Aparentemente, estamos de volta a 1999…

Sim, a notícia é essa. Uma escola católica norte-americana baniu os livros de Harry Potter afirmando que os alunos poderiam acidentalmente conjurar “espíritos do mal” enquanto estivessem lendo o texto.

A história recebeu uma grande cobertura da mídia local, e algumas pessoas afirmaram que a atenção era desproporcional por se tratar de apenas uma escola.

Mas é importante ressaltar que o banimento e censura de livros em escolas é sempre inaceitável. E neste caso em específico, os motivos são ainda mais idiotas.

Como apontado pela Geek.com, o responsável pela escola tinha um motivo inusitado para banir os livros:

Esses livros apresentam a magia como algo bom e ruim, o que não é verdade, mas de fato uma enganação inteligente”, afirmou o Reverendo Dan Reehil, em e-mail. “As maldições e feitiços utilizados nos livros são verdadeiras maldições e feitiços. E com isso, quando lidos por um ser humano, criam o risco de invocação de espíritos do mal na presença da pessoa lendo o texto.

Ainda de acordo com a Geek.com, Reehil afirmou ter “consultado diversos exorcistas” nos Estados Unidos e em Roma, que recomendaram o banimento. É um tanto irônico que pessoas que se identificam como exorcistas de demônios possam ter um pensamento tão fechado em relação a obras de fantasia. O problema é que tudo isso não passa de ficção…

Harry Potter não contém “maldições e feitiços de verdade”. Na verdade, os livros contêm um sistema inventado de magias, em que J.K. Rowling buscou elementos desde O Senhor dos Anéis e da mitologia grega, até Dias da Escola, de Tom Brown. Apesar de Rowling em alguns momentos rascunhar tradições estabelecidas, história e folclore em seu mundo, trata-se de uma terra de carros voadores, sereias no lago da escola, centauros e aranhas gigantes na floresta. Os encantamentos são versões comprimidas e derivadas de palavras em latim, como Expelliarmus, Finite Incantatum, Lumos e Petrificus Totalus. Resumindo, os “feitiços” são apenas baboseiras, mesmo para quem acredita em magia em nosso mundo. Rowling inventou todos eles. E apostamos que foi bem divertido inventá-los.

Já as “maldições” são praticamente a mesma coisa. Existem três imperdoáveis – Avada Kedavra (maldição da morte), Imperius (maldição do controle) e Cruciatus (maldição da tortura). É uma espécie de lição moral que deveríamos levar para a casa através dos livros, que usar essas maldições é algo tão terrível que elas são tratadas por “imperdoáveis”. Isso é algo bom para as crianças aprenderem que você não deve matar, controlar ou torturar os outros.

Nos anos 1990, Harry Potter chegou a ser banido de algumas escolas porque alguns cristãos estavam incomodados com a bruxaria, apesar de nunca terem pegados nos livros. Talvez se eles tivessem visto como as crianças no livro celebram fervorosamente o Natal, a ideia poderia ter mudado. É algo surreal que mais de duas décadas após o lançamento, vejamos essa história de proibição retornar, ainda mais quando os livros e filmes são parte estabelecida da cultura pop. Nós temos parques temáticos com tema de magia, diversão para toda a família.

E é ainda mais surreal ver que o motivo desta vez não é o suposto “anti-cristianismo” das obras, mas supostamente conterem magias reais que causariam risco de invocação de espíritos do mal.

O mundo de Rowling pode não ter envelhecido tão bem em nossa época, e as atitudes da autora nos últimos anos deixaram a desejar. Mas alguns dos temas mais importantes de Harry Potter, que passam no teste do tempo, são a rejeição do racismo e preconceito de classe e o encorajamento da resistência contra o fascismo.

A série de Harry Potter deveria ser leitura obrigatória, e não livros banidos de uma biblioteca.

Os livros demonstram também que as autoridades podem ser corruptas, que os governos podem ser liderados por pessoas absolutamente incapazes de lidar com sua posição de poder, e que mesmo as escolas podem ser assim. Tendo isso em consideração, não é exatamente algo inédito ver instituições alegarem que uma “autoridade maior” determinou a proibição de Harry Potter. Mas essa baboseira de invocar espíritos do mal é uma das piores desculpas de todos os tempos.


Fonte: TheMarySue

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