E ficamos mais ansiosas!

Enquanto a gente não descobre o nome do Irmão do Jorel, o Garotas Geeks conseguiu bater um papo supimpa com o Juliano Enrico, criador da série, e Melissa Garcia, atriz das vozes da Lara, Vovó Juju e vários outros personagens, e diretora das vozes em plena CCXP no estande do Cartoon Network.

Teve muita coisa #VoltaLara, gravar com o Criolo, prever o futuro, lidar com o sucesso além de coisas que estão vindo por aí! Se liga!

Irmao de Jorel Juliano Enrico Melissa Garcia

Garotas Geeks: A terceira temporada rola em torno do Irmão de Jorel amadurecendo, saindo da zona de conforto, fazendo novos amigos, e descobrindo seu protagonismo. Como foi a recepção?

Juliano: Eu acho que o público recebeu bem, ela foi exibida esse ano e tem pouco tempo. Sinto que a maioria das pessoas lembram mais dos primeiros episódios, da primeira temporada. Só que aí, com a ida da Lara pro Japão, isso acabou criando um arco que, pela primeira vez a série, teve um desdobramento, uma consequência realmente impactante na vida dos personagens. E o Irmão de Jorel ficar sem a melhor amiga dele durante tantos episódios, significou uma série de novas aventuras e novas relações entre amigos da escola. E, agora, a Lara vai ter uma série de aventura solo que vai acontecer paralelamente à terceira temporada, na qual a Melissa contracena com o Daniel Furlan, da TV Quase, que é o Yuki, esse novo personagem.

Melissa: Sim! O spin-off da Lara! No começo da 3ª temporada, o público criou a hashtag #VoltaLara. Foi um movimento forte dos fãs se envolvendo com a gente, pedindo para ela voltar. E a gente ainda recebe. Então acho que foi bem próximo deles a situação.

Juliano: é verdade, esse movimento do #VoltaLara foi muito forte, as pessoas continuam postando. Mesmo depois de exibir o episódio em que a Lara tecnicamente volta, as pessoas continuam dizendo #VoltaLara. É muito engraçado.

GG: Em entrevistas, sempre perguntam sobre se teve interferência da Cartoon na ideia base da criação do desenho. E você sempre fala que não rolou, que te deixaram bem livre, e quando teve alguma, foi positiva. Hoje a série tá na 3ª temporada com um fandom forte. Ainda consegue manter essas coisas sem interferências? Tanto do Cartoon quanto dos fãs? E tem pressão de manter o sucesso?

Juliano: Não sei se é uma pressão maior, mas existe uma história grande que já foi contada e isso nos permite contar ainda mais de um jeito mais desafiador. Acho que quanto mais pessoas conhecem os personagens, mais coisas legais a gente pode fazer com os personagens.

No começo da série, alguns ajustes foram feitos. Um deles foi o pirulito da Vovó Gigi, que antes não era um pirulito e tudo bem, porque a ideia era realmente ter uma vovó que gosta de doces. E lembro também que o Andrei (Duarte. Animador, ilustrador, e dublador do Irmão de Jorel) foi uma escolha um pouco ousada, por que ele ainda é um dos desenhistas de cenários. Ele é o concept artist, aquele que cria o conceito de cenário. E na época, ele era o ilustrador, não o ator. Como tem uma voz muito engraçada, participou de um teste e terminou sendo escolhido para ser a voz do Irmão de Jorel.

Melissa: e aí ele foi aprendendo e se profissionalizando. E, como todos os atores, se apropriando do personagem. E o fato da gente ter feito várias temporadas, nos deixa mais livres pra trazer mais coisa. A sensação é essa.

Juliano: Existe uma pressão muito minha de conseguir contar da melhor forma histórias que estão na minha abraça há muitos anos, mas, ao mesmo tempo, é saber que as pessoas gostam da linguagem do desenho, que ele já está estabelecido e existe um público grande. Tenho vontade de tornar o Irmão de Jorel ainda mais popular, ir para outros mercados fora do país. Mas dá muita vontade de entrar na vida de personagens que não aparecem muito, e na 4a temporada vou continuar fazendo isso. Personagens assim como Wanderley, Coco Mágico…

GG: Com todo o sucesso do desenho, como pegar aquela pessoa que ouviu falar, mas nunca quis assistir?

Juliano: Acho que o público tende a crescer à medida que a série permanece no ar. Enquanto ela estiver sendo exibida e novos episódios estão sendo produzidos, o público vai aumentar. Porque as crianças que tinham 7 anos em 2014 já são adolescentes. E tem um grupo de adultos.

Sou sempre abordado por pais que falam que os filhos mostraram pra eles, e o contrário também acontece muito. Às vezes, professores, tios e isso é muito legal. Porque uma das minhas vontades na criação era fazer a família assistir junta.

E também tem meu plano de fazer um longa em animação, uma série de livros, quadrinhos. Já tô trabalhando nisso paralelemente à série e tô conversando com editoras o tempo todo.

GG: Irmão de Jorel tem mil referências nostálgicas. E se sabe também que você tem um background dos quadrinhos. Como estamos na CCXP, um evento que tem como base os quadrinhos, o que mais da 9a arte tem em Jorel, além da óbvia referência a Superman?

Juliano: Eu gosto muito dos grandes cartunistas brasileiros: Angeli, Laerte, Henfil, Alan Sieber, Maurício de Sousa, Ziraldo… sempre fui. À medida que fui crescendo, passei a ler mais quadrinhos underground, Revista Mad e tal. Mas quando era criança eu lia muito Turma da Mônica e Menino Maluquinho.

Melissa: eu lia muita Turma da Mônica. Mas quando a gente começou a fazer, a criar uma identidade de interpretação para animação original do Cartoon Network, que é uma coisa que já existia muito forte lá fora, mas a gente tava criando a primeira brasileira, eu, como diretora de voz e a equipe, tivemos de entender como é que os atores iam se comportar

Daí a gente usou muito de referência de interpretação Porta dos Fundos, o que eles já faziam na Quase. Na verdade, o que a gente usava de referência para começar nossas vozes não era desenho. Pensávamos em interpretação de vida real.

GG: E como foi a criação disso quando, muitas vezes, os trejeitos dos atores para fazer as vozes eram incorporados na arte?

Melissa: O que acontece é que Irmão de Jorel foi um dos primeiros projetos que a gente começou a usar a forma de gravação que se usa nos grandes estúdios dos EUA pra gravação de voz de original. É muito diferente do que a gente já tinha no Brasil, que é muita coisa dublada, muita animação estrangeira.

Conseguir incorporar essa forma é muito rico para todo o processo. Se tornou um processo antropofágico, em que todo mundo se alimenta um do trabalho do outro.

Quando os atores estão no estúdio, eles se alimentam do roteiro, aí os storyboarders ouvem o trabalho dos atores e criam propostas, depois os animadores trabalham em cima dos trabalhos de vozes dos atores e criam as performances. Quando as animações ficam prontas, vem os atores e gravam coisas extras.

É um processo que não acaba. Dai, na 2a temporada, a gente percebeu que os roteiristas se apropriaram do jeito como os personagens falavam. É um trabalho contínuo.

Painel Juliano-555

GG: Como é o processo de criação de um episódio. Porque além de uma simples história de uma criança que perde um boneco, rola também conceitos de física quântica e tudo na narrativa que envolve desenho 2D, uns efeitos 3D, até boneco em cenário de cartão.

Juliano: Então, é um mês pra escrever o roteiro, a gente consegue gravar as vozes de dois episódios em um dia, mas aí, em um mês o estúdio consegue animar dois episódios, depois volta…

Melissa: Tem a produção do som…

Juliano:  …se a gente for calcular, um mês e meio pra fazer um episódio, três pra fazer dois episódios, 18 meses para fazer 26 episódios. Mais ou menos isso. Os últimos cinco anos da minha vida passei editando animatic no ar-condicionado ao mesmo tempo que viajando pra São Paulo pra gravar voz, voltando pro Rio pra corrigir animação… voltado pra SP pra fechar mixer… então… é uma vida feliz (e, nessa hora, Juliano brinca que chora copiosamente). Não, mas sério, estou muito feliz mesmo.

Cheguei aqui tinha uns caras fazendo cosplay, um cara fez um Coco Mágico esculpido num pedaço de plástico, ficou lindo.

GG: Além de Emicida e Criolo, vocês pretendem fazer outras colabs?

Melissa: ah, eu tenho umas ideias, mas a gente não pode dizer.

(Claro que dei uma choradinha)

Juliano: Tenho muita vontade de trazer a Gaby Amarantos, mas também sempre converso com a Melissa antes, porque ela tem que aprovar, conhecer. O Cartoon obviamente é quem decide, no final das contas. Às vezes também sugere.

Mas a gente já pensou na Carol Konka, no Mano Brown, no Caetano Veloso, no Ney Matogrosso, na IZA, na Marisa Orth, no Marcelo Adnet, na Tata Werneck (…)

Melissa: Tem uma lista que dá pra fazer umas 20 temporadas

Juliano: (…) Sidnei Magal, Steven Seagal, Van Damme, Rodrigo Santoro…

GG: Como começou a conversa pra trabalhar com o Criolo e como foi trabalhar com ele? Ele chegou para fazer a dublagem de um personagem, aí depois tomou o Tomate

Juliano: Eu recebi uma mensagem dele manifestando o desejo de participar da série. Achei ótimo e fui conversar. Trocamos uma ideia sobre o roteiro. Eu já queria fazer um episódio de rap de novo depois que rolou com o Emicida, mas seria um episódio ainda mais musical, com um roteiro que permite uma participação de mais personagens. E aí ele meio que se encaixou na ideia que eu já tinha do Tomate e a Batata brigando por território, gangues rivais, um muro que separa pessoas que são extremistas de um lado e do outro, toda essa loucura que está acontecendo no mundo, no Brasil.

Melissa: Pra mim foi uma surpresa porque eu não sabia que ele ia fazer dois personagens.

Juliano: E ele fez três!

Melissa: E eu falei pra ele “você está louco?” Porque não é fácil fazer dois personagens ao mesmo tempo. A gente faz isso porque temos anos de experiência. E é desafiador para quem não é ator atuar fazendo um personagem. Dois personagens ele foi muito ousado.

Juliano: todos nós somos muito ousados!

Melissa: e foi ótimo! Deu súper certo. A gente foi caminhando para que ele ficasse à vontade e propusesse coisas.

Juliano: E a criamos a batida em Miami bass, que é um pouco funk do começo dos anos 1990. Nos encontramos um dia antes da gravação, musicamos as bases e ele meio que abraçou totalmente a ideia. Eu gosto da palavra “generoso”.

GG: Você falou isso de incorporar o que está acontecendo no mundo, no Brasil, a situação que a gente se encontra, na série. Mas como é fazer isso num desenho para toda a família

Melissa: Na verdade, é fazer dois anos antes das coisas acontecerem. Pra um episódio estrear, leva praticamente um ano. A gente tava falando disso já há muito tempo.

Juliano: Eu acho que o mundo todo tá muito tomado por uma corrente maluca de extremismo. E isso é uma coisa que quando você trabalha com criação, acho natural que tente refletir o tempo que você vive. E, às vezes, acontece inconscientemente.

No caso de Irmão de Jorel, o objetivo maior é entreter, fazer rir. Então, quando você coloca outras camadas, outros significados ali, eu gosto quando as coisas ficam livres para várias outras coisas. Por exemplo, quando vejo um quadro, gosto de ter a minha própria interpretação, acho que muitas obras são feitas nesse intuito.

Dai, por exemplo, os palhaços que são figuras de autoridade, eles podem tanto ser palhaço militares ou militares palhaços. Assim como Pernalonga brincou com o exército, ou como o Pato Donald foi pra Segunda Guerra Mundial, ou Charlie Chaplin chutava o bumbum do policial, essas piadas com figuras de autoridade, assim como a diretora Lola da escola é súper mandona, eles sempre existiram na comédia e acho que sempre deveriam existir.

Independente do significado maior ou da situação política que o mundo vive, essas coisas sempre aconteceram e sempre vão continuar acontecendo. Irmão de Jorel, de uma certa forma, reflete o momento do tempo que ele tá, mas, ao mesmo tempo, ele não tá em tempo nenhum, porque a família dele tá perdida no tempo. Ao mesmo tempo que a gente tem referências aos anos 1960, tem uma família que vive nos anos 19980 dentro de casa, mas fora é tudo moderno e atual. É um pouco de tudo isso.

Melissa: Eu acho que os símbolos vão continuar existindo e que é muito importante que a gente continue conseguindo se expressar através de humor para crianças. Acho que é importante para a inteligência.

Juliano: E existem vários significados. Uma criança que assiste com 7 anos, ela vai ver com outros olhos depois. Quando ficar adolescente, ela vai sacar aquilo de outra forma. O pai vai entender de outro jeito. Tudo tem a ver com a bagagem de quem assiste qualquer coisa, não só desenho animado.

No caso de Irmão de Jorel, a comédia é sempre o objetivo maior e às vezes a gente cria episódios que têm temas um pouco mais delicados, ou um pouco mais relevantes, tipo igualdade de gênero, liberdade de expressão, ou crítica ao consumismo, empoderamento feminino, e isso é uma influência de muitos desenhos que eu respeito como Simpsons e todos os desenhos do Cartoon.

GG: E o que mais a série promete?

Juliano:  Além do Spin-off da Lara que a gente comentou, temos aí uma série de 13 episódios inéditos que vão mostrar o mundo completamente modificado depois da Zazá ficar gigante, e vários episódios fantásticos.

Melissa: eu acho que os três últimos episódios entram numa curva… eu adoro!

Juliano: É! Seu Edson tem uma revelação pra fazer no final da temporada. Tem uma mudança radical na personalidade dele, uma evolução do personagem que é uma consequência de várias coisas que aconteceram. Rola uma visita do Irmão de Jorel ao museu, um episódio que se passa numa Convenção de quadrinhos parecida um pouco com a Comic Con lá de fora e temos o Irmão de Jorel se transformando no Pombo-boy que é um super-herói.

Enfim, tem um monte de coisa acontecendo. Na 4a temporada vou nem falar nada porque tem muita loucura. Mas, ao mesmo tempo, o Irmão de Jorel nunca vai deixar de trabalhar aquelas coisinhas do cotidiano, bem peculiares, bem nossas. Apesar do universo fantástico e do mundo estar se expandindo dentro da série, nunca vai deixar de acontecer aquele episodiozinho sobre aquele remedinho que a vovó tem que dar para abrir o apetite, que tem gosto ruim, sabe? O dente de leite que vai cair, a eleição pra líder da sala… esse tipo de coisa não vai deixar de acontecer.

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