O herói do tempo e suas provações em Ocarina of Time
A história do herói do tempo, a versão de Link de Ocarina of Time, é o conto mais trágico e sombrio da história da série. Apesar de seu visual colorido, Ocarina of Time é uma história sobre uma criança perdendo sua inocência, e ninguém lembra dos feitos heroicos que ele ofereceu em troca.
O jogo foi a primeira versão de Zelda em 3D, se unindo a jogos como Metal Gear Solid (lançado um mês antes para PlayStation) como pioneiro no estilo cinematográfico que levaria os jogos eletrônicos a avançarem nesse tipo de animação. Seu cenário fantástico e brilhante combinava elementos de terror, como a transição do vibrante mercado para as ruínas cheias de mortos-vivos. Esses momentos separaram Ocarina of Time dos outros jogos 3D da Nintendo, como Super Mario 64, e as coisas ficaram ainda mais sombrias em Majora’s Mask.
Além desses detalhes de terror, mergulhado profundamente no núcleo da história de Ocarina, está algo muito mais maduro do que qualquer game anterior de Zelda. A jornada através do tempo de Link, de criança para homem, e de volta para criança, é sutilmente mais sombria do que Majora’s Mask ou Twilight Princess, compondo o conto mais emocionante até o momento.
Teoria: Como o Link de Ocarina of Time encontrou uma morte solitária
Após recuperar a Master Sword de seu pedestal, o jovem Link de Ocarina of Time (órfão por causa de uma misteriosa guerra) é trancado no Reino Sagrado pelo ancião Rauru por sete anos. Ao abrir o Reino Sagrado pela primeira vez, Link se expôs involuntariamente ao maligno Ganondorf, permitindo que ele tocasse a triforce e ganhasse controle sobre Hyrule. Isso lança sua terra no caos e escuridão, e por isso Link precisa derrotá-lo para livrar a terra de sua corrupção. Depois, ele é enviado de volta para sua infância, na linha do tempo de Zelda em que Ganondorf jamais tomou o poder.
Por viver em um período em que Ganondorf nunca ascendeu ao poder, ninguém próximo a Link sabe sobre seus feitos heroicos. Ele é apenas uma criança novamente – exceto, é claro, pelo fato de não ser. Sua inocência infantil acabou graças aos terrores que ele presenciou.
E para piorar, ele não pode retornar ao seu lar na Floresta Kokiri porque Navi, a fada que significava para ele um dos eternamente jovens habitantes da floresta, o deixou ao final de Ocarina. Sem família ou amigos (além das inacessíveis Saria e Zelda), Link se afasta de Hyrule em busca de Navi, o que leva aos eventos de Majora’s Mask.
A trama básica é obviamente triste, da infância perdida até a falta de controle de Link sobre seu próprio destino. É a sua execução através do roteiro de Ocarina que torna o jogo tão único dentro da série.
Outros jogos de Zelda abordam temas como “tristeza”, “remorso” e “desespero”, mas Ocarina of Time criou uma história tão melancólica quanto eles sem precisar utilizar esse tipo de linguagem. Os diálogos de Ocarina focam em recuperar a pureza e a inocência, e os personagens são lembrados constantemente da idade relativa de Link.
Esse fato faz com que o final do jogo atinja seu objetivo: apesar de Link conseguir retornar a Hyrule, da forma como era, ele mesmo nunca poderá voltar a ser quem era antes disso tudo.
Posteriormente na série seu dano emocional toma uma forma literal. Em Twilight Princess, o Herói do Tempo retorna como o morto-vivo Hero’s Shade, um guerreiro esqueleto que ensina ao Herói do Crepúsculo técnicas de espada. De acordo com o Hyrule Historia de 2013, o Herói do Tempo “lamentava que não era lembrado como um herói”. Preso neste mundo por seu remorso, ele busca passar seu conhecimento como “prova de sua coragem”.
Uma teoria famosa entre os fãs explica a transformação de Link em Shade de outra forma: As Florestas Perdidas, que envolvem a Floresta de Kokiri, são conhecidas por transformar humanos em Stalfos, esqueletos inimigos em Zelda. Sem Navi, Link seria considerado um humano, então alguns fãs imaginam que ele tenha retornado à floresta após Majora’s Mask, se perdendo e se tornando um morto-vivo enquanto procurava seu antigo lar.
Se for verdade, a história teria um final ainda mais trágico, apesar de adequado, ao herói mais trágico da franquia.
Fonte: Screenrant
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Débora é musicista, professora de artes, pesquisadora de sociologia de gênero. Autoproclamada otaku-não-fedida e gamer casual. A alcunha de Liao veio de um site aleatório de geração de nomes japoneses (Liao é chinês, mas tudo bem).
