complexas de feminismo, patriarcado e o que significa ser mulher.
No entanto, um aspecto do filme parece totalmente contra-intuitivo para esse objetivo, a ponto de potencialmente tocar em alguns dos maiores pontos de discussão dos piores cantos da internet.
E, infelizmente, é o enredo de Ken.
É apenas Ken
**Spoilers da Barbie à frente**
Em Barbie, Ken é totalmente definido por seu relacionamento com a Barbie e seu trabalho de “Praia”. Barbie deixa claro que suas amizades são as coisas mais importantes em sua vida e ocupam a maior parte de seu tempo, mas Ken ainda faz tudo o que pode para se inserir em sua vida, incluindo acompanhá-la em sua jornada para o mundo real.
A partir daí, Barbie tem que atuar como uma figura materna para Ken, tendo que cuidar dele enquanto cumpre sua missão. Quando ela o deixa sozinho para procurar a garota humana com quem ela acha que está conectada, Ken descobre o patriarcado e se torna a “pílula vermelha” de lá.
Depois de fracassar como homem no mundo real, Ken traz o patriarcado para a Barbielândia, convencendo os outros Kens a se voltarem contra suas Barbies e se declararem os responsáveis. Toda a sua motivação é que Barbie não o respeita ou tem tempo para ele, então ele tenta dominá-la, assumindo a casa dos sonhos dela e jogando fora suas roupas na tentativa de intimidá-la até a submissão.
Dinâmica de relacionamento doentio na Barbie
Para ser justo com o filme, ele está enfatizando ativamente o quão prejudicial é para alguém de qualquer gênero se definir inteiramente por seu relacionamento romântico. O filme também mostra como meninos e homens são atraídos por comunidades online centradas na misoginia porque essas comunidades os favorecem e os fazem se sentir validados e poderosos.
No entanto, o filme também coloca boa parte da culpa pelo comportamento de Ken em Barbie. O filme enquadra o comportamento de Ken como uma resposta direta ao ser ignorado por Barbie, com Barbie tão focada em seus amigos e em sua auto-realização que ela não considera seus sentimentos ou sua qualidade de vida. A própria Barbie expressa se sentir responsável pelas ações de Ken, observando como ela não quer machucá-lo. Existe alguma verdade emocional nisso; Barbie é parcialmente responsável pela dissolução de seu relacionamento com Ken? Sim. Mas isso não a torna responsável pelas ações de Ken, seja ela o motivo dele ou não.
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É um movimento clássico de incel/abusador culpar as mulheres pelas ações dos homens – “Eu não teria feito isso se você não me obrigasse”, “Ela estava pedindo por isso”, “Meninos sempre serão meninos” e um milhões de outras desculpas que absolvem os homens de assumir a responsabilidade por suas ações. É redutor para homens e mulheres.
O que é especialmente estranho é que no filme, o poderoso monólogo do personagem de America Ferrera aborda as maneiras pelas quais as mulheres são consideradas “responsáveis pelo comportamento dos homens … mas se você perceber isso, será acusada de ser uma chorona“.
Pior ainda, quando o patriarcado de Kendom (trocadilho das palavras fandom e Ken) cai, Barbie conforta Ken por sua perda de poder. Ele também tenta ignorar suas ações dizendo que “principalmente pensou que era sobre cavalos e ficou desapontado quando não foi”. Clássico desvio de culpa.
Lembre-se, este homem roubou a casa da Barbie e fez as outras Barbies se vestirem como empregadas domésticas.
Não é apenas o Ken de Ryan Gosling que evita enfrentar as consequências de suas ações. Os únicos bonecos masculinos que não se juntaram ao patriarcado de Kendom foram o melhor amigo de Ken, Allan (Michael Cera) e o descontinuado (e implícito de ser gay) Ken Sugar Daddy e Earring Magic Ken. O resto dos Kens parece bastante entusiasmado com o patriarcado. Enquanto Barbie e Ken não voltam a ficar juntos no final, o resto dos Kens são facilmente perdoados e a maioria volta com suas respectivas Barbies.
No geral, não é uma boa mensagem para enviar a ninguém de qualquer gênero, que 1) pessoas com poder podem se safar degradando seus parceiros e 2) que podem e devem ser rapidamente perdoadas, mesmo quando elas mesmas fizeram esforços mínimos para mudar ou se corrijir. Sejam eles um boneco ou não.
Matéria traduzida e adaptada de The Mary Sue
Leia mais sobre Barbie no Garotas Geeks!
Graduada em Jornalismo e Jogos Digitais e pós-graduada em Mídia Digitais. RP de games. Fã de As Crônicas de Gelo e Fogo, Tolkien, Fables, Miyazaki, Okami, Dragon Age, Mass Effect e Horizon Zero Dawn/Forbidden West. Divido meu tempo livre com os meus vícios em séries, filmes, livros, webtoon, quadrinhos e games.
