Se gigantes já fazem sucesso, imagine gigantes mitológicos num contexto pós-apocalíptico!

É fato comprovado pela popularidade de, por exemplo, Shingeki no Kyojin (Ataque aos Titãs), que histórias que contenham gigantes em geral fazem muito sucesso. Na verdade, desde a Grécia Antiga, lendas de gigantes sempre causaram nas pessoas a curiosidade e o entrosamento instantâneo. A minha história com GIGANTOMACHIA inclusive, começou assim.

GIGANTOMACHIA - capa e contracapa

Miura Kentaro, autor já aclamado pela crítica especializada em seu clássico Bersek, decidiu escrever um one-shot, história de um único volume, durante o hiato de seu mais conhecido mangá (provavelmente para espairecer as ideias, já que Bersek vem sendo escrito desde 1989!), e essa história mistura a própria mitologia grega com uma época de certo modo futurística e pós-apocalíptica – ou como é afirmado no mangá: depois da Grande Extinção.

Para explicar isso melhor antes de adentrar no enredo do mangá, aqui vai uma breve descrição: Na mitologia grega, Gigantes eram uma raça de grande força e agressão – embora não necessariamente de grande tamanho – conhecidos como Gigantomaquia ou Gigantomachia – e suas batalhas com os deuses do Olimpo. Segundo Hesíodo, os Gigantes eram filhos de Gaia (Terra), nascidos do sangue que caiu quando Urano (Céu) foi castrado pelo Titã filho de Cronus.

Ligação direta com a mitologia grega!
Ligação direta com a mitologia grega!

De acordo com alguns tradutores, a interpretação de Gigantomachia é a própria luta de Gigantes com deuses do Olimpo. Deu pra começar a sentir interesse? Então bora pro enredo. A história começa com os seguintes dizeres:

Num futuro distante, muito além do presente, quando a história conhecida termina… E um mito ressurge. Uma lenda monstruosa. E também… Gigante.

Traços fortes, tons sombrios, criaturas medonhas e bastante impacto: conheçam  essência do mangaká Miura.
Traços fortes, tons sombrios, criaturas medonhas e bastante impacto: conheçam essência do mangaká Miura.

A humanidade se dividiu e tomou novas formas. Existiam então os humanos, que são conhecidos como “Hus”, e uma estranha nova espécie que é chamada de “Mus”, criaturas mutantes mais adaptadas a viverem em locais isolados, como desertos, sendo alguns cruzamentos de humanos… com insetos, por exemplo. Eeewww, estranho, eu sei. Mas o Miura faz até coisas assim terem um sentido específico e a arte ficar de fato estranhamente peculiar.

Após a abertura dramática, Miura inicia a história num deserto escaldante, com os dois protagonistas interagindo de repente. A princípio, parece uma abordagem um pouco confusa, mas não demora para você se identificar com ambos e já sentir certa familiaridade, mesmo que não haja grandes explicações sobre quem eles são ou de onde vieram e assim por diante. O que é explicado é que eles são: Delos, um pequeno homem bobo, forte e de bom coração; e Prome, uma misteriosa garota com poderes sobrenaturais e que não parece se encaixar muito bem nas definições de formas de vida existentes.

Delos e sua companheira de viagem, Prome.
Delos e sua companheira de viagem, Prome.

Os dois vagavam à procura de uma tribo do deserto conhecida como “Scraves”, homens que são parte escaravelhos e conseguem controlar enormes insetos.

Uma coisa também a avisar neste ponto para o leitor é que, da mesma forma que a história não contém muitas explicações detalhadas, nomes também não têm. Então, não fique muito encucado com denominações assim no mangá, apenas continue lendo que aos poucos as peças vão se encaixando e o sentido é mostrado.

Continuando: Delos e Prome acabam sendo encontrados pelos Scraves primeiro. A dupla é confundida com espiões do império humano chamado Olympus e são levados cativos para provarem inocência através de uma luta de Delos com o mais forte guerreiro da tribo. Prome é amarrada para ser morta após a crente suposta derrota de Delos. No entanto, a luta dá pano para manga: aquele que parecia um mero e reles pequeno Hus, bate de frente com o mais poderoso e forte Mus da vila de uma forma bastante interessante e até incomum para mangás do gênero: com estilo de luta livre.

GIGANTOMACHIA – luta de Delos

A trama que se segue a partir daí é o suficiente para prender a atenção na leitura. Não teria graça contar todos os detalhes, principalmente por ser um one-shot. :p

O que sinto que é relevante comentar a respeito é o seguinte: De forma geral, o mangá é muito bem feito, igualmente bem desenhado (Miura é reconhecido principalmente por sua maestria na arte do desenho e traços fortes) e bem pensado, mesmo para um one-shot onde o enredo é sempre rápido e sem muitas explanações. Porém foi emocionante ler algumas partes na história onde Delos reagia à certas situações de confronto de forma muito interessante, fazendo dele o típico exemplo de herói perfeito. Mas não o herói perfeito que muitas vezes estamos acostumados a encontrar no mundo geek, o que quer dizer que perfeição nem sempre é isenção de falhas ou mesmo perfeição estética: por mais que Delos tenha o corpo bombadinho e tudo mais, há uma explicação lógica até para isso no mangá. É muito bacana ver que existe uma desconstrução do heroísmo-completamente-perfeito que vemos muitas vezes em mangás, HQ’s e inclusive em filmes. É interessante notar que Delos seria mais o estilo de herói japonês clássico: forte, puro e honrado.

GIGANTOMACHIA – luta engraçada de Delos
Sem falar que ele é engraçado, haha <3

O desenvolvimento da trama no mangá vai sempre surpreendendo o leitor de forma bastante positiva e impactante, como é de costume do Miura. GIGANTOMACHIA possui, no entanto, um enredo bem mais leve e menos denso que Bersek e chega até conter partes bem humoradas, que ficam a cargo da dupla de protagonistas. Mesmo assim, não tem como não notar a discussão social entre as falas e é claro, as lutas que são no mínimo, “energizantes”.

GIGANTOMACHIA - energia~

Minha crítica ou meu “pé-atrás” com o mangá é por ele apresentar conteúdos característicos de ecchi/lolicon. Conhecendo o Miura e conhecendo bem os mangás japoneses e os próprios japoneses e suas criações bizarras, muitas vezes a chave do negócio é simplesmente ignorar… Principalmente quando isso acontece pouco e o contexto restante é de qualidade.

GIGANTOMACHIA - traços fofinhos
Só relevo porque tem parte fofinha u__u

Por fim, como o mangá é em edição única, fica fácil comprar e ler! Recomendo muito esta leitura principalmente para os fãs de Bersek, mesmo que, de certa forma, o clima seja bem diferente. Ainda assim, as influências da obra anterior de Miura são visíveis, principalmente nos monstros, nas batalhas e na satisfação de ver um mangá que dá gosto de ler! Mas o bacana mesmo é que ele também pode ingressar muitos leitores que não ouviram falar do autor a conhecer seu estilo incrível de narrativa e traço.

só ignorem a marca falha de esconder meu dedo ali, plz u__u
só ignorem a marca falha de tentar esconder meu dedo ali, plz u__u

A editora Panini Comics foi a responsável pela publicação no Brasil, fazendo um excelente trabalho, inclusive. A edição está em papel offset. O mangá está saindo pelo preço de R$15,90 e possui 232 páginas e 7 capítulos. O papel offset dá um belo charme e deixa o volume único com um aspecto mais firminho, além das páginas assim demorarem bem mais pra ficarem amarelinhas.

Minha conclusão é que GIGANTOMACHIA é um mangá que vale a pena. A obra te faz refletir sobre várias coisas de importância social e tem personagens realmente ótimos. A arte, como já dito, é esplêndida e a edição da Panini veio muito a calhar para quem gosta de obras de boa qualidade.

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