A série foi responsável por uma das histórias de amor mais bonitas da TV!

Bury your gays (tradução livre: enterre seus gays) é um tropo muito comum na cultura pop, e aparentemente usado pela série de The Last of Us… ou não. Na verdade, este texto é para dizer como a série subverte essa ideia e não cai nesse tropo clichê tão criticado.

Contém spoilers do terceiro episódio Long, Long Time de The Last of Us

The Last of Us | Imagem: HBO

O terceiro episódio da série comoveu muitas pessoas, e não é para menos. Long, Long Time é um dos melhores episódios de The Last of Us. Um dos grandes méritos é expandir um ponto secundário do jogo, em prol de contar uma história de amor e apresentar uma representatividade que não vemos tanto.

Deixando um pouco de lado a jornada de Joel e Ellie, o episódio foca na história de Bill e Frank. Um belo dia, no meio do apocalipse dos fungos, Bill encontra Frank na sua propriedade. Ele tinha acabado de se perder do grupo e Bill resolve ajudá-lo, dando comida e um espaço para ele dormir. O que começa como um encontro aleatório se torna uma das histórias de amor mais lindas que eu já vi no audiovisual.

Depois de uma hora de episódio nós vemos que, apesar do apocalipse caótico, Bill e Frank foram felizes, eles escolhem morrer juntos, um pouco antes de Joel chegar na casa deles.

Por conta de ser um casal queer, foi apontado a possibilidade do episódio ser uma perpetuação do estereótipo bury your gays. O clichê seria quando uma história dá espaço para personagens queer, mas eles sempre acabam morrendo no final. E apesar de, em uma leitura rasa, parecer que o Long, Long Time faça isso, na verdade ele não se encaixa nesse tropo.

O estereótipo bury your gays geralmente aparece em histórias em que pessoas queer mal tem espaço. Além de serem estereotipados, muitas vezes um grupo de personagens só tem uma pessoa queer, e é justo ela que morre (ou é a que morre primeiro). Outro aspecto desse tropo é esses personagens queer morrerem depois de fazerem algo que demonstrem que são queer (por exemplo, ficar com alguém do mesmo gênero).

Black Mirror | Imagem: Netflix

Outro episódio muito marcante para a história das séries de televisão passou pela mesma crítica: San Junipero, de Black Mirror. Nesse episódio, duas mulheres queer têm um relacionamento amoroso em uma realidade pós-morte, que pode ser criada e receber tantas pessoas por conta da tecnologia futurista. No final, elas decidem ir para essa realidade de maneira integral, que seria escolher a morte, para ficarem juntas e felizes.

A questão é que o bury your gays é um tropo que envolve punir um personagem que saia da norma, ou mostrar como ser queer traz consequências ruins, como a morte. Mas, no caso de San Junipero, não é isso que acontece. É uma escolha consciente de ter uma vida mais feliz, já que a tecnologia permite esse escape das duas personagens.

E, da mesma forma, Long, Long Time não se encaixa nesse tropo. Nós vemos que por anos, no meio de um apocalipse que inúmeras desgraças acontecem, Bill e Frank encontraram o amor e uma vida de paz. Frank está morrendo por conta de uma doença que não tem nada a ver com o apocalipse, muito menos por algo errado que ele poderia ter feito.  Sem querer ficar sozinho, Bill decide morrer junto com ele.

Sim, no final das contas, ambos os episódios terminam com personagens queer morrendo, mas o contexto e o espaço que esses personagens tiveram é importante. Os quatro personagens em questão tiveram espaço de brilhar tanto quanto qualquer outro personagem não queer teria.

The Last of Us | Imagem: HBO

O problema não é um personagem queer morrer, é tudo que está ao redor dessa escolha narrativa. Ele é o único personagem queer da história? Por que e como ele morreu? O personagem tem espaço para ter uma história bem escrita, assim como outros personagens?

Long, Long Time entra para a história das séries ocupando um espaço parecido com San Junipero, mas para casais compostos por dois homens. É uma história sim que termina em morte, mas que é emocionante e destaca como relações consideradas fora do padrão também podem ter espaço na mídia. A maioria do público ficou muito emocionada com o episódio.

Além disso, no jogo The Last of Us, só dá a entender que Bill e Frank tiveram uma relação, porque Bill é o único vivo e nada profundo é dito sobre a relação. A série The Last of Us pegou o que era um detalhe e fez um dos melhores mais emocionantes da temporada, e talvez mais emocionante de 2023.

Reconhecer tropos na cultura pop é importante, até para identificarmos clichês e cobrarmos histórias que tratem personagens queer com respeito. Mas, para entender se uma história é um tropo, é preciso uma análise mais aprofundada. Felizmente Long, Long Time é muita coisa, clichê não é uma delas.

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