Apesar de grande parte do público ser composta de espectadores casuais, que preferem apenas sentar e assistir aos desenhos sem precisar pensar muito, uma parcela crescente da comunidade está se tornando mais engajada em discutir as ideias defendidas pelos animes. Em grande parte, isso se deve ao crescimento na popularidade de canais com foco em analisar essas obras no Youtube, como o Digibro, o Mother’s Basement e o Gigguk, por exemplo. Graças ao seu sucesso, e pelo fato de os fãs terem maior acesso a informações sobre a indústria, a comunidade de anime está se tornando cada vez mais engajada em aprofundar a discussão, e isso é ótimo.
Da mesma forma que as pessoas são encorajadas a se manter informadas sobre política, estar envolvido na discussão sobre anime (ou arte, em geral) permite que nossas crenças mais profundas sejam enfrentadas, queiramos nós ou não. Falar com alguém sobre os desafios enfrentados por Rei em Sangatsu no Lion, ou analisar o que os titãs em Shingeki no Kyojin realmente representam não apenas incentiva as pessoas a pensarem de forma crítica, mas também apresenta perspectivas que podem ser ignoradas de outra forma.
Diálogo aberto sobre anime também serve para legitimá-lo. Não é nenhuma surpresa que mesmo hoje, a popularidade do anime vai atingindo níveis sem precedentes de crescimento, apesar de ainda ser visto por alguns como “desenhos chineses”. A discussão séria sobre anime como algo além de “coisa de criança” ajuda a demonstrar que na verdade se trata de uma forma de arte que as pessoas devem levar a sério.
Ultimamente, quando falamos sobre coisas que adoramos, isso cria uma espécie de senso de comunidade. É um sentimento ótimo aquele de ter um amigo, seja online ou em algum local de convívio comum, que goste de falar sobre séries que estamos assistindo, realmente se dedicando a conversar sobre isso. Saber que podemos falar sobre o último episódio transmitido ou sobre o que estamos assistindo no momento, poder conversar sobre as próximas temporadas, apontando méritos e defeitos da série ou o que a torna boa, é um sentimento diferente de qualquer outro.
Talvez isso possa soar como senso comum dentro da comunidade, mas vale a pena repetir. Sem um pensamento real sobre o que estamos assistindo, ou uma análise sobre o que torna um show tão bom, e sem essa discussão, provavelmente a comunidade não seria tão interessante quanto é.
Traduzido da Goboiano. Imagens: Studio Ghibli
Débora é musicista, professora de artes, pesquisadora de sociologia de gênero. Autoproclamada otaku-não-fedida e gamer casual. A alcunha de Liao veio de um site aleatório de geração de nomes japoneses (Liao é chinês, mas tudo bem).
