Esse texto CONTÉM SPOILERS.

Você que não joga videogame e foi até o cinema assistir WarCraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, e saiu de lá falando: gente, tem coisas bem estranhas aí. Pois recentemente eu gravei um podcast do IGN Brasil, chamado Hype, e chegamos a algumas conclusões interessantes que eu queria colocar em texto. Até mesmo porque escrever sobre elas também me ajuda a construir melhor os argumentos. Inclusive, O Marcus Oliveira e a Bruna Penilhas fizeram essas confabulações comigo.

A primeira coisa que você deve saber é que muitos fãs acharam, sim, que a adaptação tem algo de deslocado. Vamos começar com o básico: certas atuações ficaram muito aquém do esperado, os Orcs digitais estão bem mais emotivos do que os humanos no filme. E isso faz sentido: os Orcs são mais emotivos nos games mesmo. Garona, a meio orc, não apenas ficou estranha, como teve um romance bizarro. Medivh, o mago mais poderoso do mundo, ganhou uma personalidade meio rasa. E isso é muito importante.

 

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Bem, caro AINDA não amante de Warcraft, Medivh é um dos personagens mais importantes de toda a história do universo da Blizzard. Sabe toda aquela magia verde estranha, a Vileza, que infeta os Orcs? Sabe aquele portal louco que deixa os Orcs saírem de sua terra natal (chamada Draenor) para chegar à terra dos Humanos (chamada Azeroth)? Tudo isso foi quase culpa de Medivh. Eu digo quase porque tem uma explicação super longa de porque ele fica aquele ser bizarro no final do filme. Mas, não, não vou contar aqui, porque acho que esse será o foco do segundo filme.

Assim, vou tentar explicar as coisas sem entrar em spoilers dos próximos filmes, e sem falar todos os acontecimentos dos livros e games porque vai que você quer ler depois, combinado?

  1. Vamos lá. A primeira coisa que você precisa saber é que, por mais que seja medieval e tenha Orcs, Warcraft não é uma fantasia clássica. Ele não funciona com ORCS SÃO DO MAL, HUMANOS SÃO DO BEM. Isso não significa que não existem vilões, mas eles ainda nem apareceram direito no filme. Assim, a dualidade de um Senhor dos Anéis está fora de questão.
  2. Além disso, Warcraft não tem um protagonista. É uma história de milhares de anos. Cada pedaço tem vários protagonistas. Então, quem é protagonista do filme? A resposta correta é: ninguém.
  3. Os games são compostos da parte de jogo (que você interage) e as cutscenes (animações que você não controla). A Blizzard, empresa que faz o jogo, faz cutscenes incríveis, que todos os fãs amam. E é importante saber disso, porque essa é a essência do filme: custscenes.
  4. Então temos um universo complexo, sem protagonistas, com muitos detalhes e muita trama. Temos os games, os mais antigos de estratégia e World of Warcraft, um MMO. E temos que adaptar tudo isso. Nossa, que tarefa complicada, certo? Sim!

 

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Agora, vamos falar brevemente de adaptações de games. A maioria é uma droga, correto? Sim, ou claro? E por quê? Eu acredito que isso acontece porque tentamos encaixar essa complexidade dos games em um esquema hollywoodiano, jornada do herói, começo – apresentação – conflito – resolução. Nem todos os games são assim, claro, nem todos os filmes. Mas que tal concordar que existe uma fórmula montadinha para como “filmes tem que ser para dar certo”? Quando você tenta traduzir um game que não tem essa fórmula para isso, você perde a essência do game.

Então, parta do seguinte princípio: Warcraft, o filme, é bem mais focado na LINGUAGEM de uma cutscene do que em cinema hollywoodiano.

Sabemos, por entrevistas e materiais deixados pela produção, que Duncan Jones, o diretor do filme de Warcraft, é bem fã da série. O roteiro original tinha claramente um herói, Lothar, e um lado considerado o certo, os Humanos. Ele mudou isso aí e disse: não, vamos mostrar os dois lados da coisa. Algumas coisas bem importantes que ele não mudou ou não conseguiu mudar:

  1. O conflito de Lothar e seu filho.
  2. O romance entre Garona e Lothar.
  3. Alguns personagens mais arquetípicos do que nos games e livros, como Medivh.

 

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E o que não foi mudado? Exatamente os pontos do filme que tentam se aproximar da linguagem de Hollywood. Interessante não? Porque, para mim, os piores pontos do filme, os que estragam o roteiro, são exatamente os pontos feitos na tentativa de agradar quem curte o estilo hollywoodiano.

Nesse ponto, Duncan Jones faz algo realmente visionário: começa a trazer a linguagem de games para o cinema, mesmo que às vezes se perca quando tentar incluir Hollywood. Quer saber mais? Veja ou assista o Hype, em que falamos realmente de cenas específicas.  🙂

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