Tom Sawyer é um mangá que conta sobre as aventuras de verão de Haru e Taro, uma visita às memórias de tempo de criança e suas travessuras, uma obra repleta de nostalgia, conflitos e reflexões sobre valores, crescimento e ao lugar ao qual pertencemos.

Olá, pessoal!
Primeiramente gostaria de me apresentar, eu sou a Daielyn (mas pode chamar de Ni), nova colaboradora do GG e você pode conhecer um pouquinho mais sobre mim na descrição! ❤
Muitas vezes na leitura desse mangá me peguei refletindo sobre meus próprios verões, e se até hoje eu tenho um affair por essa época, com certeza se deve às aventuras que vivi quando ainda era criança. E é por causa dessa nostalgia e de uma protagonista adulta que se propõe a reviver esses momentos que gostaria de falar sobre Tom Sawyer. Então, vamos lá?

História

Essa história inicia com a vinda às pressas de Haru à uma cidade do interior do Japão para o enterro de sua mãe, local que abandonara há três anos para morar em Tóquio.

Haru é uma garota que se vê afundando cada vez mais em sua rotina monótonona e deprimente de trabalho e relacionamentos. Ela se sente sozinha e frustrada com com suas próprias atitudes, principalmente por ter se afastado da faculdade de Artes que entrou com bolsa depois de muito esforço.

Após o enterro, ela se dirige a casa vazia de sua mãe e encontra seu antigo gatinho “Kuro”, que falece nessa mesma noite. Haru decide então enterrar o gato que fez companhia a sua mãe ao lado de seu túmulo, mas no caminho para o cemitério se depara com uma criança deitada no meio da rua, Taro, que ao notar sua presença, exclama de forma totalmente espontânea: “AH, É A BRUXA!”.

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Bom, e como explicar uma “bruxa” andando no meio da noite com um gato morto no colo?Aproveitando a aparência ingênua da criança, Haru conta uma história sobre um ritual que as bruxas fazem utilizando gatos mortos quando alguém morre. Claramente impressionada, a criança resolve ajudá-la, Haru sem forças para lidar com a insistência de Taro se rende a suas vontades.

Contudo, na noite do enterro, algo acontece. Ambos presenciam uma cena assustadora e traumatizante, a qual eles juram nunca contar para ninguém. Nesse momento percebemos o clima obscuro, de uma memória longínqua de eventos que acontecem com a gente na infância, situações as quais nos vemos obrigados a guardar para si, o segredo entre amigos, a promessa e estranha nostalgia de momentos como esses, engatilhando a cumplicidade de uma bela amizade de verão cheia de aventuras e autoconhecimento.

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Relacionamentos

Ao longo do mangá, nos deparamos com preconceitos comuns embutidos em uma sociedade conservadora, como o fato de a mãe de Haru ter hábitos totalmente nômades refletindo em uma vida e rotina instável e a falta de uma figura paterna na composição dessa família.

Em vários momentos, entra em discussão os sentimentos dúbios que Haru guarda em relação à sua falecida mãe. Essas reflexões acompanham nossa protagonista que frequentemente se sente reprimida com os olhares e julgamentos da comunidade sobre sua vida.

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Haru acaba culpando sua mãe que, por nunca ter parado em nenhum lugar, fez com que ela tivesse dificuldades de estabelecer vínculos tanto com lugares como com pessoas. Culpa sua mãe por ter que carregar o peso que as escolhas dela refletiam na forma como a comunidade a tratava quando criança, agressões verbais que causam dores e sofrimento até hoje.

Ao longo do mangá acompanhamos o seu relacionamento com Taro e as crianças, enquanto Haru está imersa em seus traumas passados, problemas e angústias da vida adulta, elas proporcionam o surgimento de situações completamente espontâneas com seus pequenos conflitos infantis e a forma como lidam com eles.

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Ao acompanhar os conflitos internos de Haru, que muitas vezes não consegue entender por que uma adulta se deixa levar pelas travessuras de Taro, também observamos Taro em sua transição para a vida adulta, uma fase que envolve querer ser criança, ter atitudes infantis como fugir de casa para preocupar os pais/responsáveis mas, ao mesmo tempo, de descoberta em busca pela liberdade e independência.

A história mostra algumas percepções infantis sobre o mundo masculino e feminino que desde cedo é imposto às crianças. Expressões como “isso é coisa de menina” e “cabelo de mulherzinha” são utilizados de modo pejorativo e acabam ecoando nas páginas de Tom Sawyer, muitas vezes sendo usados contra a própria Haru que retruca: “Mas eu sou mulher.” e, bem, não há nada de errado nisso.

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Em certo ponto Haru comenta sobre a crueldade e preconceito nos comentários que as próprias crianças fazem, comentários estes aos quais Taro rebate com: “Não é para falar igual os adultos!”. Nesse momento fica muito clara a crítica do autor à reprodução pelas crianças dos discursos feito por adultos, sobre como a sociedade age e como esses comportamentos são passados de geração em geração.

Essas reflexões, desencadeadas por situações tragicômicas, acontecem de forma natural ao longo do mangá a partir do momento em que a própria Haru deixa de julgar as atitudes infantis das crianças se pondo no lugar delas e recordando suas próprias atitudes na infância.

O modo curioso das crianças lidarem com seus próprios problemas faz com que Haru e nós mesmos passemos a desmembrar assuntos complexos deixando-os mais leves e fáceis de serem lidos e resolvidos, nos ensinando muito sobre otimismo e sobre a forma de ver o mundo através dos olhos de uma criança.

O mangá

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Originalmente publicado no Japão pela revista shoujo “Melody” em 2007, Tom Sawyer foi trazido ao Brasil pela editora JBC em 2014. Uma publicação one-shot, ou seja, de volume único com quase 400 páginas, tendo as primeiras quatro folhas coloridas e as demais seguindo o padrão mangá preto e branco.

O mangá é classificado pelo próprio autor Shin Takahashi como sendo do gênero Shoujo, mas curiosamente muitos veículos o classificam como sendo Seinen, a confusão deve se dar principalmente ao fato do mangá não ser focado em um romance entre os personagens principais, e sim na relação de amizade entre um adulto e uma criança.

A obra

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Tom Sawyer é uma releitura baseada no livro “As Aventuras de Tom Sawyer”, escrito por Mark Twain, que conta a história de um menino travesso assim como Taro, descrevendo suas peripécias e travessuras ao lado de seu melhor amigo Huckleberry Finn, ao qual podemos remeter a Haru.

Mark Twain foi reconhecido como o pai da literatura americana moderna e esse livro é um de seus clássicos muito aclamados, o qual ganhou outras adaptações como a versão para o cinema, que segundo a crítica, faz juz a grandiosidade dessa obra.

O mangá “Tom Sawyer” foi uma obra que, pelas próprias palavras do autor em seu prefácio, possuiu 15 anos de concepção, pelo menos emocionalmente.

A criação do mangá recebeu uma quantidade absurda de storyboards produzidos pela equipe de Shin Takahashi baseados em uma trama básica concebida por ele. O próprio autor cita a importância da equipe na produção de Tom Sawyer, a qual participou das fases de desenvolvimento, resumo e sketchs da história. Essa interação por si só já é algo surpreendende que demonstra o esmero em todas as etapas de concepção do mangá.

Foi um trabalho árduo e demorado, criado por vários Taros e Harus, por suas lembranças de verões passados e aventuras de crianças.

Arte

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Com todo esse esmero é de se compreender a beleza dessa obra. As páginas iniciais em cores são especialmente belas, com coloração sensível e uma aura única.

Todo o mangá possui um movimento incrível que ondula conforme as intensidades das cenas e situações apresentadas, seja nas memórias gentis de Haru, onde as ilustrações se tornam claras e quase desaparecem como reais lembranças, ou em situações de angústia e temor, com as imagens se tornando obscuras e pesadas.

Essas oscilações também são marcantes nas expressões dos personagens e até mesmo no acabamento de cada quadro, seja na aplicação de retículas ou traços angulados indicando movimento.

A sensibilidade com o traço e composição das cenas é essencial para a imersão do leitor, pois, pelo menos no meu caso, transmitiu as sensações de angústias e alívios junto aos personagens de forma muito mais pessoal, e tornou as cenas engraçadas especialmente divertidas <3

Tom Sawyer vale a pena?

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Com certeza Tom Sawyer merece uma atenção especial e um lugarzinho na estante, é aquele mangá que te traz uma nostalgia de algo que você pode não ter vivido, mas que mesmo em suas excentricidades, é muito crível e vai te remeter a memórias guardadas e lembranças escondidas em sua mente e coração.

Espero que vocês gostem ou tenham gostado dessa história, é uma obra sensível e divertida que trata de assuntos profundos e complexos em vários níveis, despertando desde comoção a risadas altas. ❤

ONDE ENCONTRAR?

Você pode visualizar o preview do mangá, disponibilizado pela própria JBC, aqui e adquirir essa obra aqui.

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