She-Ra e as Princesas do Poder é uma celebração divertida, inteligente e totalmente inclusiva do empoderamento feminino.

Depois de muitos, muitos, muitos, muitos, MUITOS posts falando do reboot da animação da She-Ra, produção conjunta da Netflix e da DreamWorks, finalmente assistimos, logo na data de estreia – e finalmente estamos aqui pra falar dela em detalhes.

“She-Ra e as Princesas do Poder” é uma série que poderia cair tecnicamente na batida categoria de reboots baseados puramente na nostalgia, mas não se engane. Esta não é a She-Ra que você ou seus pais cresceram assistindo. O novo desenho, criado pela cartunista e escritora Noelle Stevenson (criadora de NimonaLumerjanes), é tão oportuno em suas metáforas e tão moderno em sua inclusão e respeito por seu público jovem que fico até meio triste por algo assim não existir quando eu era mais nova. O desenho é bem animado, habilmente expresso e cheio de uma coisa visivelmente feita de coração. É lindo.

Mas a primeira coisa que quero deixar bem clara logo de início, com a maior sinceridade do meu coração, falando na moralzinha da sã consciência mesmo, é que tem que ser MUITO LOUCO DA CABEÇA e MUITO perdido nos sentimentos cegos de nostalgia pra achar o desenho original melhor que o reboot. E ok, digo “melhor” em vários sentidos, não em todos, já que obviamente muitos dos aspectos acabam sendo definições mais pessoais. Mas logo após eu terminar a temporada inteira do reboot, fiz questão de assistir alguns episódios do original (também disponível no catálogo da Netflix) e só consegui terminá-los por puro esforço empírico mesmo, sabe? Pra eu poder vir aqui e afirmar com todas as letras pra vocês que tá tudo bem gostar do desenho original (eu sei que ele tem uma conexão afetiva que te traz memórias boas da infância), mas que tá melhor ainda pra largar a mão dessa necessidade inexplicável que muitos de vocês têm pra dizer que “~NÃO TEM COMO um reboot ser melhor que um original~”.

Porque esse é.

E eu vou explicar detalhadamente os motivos, podem ficar tranquilos. Então senta que lá vem textão. Vamos então começar a pontuar todas as coisas positivas e as mudanças que a animação teve, sem claro, deixar de criticar questões que podem ser melhoradas nas próximas temporadas. Antes de mais nada:

*** ALERTA DE SPOILERS DA 1a TEMPORADA DE SHE-RA E AS PRINCESAS DO PODER***

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RESENHA

História (9/10): Sendo bem honesta, fiquei meio desconcertada à princípio com o quão diferente a série era do original nos dois primeiros episódios – um pouco por causa do quesito que comentarei no próximo ponto dessa resenha e um pouco porque o arco narrativo das princesas é meio desajeitado (a busca de Adora para reunir as líderes distantes por vezes se arrasta muito lentamente e termina em uma culminação totalmente previsível – coisa que só importa pra gente que é adulto mesmo, qualquer fragilidade na narrativa é muito ofuscada pela maior força da série: sua capacidade de emocionar). Mas à medida que continuei assistindo, fui me afeiçoando ao enredo da animação de tal forma que ela tomou conta de mim, principalmente porque eu já tinha me comprometido a assistir de mente aberta no que se refere a entender que eu não faço parte do público-alvo. Me imaginei assistindo mais novinha, mostrei para minhas alunas e para minha sobrinha – e a partir disso fui me conectando com o quanto essa história é rica e significativa pra garotas mais novinhas. Essa nova versão do desenho adiciona algumas nuances inesperadas aos conceitos do original, ao mesmo tempo em que é uma série adorável e super agradável pra uma criança curtir.

Quanto mais eu assistia, mais eu percebia também que era um desenho que não precisava de nenhuma conexão com He-Man para manter minha atenção.

Assisti a temporada primeiro com a dublagem original. Quando fui reassistir os primeiros episódios em português, para me certificar de algumas coisas para essa resenha, senti uma emoção muito, muito grande. E realmente tive certeza de que fiquei mesmo apaixonada pelo reboot.

she -ra 1

A nova versão de She-Ra ainda conta a mesma história da Princesa Adora sendo sequestrada pela Horda quando bebê e sendo criada por “caras maus” até que ela descobre a verdade sobre eles. Na versão do reboot, a deserção de Adora da Horda é tratada como uma decisão muito mais emocional e intensa. E isso se deve principalmente à nova e melhorada versão da Felina, que ao invés de ser uma vilã chorona, que irritava She-Ra (e o telespectador), é agora uma das vilãs mais bem escritas que eu já vi em qualquer desenho infantil. Outra coisa interessante de se notar é que quando

Adora e os amigos vão tentar recrutar princesas para a facção rebelde, é enfatizado sempre que seus pais não conseguiram fazer com que seus sistemas funcionassem, mas que a geração mais jovem deveria ter uma chance (como eu disse anteriormente, metáforas oportunas).

Enfim, no geral eu fui bastante surpreendida por várias pequenas novidades no enredo que realmente dão mais profundidade pra história toda. E é aí que a gente entra no segundo ponto a falar do desenho.

Personagens (9/10): Aqui a gente chega na principal informação que as pessoas têm de se atentar:

She-Ra era só um spin-off de He-Man.

Discutiremos isso melhor mais adiante. O que é preciso entender agora é que, por isso, a série não precisava e nem utilizava de desenvolvimento dos personagens no desenho original. Bastava mostrar eles fazendo coisas legais pra animar as crianças. Desta vez, todos os personagens têm dimensões diferentes e personalidades mais características, especialmente a Felina. Honestamente, eu tive dificuldades em pensar nela como uma vilã. Toda vez que ela e Adora se encontravam, eu me via torcendo para que Felina mudasse de ideia e fosse embora com ela. Essa maldita série me deixava toda animadinha com o relacionamento delas a ponto de shippar as duas, cara. Mas é que era tão fofinho… A Felina dormindo aos pés da cama de Adora… A cena da dança na festa das princesas!!!

O que quero dizer aqui é que a história trabalhou tanto em detalhes que desta vez o reboot realmente mexe com seus sentimentos, te faz pensar quem é o certo e o errado na história, e são os detalhes das personalidades dos personagens que dão essa complexidade. Ver o passado da Felina, o passado da Sombria, um pouco da Scorpia ou da Entrapta e de vários outros personagens – que demonstram que nem todo mundo é só bom ou só mal – levou toda a história de Ethéria a outro nível.

Ou mesmo no próprio caso da Adora. Ver perguntas sendo feitas na série como: quão terrível seria descobrir que tudo o que você sabe e acredita é uma mentira? Como essa percepção afetaria os relacionamentos que você construiu? Você poderia confiar em alguém novamente? E o quão estranha seria toda essa experiência se o catalisador para ela estivesse brandindo uma espada mágica, entoando algumas palavras nunca antes ouvidas, e então se transformando em uma versão de quase dois metros de altura, glamourosa e sobre-humana de você mesmo? Onde é que começa She-Ra e onde que começa Adora? O resultado é um Adora/She-Ra que é mais humana que o original. O heroísmo se torna um desafio difícil para ela, já que Adora deve escolher quando se tornar seu alter-ego She-Ra.

Como a maioria das decisões que tomamos, ser heróico ou ser bom nem sempre é simples – mesmo que seja o seu destino mágico. Da mesma forma que o desenho é sobre aventura e superpoderes, é também sobre gentileza e empatia. E Adora é tão humana que, mesmo quando ela se transforma em She-Ra, você ainda pode ver suas incertezas, seus medos e sua humanidade por trás do deslumbramento de seus super poderes.

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Eu também gostei que o Hordak foi, nessa temporada, mais uma figura patriarcal do mal e meio distante que fica jogando as motivações dessas mulheres ambiciosas umas contra as outras para seus próprios fins. É um ótimo contraste com o lado “bom” da guerra, que não é uma facção com um cara puxando as cordas no fundo e manipulando as pessoas.

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Hordak ser mais de uma figura de fundo me agradou bastante, inclusive. Comecei a ver o desenho esperando que ele fosse aparecer em cada episódio, mas ele é apenas o cara aleatório no comando. E isso se encaixa, faz sentido, porque não é uma série sobre ele.

É uma série sobre as relações entre um grupo de mulheres jovens. É sobre crescer. É sobre responsabilidade. É sobre a força dos amigos trabalhando juntos, em vez de deixar uma heroína lendária fazer o trabalho por eles. She-Ra não é uma solução, ela é uma catalisadora. Ela ajuda as princesas de Etheria a forjar e fortalecer laços, aproveitando uma força que eles já possuíam.

Dentre os personagens, Serena e o Arqueiro são definitivamente os meus preferidos de todos <3 E o fato da Cintilante ter poderes mais interessantes e um relacionamento mais complexo com o Arqueiro também me deixou bem contente. Novamente, são os pequenos detalhes que estão fazendo completamente a diferença. Alguns personagens ainda precisam de um pouco mais de desenvolvimento pra que possamos entender suas decisões no desenho (especialmente a Sombria, por exemplo – ou mesmo a própria Adora, que poderia ter passado mais tempo da Horda pra desenvolver melhor a transição de “vilã” para heroína), então a justificativa pra nota é que estamos apenas na primeira temporada e isso ainda não foi concluído.

Arte (8/10): Me dói, me dói de verdade não dar uma nota mais alta aqui. Porque a arte da série é maravilhosa, os designs dos personagens são muito mais inclusivos (tanto na questão de gênero quanto na questão de etnia e tipo físico), os cenários são super bem feitinhos e a paleta de cores é bem bonitinha e colorida (fora que eu adorei as expressões faciais exageradas com olhinhos brilhantes de anime surgindo vez ou outra). Mas infelizmente esse é o principal ponto que deixou a desejar: a animação. Talvez eu me sinta assim porque fiquei na expectativa de uma animação ao estilo de Avatar – O Último Dobrador do Ar ou de Korra e acabei me decepcionando um pouco porque a animação de She-Ra é um pouco durinha, sem profundidade. Essa é a parte que eu achei que uma parceria grande como Netflix e DreamWorks deveria se preocupar em causar uma impressão melhor, mais forte. Mesmo desenhos infantis não têm razões para diminuir a qualidade de animação, então espero que nas próximas temporadas ela tenha mais fluidez e seja um pouco melhor trabalhada.

E claro, sendo realista, é caso de torcer pra que os estúdios consigam orçamentos melhores pra série também, já que é uma animação nova que se encaixa perfeitamente no tipo de desenho que geralmente não causa interesse ou retorno financeiro do mercado – coisa bem interessante de pesquisar que pode ser comparado com o que está sendo discutindo sobre o novo desenho da Marvel, o Marvel Rising, e o novo desenho da DC, o Mulher Maravilha: Bloodlines – post em que falo em detalhes sobre o assunto.

Som (10/10): A dublagem é FANTÁSTICA e a trilha sonora é mágica. Cerejinha do bolo da animação. Essas são as partes que eu realmente não esperava menos vindo de uma empresa grande como a DreamWorks, então dublagem de qualidade em todas as línguas disponíveis do desenho e uma boa OST é garantia. Gostei especialmente da dubladora em inglês da Adora, Aimee Carrero, também dubladora de Elena de Avalor. Dá pra sentir a emoção na voz dela e o esforço para que cada frase se encaixasse na personagem. Mas com certeza todas as equipes de dublagem merecem os créditos pelo trabalho. Dá até uma emoçãozinha no coração ver tantos nomes maravilhosos e conhecidos na dublagem brasileira como Lina Mendes, Flávia Saddy, Fernanda Baronne, Guilherme Briggs e vários outros <3

A trilha sonora tem uma mistura super bacana de instrumentação orquestral, sintetizador vindo direto dos anos 80 e vocais de coro; as músicas de combate são bem animadinhas e é exatamente o que dá o tempero pra história ficar ainda mais emocionante. A música de abertura é uma daquelas que dá vontade de não pular nunca, sempre cantar inteirinha (ok, eu admito, tô falando da versão em inglês porque a em português eu não consegui digerir)! Mas o que deixou tudo ainda mais legal foi saber que a composição é toda feminina! Da Sunna Wehrmeijer, com uma composição da Bianca Ban. Como musicista, me emociona ver mulheres nessas posições, compondo para altas produções e demonstrando suas capacidades pro mundo todo ver.

Ouçam um breve exemplo disso:

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Agora…

REPRESENTATIVIDADE:

De acordo com Erika Scheimer, filha do falecido presidente da Filmation, Lou Scheimer, She-Ra acabou se tornando um ícone gay devido a algumas referências “subversivas” feitas pelos roteiristas do desenho – alegorias sobre transformação, alter egos e verdadeiros eus ressoam em particular com o público LGBTQ – como um episódio em que o Arqueiro aparece usando um vestido. Daí a gente chega num ponto crucial que está sendo até bem debatido na internet: o relacionamento entre a Netossa e a Spinnarella e a possibilidade do Arqueiro ser um homem trans. E o que leva a questionar esta última possibilidade é a faixa que o personagem usa na cena do banho nas termas:

Bow

Meu único medo é que qualquer uma dessas coisas seja transformada em queer-bait, mas pelas entrevistas concedidas na imprensa, a criadora da série e a equipe parecem compromissadas a tratar isso de forma séria. As possibilidades são muitas e o potencial disso é alto – ainda que tudo esteja correndo de forma bem sutil. Por outro lado, meu único desejo sobre isso é ver essa série abraçar a temática queer de uma forma que se afirme para seu público, especialmente para aquelas crianças que podem se sentir “estranhas” ou fora dos padrões. O reboot de She-Ra já é, aliás, uma das séries infantis mais diversas e inclusivas que a TV está tendo. Para as pessoas que não se viam em desenhos animados quando eram crianças, parece uma série que muitos de nós gostariam que tivéssemos crescido assistindo. E isso também é uma fantástica homenagem ao original – uma aventura inovadora de amadurecimento sobre uma garota que encontra seu destino pela espada mágica, com a metamorfose do arco-íris e tudo mais.

E antes que reclamem, nem adianta falar que o antigo não tinha “dessas coisas”, viu?

Fora isso, outra coisa bem legal de saber é que, segundo a produtora, a música-tema da animação original nos EUA, “I Have the Power”, também já foi tocada em vários casamentos homossexuais.

A NOVA SHE-RA TRAZ NOVOS MODELOS DE HEROÍNAS PARA GAROTAS PEQUENAS:

Se você assistiu ao trailer e esperava que o desenho estivesse repleto de empoderamento feminino, positividade corporal, diversidade racial e representatividade LGBT, você está com sorte! Isso é 100% a She-Ra nova. Como princesas temos a Serena, Entrapta, Perfuma, Gélida, Scorpia, Spinnerella e Netossa. Se você colocá-las em uma linha reta e analisá-las, apenas a forma como elas são desenhadas por si só demonstra a diversidade deste time. Mas também em termos de personalidade, há uma princesa para todas.

Mas o assunto que eu realmente quero entrar aqui é o seguinte: a Adora muda suas crenças de longa data com base no que ela experimenta durante o enredo, ensinando as crianças a serem flexíveis e de mente aberta quando saem e experimentam o mundo. Nem tudo que aprendemos em casa reflete a verdade do que está acontecendo fora da nossa zona de conforto. Essa é a primeira parte que acho importantíssima. Principalmente quando falamos sobe temas LGBT.

Normalizar relacionamentos não-héteros significa representá-los em nossa mídia para que nossos filhos enxerguem isso de forma natural durante seu crescimento e sejam adultos mais compreensivos, inclusivos, respeitosos.

she-ra rebellion

Outra parte importante a comentar é sobre a Cintilante, outra princesa que vale a pena destacar por causa de como ela é facilmente identificável. Primeiro porque ela tem um corpo em forma de pêra, que muitas meninas têm, mas que ainda não é visto em heroínas de desenho animado. Em segundo lugar, porque a Cintilante teme que seu melhor amigo, Arqueiro, esteja cansado dela e a deixe. Arqueiro é um garoto adorável que tem uma incrível capacidade de fazer amizade com qualquer pessoa. Ter sentimentos confusos sobre seu melhor amigo e seus relacionamentos com outras pessoas é algo que muitas crianças passam enquanto crescem. As crianças não estão apenas no processo de formar suas próprias identidades, mas também estão começando a descobrir suas relações com os outros. Cintilante tem um forte senso de quem ela é, uma garota que adora lutar e brilhar, mas isso não significa que ela esteja confiante sobre si mesma e sobre seus relacionamentos. Todos nós sentimos essa pontada de ciúme quando nosso melhor amigo começa a prestar atenção em outra pessoa. Todos nós temos medo de que alguém que amamos nos deixe por outra pessoa. Cintilante não tem apenas um tipo de corpo realista, mas suas lutas emocionais são as que todos nós tivemos. Outro exemplo é como a Cintilante frequentemente se choca com sua mãe por ser muito impulsiva. A Rainha está preocupada com a segurança de Cintilante em primeiro lugar, enquanto Cintilante sente que sua mãe não a respeita. Cintilante é uma comandante na luta contra a Horda, mas ela não tem a liberdade de ser agressiva na luta. Da mesma forma, as crianças sabem quando não estão sendo ouvidas e sentem que seus pais não as entendem. 

Além disso, as cenas dos poderes da Cintilante são ótimas. Ela é brilhante, mas capaz de te dar um soco certeiro; ela é fofinha mas é corajosa e determinada. Isso mostra que meninas e meninos não precisam se limitar a um tipo de força. Não estamos mais trabalhando apenas com o tradicionalmente feminino ou masculino, mas com todo o espectro.

As princesas percorreram um longo caminho desde os anos 80. She-Ra e as Princesas do Poder dão às crianças a representação de que muitos de nós não teve e, honestamente, já estava passando da hora.

***

Agora vamos por um fim nesse wall-text e discutir afinal um fato básico aqui, só pra fechar essa discussão toda:

A animação original foi feita quase que exclusivamente para fins de vendas de Barbies.

Não é brincadeira, no auge da popularidade do defensor musculoso de Grayskull, na década de 1980, a Mattel e o estúdio de animação Filmation perceberam que 30% da audiência do espadachim com a pior identidade secreta do mundo era surpreendentemente constituída por meninas. Para ajudar a satisfazer o inesperado desejo por uma personagem feminina de fantasia, as companhias tiveram a ideia de criar She-Ra, um spin-off com a irmã gêmea do príncipe Adam e a mais nova princesa-guerreira de Ethéria. She-Ra foi uma forma de ajudar as vendas da Barbie que estavam estagnadas, só isso. 

mattel - she ra

E funcionou: depois de passar por um sufoco graças ao surgimento de bonecas rivais, She-Ra aumentou o interesse do mercado e, em 1986, a Barbie conseguiu atingir US$350 milhões em vendas (pouco depois foi culpada pela queda horrorosa que a venda dos bonecos super saturados do He-Man teve, é claro…).

Logo, a gente pode concluir que não dá mesmo pra entender essa febre que o nerd-saudosista-que-nem-consome-mais-desenho-animado arranjou de atacar ferrenhamente o reboot, já que nem mesmo o desenho original tinha eles como público-alvo em nenhuma forma de mídia – pra variar. E a gente está aqui pra mostrar que o mundo geek NÃO É UM CLUBE DO BOLINHA. Estas pessoas especialmente precisam aprender a aceitar que o mundo não gira ao redor delas e que existem muitas formas de entretenimento que são de NICHOS específicos. She-Ra sempre foi um nicho direcionado ao feminino e ao infantil – então não há motivo algum disso ser em qualquer nível relacionado às necessidades de homens adultos. E isso só é ainda mais comprovado quando a gente pega os dados das críticas que a animação já recebeu e percebe, como o Amigos do Fórum confirmou, que enquanto homens atribuíram uma média de 5,8 de nota pra She-ra, o público feminino atribuiu a média de 8,5. Enquanto a menor nota por faixa etária veio de homens MAIORES DE 30 ANOS (5,4), a maior veio justamente de mulheres menores de 18 anos (9,0). E como o próprio post do Amigos do Fórum afirmou, nós reafirmamos: “daria pra escrever uma tese de 10 mil páginas só com esses dados, mostrando que o nerd de meia idade é hoje o ser mais birrento e desconexo com a realidade. Mas adianta? Adianta explicar isso pra um cara de 45 anos? Não adianta. Para o público certo a animação foi certeira e é isso que importa.” Foram eles inclusive que disseram o seguinte:

Na infância tudo é mágico e nossos parâmetros do que é bom ou ruim ainda não existem (alguns nunca chegam a desenvolver, é verdade), sendo assim, acabamos presos em uma memória afetiva que nos faz repetir a frase de nossos pais: ‘no meu tempo era melhor’. Não era. Arte e indústria se misturam cada vez mais e juntos evoluem, se transformam e se adaptam ao gosto atual, gosto esse cujo o público consumidor alvo é quem vai ditar tal adaptação. Sendo assim não existe ‘filme de super herói infantil demais’, o que existe são adultos tentando se apropriar de um produto que não foi feito pensando exclusivamente neles. É por isso que eles vivem se chateando.

Ou como disse o Gabriel Lage, ilustrador brasileiro:

Quando você passa a acompanhar as animações atuais sem preconceito dá pra perceber como as coisas novas são feitas com o mesmo esmero que as de antigamente, só que com outro público em mente.

Nós mesmas aqui do GG já publicamos todo um texto explicando como não faz sentido essa crítica do fanboy, honestamente não tem nem mais o que falar sobre.

Mas sabe o quão bom é ter um desenho que finalmente saiu das sombras de He-Man? Que não é mais só um spin-off ou um meio de atingir metas de venda de mercadoria? É maravilhoso! Adora é agora uma heroína que tem autonomia própria, identidade própria. E de qualquer forma, o original vai ficar pra sempre aí pra quem quiser rever. Deixem a nova geração decidir se gostam ou não.

Ps.: Eu tenho altas suspeitas que a nova geração ADORA a Adora, viu?

E digo mais: a existência da animação original não quer dizer que um reboot não possa evoluir ou aperfeiçoar a história. Seria até bobo querer recriar a série apenas para repetir o que já foi feito antes. A nova She-Ra quer contar novas histórias e isso é uma coisa boa. A série é recheada de imaginação – apenas não parece precisar ser reverente ao passado para poder contar uma história. E por mais que eu tenha falado do lado negativo da nostalgia aqui, não é como se a série fugisse do fator legal da nostalgia – todas as vezes que Adora grita: “Pela honra de Grayskull” e passa pela transformação de She-Ra, com o look glamouroso, a capa fodona e o cabelão hidratadíssimo, é uma delícia de ver. Chega arrepiar os cabelim do braço.

Resumindo, temos até agora: história mais complexa, personagens com profundidade de personalidade, diversidade de elenco, representação LGBT, novos modelos realistas de heroínas, mais identificação com o público-alvo e claro: ZERO SEXUALIZAÇÃO DESNECESSÁRIA de personagens femininas.

Então, SIIIM, o reboot É muito melhor que o original – em vários, vários fatores. Talvez não seja mais o tipo de desenho para você, mas ele é o tipo certo para muitas crianças que estão hoje ocupando o seu lugar. É o tipo de desenho que esse público gosta e quer.

Mas ainda assim, mesmo que você não se encaixe nesse público, eu ainda recomendo. É só desapegar.

LERIGOU, gente.

Assistam o desenho sem compromissos e se deixem surpreender.


REFERÊNCIAS: Kotaku | Vox | MegaCurioso | Mentalfloss | AnimeNews | TheVerge | Polygon | CBR | Junkee | TheMarySue | Bustle | ComicsBeat

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