Lições bem importantes.

A Pixar é conhecida por muito mais do que seu característico estilo de animação e seus divertidos easter eggs. Ela tem histórias poderosas com perspectivas únicas que em geral focam em questões de inteligência emocional e dão lições de vida para fãs de todas as idades. Divertida Mente, animação de 2015, mostra essa fórmula através dos olhos das emoções de uma menina pré-adolescente.

Imagem: Walt Disney Studios/Pixar Animation Studios

O mundo e o núcleo emocional de Riley, a protagonista, ficam abalados quando sua família se muda de Minnesota para São Francisco, nos EUA. Suas cinco emoções principais (personagens na história) – alegria, tristeza, raiva, medo e repulsa – precisam aprender a evoluir para guiar Riley através de uma mudança crucial em sua vida.

A missão dessas emoções de restaurar as principais memórias de Riley e balancear sua “personalidade” oferece muitas lições valiosas sobre como reconhecer, respeitar, validar e processar nossas próprias emoções, que frequentemente são complexas e bem fluidas.

O que não é uma tarefa fácil para humanos de qualquer idade – ainda mais com eventos que mudam o mundo de uma hora para a outra, como o COVID-19, ou tragédias que partem o nosso coração. Essas coisas tornam ainda mais difícil lidar com uma avalanche de sentimentos.

Por isso deixamos aqui cinco lições de vida que Divertida Mente nos ensina, que provavelmente poderá nos incentivar a ser mais gentis conosco e com os outros!

Revisite suas memórias principais

Imagem: Walt Disney Studios/Pixar Animation Studios

Como Riley, todos temos um centro cerebral com um número x de memórias essenciais. São os momentos principais e mais importantes das nossas vidas que nos moldaram na pessoa que somos hoje. À medida que envelhecemos, essas memórias podem estar ligadas a uma mistura de emoções. Ou podemos olhá-los apenas através de uma lente nostálgica cor de rosa. De qualquer forma, é importante aproveitar essas memórias básicas, porque, como o filme diz, são elas que fazem de você… você.

Essas memórias servem pra te lembrar os momentos em que você se sentiu triunfante, quando conseguiu conquistar algo grande, ou mesmo uma experiência negativa que alimenta seu desejo de lutar pelos outros, por exemplo. Essas lembranças te informam as coisas que você realmente ama, desfruta ou precisa evitar para seu próprio bem-estar mental e emocional.

Você se lembrará de que a vida não foi perfeita, mas você é capaz, único e amado por alguém.

Abrace a tristeza

Essa é sem dúvida uma das maiores lições do filme. Na animação, as outras emoções de Riley estavam determinadas a não permitir que a Tristeza tivesse espaço na vida da pequena adolescente. E isso foi um reflexo direto do comportamento dos pais de Riley impresso em seu subconsciente: eles esperavam que ela sempre fosse sua garota feliz o tempo todo e levasse tudo a sério, mesmo durante uma difícil transição como a mudança de uma cidade que foi seu lar por tanto tempo, onde ela tinha muitos amigos que ela se importava e queria por perto, onde suas memórias felizes existiam.

Isso também se reflete na mente de Riley pela determinação que Alegria tem de colocar a Tristeza em segundo plano sem perceber que ficar triste deveria ser uma função comum e deveria ter um lugar e espaço na vida de Riley como ser humano. Essa negação do seu próprio pesar levou Riley a ter conflitos e fazer seu corpo/mente entrar em colapso – para só perceber que as emoções geralmente funcionam em conjunto. Por exemplo, quando Riley ficou triste por perder um jogo, seus colegas de equipe e os pais vieram para animá-la. Isso também deu motivação para que ela avançasse. E é a Tristeza que ajuda Riley a perceber que não se deve fugir, e que crianças podem e devem se abrir com seus pais sobre seus sentimentos.

De acordo com a Psych Central, lidamos com a pressão de “parecermos felizes” o tempo todo, para não parecermos depreciativos, o que nos leva a não enfrentar nossa tristeza. As mensagens de ser “forte” e ter “boas vibrações” dominam as mídias sociais, mas o incentivo para evitar a tristeza geralmente começa na infância. Os adultos dizem com raiva às crianças que choram para que parem de chorar, mesmo quando elas têm um “bom motivo” para estar chorando. Essas mensagens iniciais nos informam que não podemos ficar abertamente tristes porque isso deixa as pessoas desconfortáveis.

A tristeza não é agradável, mas é uma emoção necessária. Somos seres humanos e temos o direito de experimentar uma gama de emoções. Não há problema em chorar. A tristeza nos permite ouvir a o que temos a dizer pra nós mesmos e processar nossas emoções, em vez de enterrá-las só para ter um conforto temporário. Se tentarmos ignorá-la, estamos apenas nos preparando para uma explosão futura. Sentimentos de tristeza também nos dão uma liberação necessária de hormônios necessários que podem nos ajudar a ver uma situação com clareza emocional. Por isso, abrace a tristeza.

É bom também acrescentar que existe uma diferença entre sentir uma tristeza temporária e experimentar depressão. Eventos mais sérios da vida como a perda de um ente querido, de um emprego importante ou de falhar em algo podem levar à tristeza; uma pessoa que experimenta isso geralmente pode encontrar algum alívio chorando ou conversando com alguém e esperando o tempo trazer de volta uma certa normalidade. Em suma, a tristeza está ligada a algo específico e que passa com o tempo. Se uma pessoa não for capaz de retomar ao seu cotidiano após um longo período de tempo ou seu humor permanecer mais baixo por semanas, isso pode ser um sinal de depressão. Enquanto a tristeza geralmente está ligada a algum gatilho específico, a depressão pode surgir sem uma causa particular.

Os sintomas de depressão incluem perda de interesse em atividades agradáveis, falta de motivação, desesperança, pensamentos suicidas e outros sentimentos de desânimo. Se você estiver em crise e/ou experimentando pensamentos suicidas, os recursos incluem o Centro de Valorização da Vida (Ligue 188), que te conecta a um conselheiro treinado. Ou você pode entrar em contato diretamente com o seu médico/psicólogo/terapeuta para obter assistência. É importante procurar ajuda para obter o apoio emocional e/ou o médico necessário para iniciar um caminho de recuperação.

Emoções não são boas ou ruins

Imagem: Walt Disney Studios/Pixar Animation Studios

Nós tendemos a categorizar nossas emoções: alegria é boa, tristeza é ruim, raiva é ruim. Normalmente, aprendemos que é importante ter uma cara corajosa, responder a “Como vai você?” de maneira positiva ou neutra, e que as emoções “boas” são as mais importantes. Na realidade, as emoções não são boas ou más – elas são apenas o que são. Marcia Reynolds, doutora em psicologia nos EUA, aborda isso em um artigo do Psychology Today, e citamos abaixo uma parte:

Gostaria que você considerasse uma visão diferente das emoções. Todas as emoções fazem parte da sua experiência humana. Você não pode experimentar alegria sem tristeza, paz sem raiva e coragem sem medo. A vida é mais rica quando nos permitimos nos mover tanto na escuridão quanto na luz.

É a maneira como projetamos nossos sentimentos no mundo que pode levar a interações negativas ou positivas. Por exemplo, não é exatamente um problema atacar com raiva alguém que diz algo que faz você se sentir desconfortável ou chateado. No entanto, a raiva costuma ser mais produtiva diante da injustiça, porque incita à ação e faz com que pessoas sem privilégios lutem pelo que é certo. Pode te dar uma motivação positiva.

Temos que aprender a respeitar todos os nossos centros emocionais, reconhecer quando estamos sentindo alguma coisa seja ela o que for, sentar com esse sentimento e fazer uma escolha sábia sobre como reagiremos com essa emoção.

Você não pode controlar as emoções dos outros

Imagem: Walt Disney Studios/Pixar Animation Studios

Os pais de Riley esperavam que ela fosse feliz e se acostumasse com a nova rotina, porque isso é “o que ela sempre fazia”, sem considerar que talvez ela tenha fingido felicidade pra conseguir aprovação. Riley tinha o direito de ficar triste e com raiva depois de perder sua estabilidade tão rapidamente.

Às vezes, esperamos que os outros reajam às coisas de uma maneira que seja “sensata” da nossa perspectiva. Mas são as nossas próprias experiências e privilégios que informam o que nos atinge, nos motiva e causa uma mudança do nosso padrão. E isso acontece com todo mundo porque, afinal de contas, somos todos pessoas únicas.

Mesmo que pensemos que conhecemos alguém bem, não conhecemos todos os meandros que levam a certas emoções controlando seu painel no momento. Cada pessoa tem seu próprio conjunto de memórias essenciais e algumas delas podem ser dolorosas, tristes ou cheias de ansiedade. Dê às pessoas espaço para sentirem o que elas sentem.

A escuta ativa é importante

Imagem: Walt Disney Studios/Pixar Animation Studios

Durante a aventura de Alegria e Tristeza, Bing Bong fica super pra baixo depois de perceber que ele está perdendo seu lugar na vida de Riley. Alegria tenta fazer com que ele desvie seu pensamento do que está sentindo, mas é a Tristeza que usa seu tempo para realmente ouvir Bing Bong. Ela dá espaço para que ele abrace honestamente suas emoções e o apoia. Esses momentos o ajudam a lidar com a verdade, a aceitar que seu tempo está acabando e entender que ele precisa colocar as prioridades em perspectiva para ajudar Alegria e Tristeza a salvar Riley.

Um elemento-chave para ser um amigo ou companheiro que realmente dá apoio é ouvir ativamente a pessoa, não necessariamente para dar alguma resposta/solução ou influenciá-la para sentir outra coisa, mas para simplesmente oferecer um espaço seguro. É o que queremos quando nos abrimos para os outros, certo?

Divertida Mente nos lembra de abraçar a totalidade de nós mesmos, nos dar permissão para não ficarmos “bem” e que temos de dar às pessoas ao nosso redor a chance de trabalhar com suas realizações emocionais. Não se trata de tentar evitar sentimentos desconfortáveis, mas sim de procurá-los para sermos honestos e crescermos.


Traduzido e adaptado da Nerdist.

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