James Franco é mais parecido com Tommy Wiseau do que a gente imaginava.


A primeira cena que eu vi de “The Room”, o famoso “melhor pior filme da história”, foi uma compilação dos ataques de Johny, o personagem principal, interpretado por Tommy Wiseau. Ele empurrava a namorada, gritava que ela estava acabando com ele, e atirava uma TV (que parecia feita de isopor) pela janela. Eu lembro de ficar indignada com a agressividade e o machismo do personagem principal. Mal sabia eu que o filme inteiro era muito pior. Sim “The Room” é um filme totalmente sexista, mas é tão ruim (TÃO RUIM), e tenta se levar tão a sério, que se tornou uma ótima piada e um cult da zoeira. E a história por trás da produção, tão bizarra quanto o filme em si, chega aos cinemas pelas mãos de James Franco no longa “Artista do Desastre”.

Quando escreveu o roteiro de “The Room”, Wiseau queria fazer uma espécie de epopeia do herói americano. O personagem principal, Johnny, é um cara legal, trabalhador, que ajuda os amigos e trata a namorada como uma princesa, apenas para ser traído por ela e por seu melhor amigo. A namorada, maior vilã do filme, é fria, egoísta, mentirosa e ninfomaníaca. E segundo os relatos de bastidores, era mais ou menos assim que Wiseau enxergava as mulheres. Ele tratava mal atrizes e assistentes de produção, e não respeitava a privacidade de sua atriz principal, fazendo com que ela repetisse uma cena de sexo com ele diversas vezes, nua e na frente de toda a equipe. Momento que é retratado em “Artista do Desastre”.

O paralelo entre James Franco e Tommy Wiseau é inevitável. Franco interpreta Wiseau, e, como o homenageado, também dirige seu filme. Segundo seu próprio relato, Franco se manteve no personagem o tempo inteiro ao dirigir o filme, agindo de maneira grosseira e sem noção com a equipe, a ponto de fazer seu melhor amigo, Seth Rogens, perder a paciência com ele. Claro, Franco é um ator talentoso, enquanto Wiseau parece um alienígena tentando sem sucesso se adaptar aos costumes dos humanos. Mas fora isso, os dois são narcisistas, egocêntricos e… machistas pra caralho.

“SAAAAI! ESSE MOMENTO É MEU”

De todos os filmes que Franco escreveu, dirigiu ou produziu, nenhum tem personagens femininas bem desenvolvidas. Os famosos “stoner movies”, que Franco ajudou a desenvolver junto com Seth Rogens, usam mulheres como adereços e não perdem uma oportunidade de objetificá-las e sexualizá-las. Em sua vida privada, Franco também não tem uma boa reputação nesse aspecto. Em 2014, o ator, então com 36 anos, tentou atrair uma adolescente de 17 para o seu quarto de hotel através de mensagens privadas no Instagram. Ele acabou exposto e pediu desculpas. Depois de sua conquista no Globo de Ouro, no entanto, começaram a aparecer acusações de assédio, abuso de poder e má conduta sexual.

Segundo os relatos, Franco ficava irritado quando as atrizes se recusavam a fazer cenas com os peitos à mostra, mesmo que o topless não tivesse sido combinado previamente. “Existia também uma cultura de exploração de mulheres e de fazê-las se sentirem facilmente substituíveis”, disse a atriz Sarah Tither-Kaplan, uma das vítimas. “Em uma cena de sexo gravada com Franco e outras mulheres há três anos, ele removeu protetores de plástico que cobriam as vaginas das atrizes ao mesmo tempo em que simulava sexo oral nelas”. Outra atriz disse que ele expôs o pênis e tentou empurrar a cabeça dela na direção do órgão, para que ela praticasse sexo oral nele. Em meio a todos esses escândalos, “Artista do Desastre” ficou de fora do Oscar. Franco não foi nem indicado a Melhor Ator, mesmo tendo levado o Globo de Ouro pelo papel.

Para os que pedem que se separe o artista da obra, esse é um caso clássico em que não é possível fazer isso. O desprezo de Franco por mulheres é evidente em seu trabalho, e sua má reputação vem de seu comportamento pouco profissional nos bastidores dos seus filmes. Assistir a “Artista do Desastre”, que por sinal é um bom filme, e dar dinheiro e visibilidade a Franco é uma escolha pessoal, de acordo com a consciência de cada um. Mas uma coisa é certa, por mais que Franco possa continuar fazendo filmes e ganhando prêmios, seu comportamento predatório não será mais aceito. Time’s up, meus caros.

Texto originalmente publicado no Storia Brasil.

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