O universo de Pokémon, mesmo em um anime cheio de pequenos monstrinhos que têm seus momentos de doçura e fofura, é estranho e aterrorizante se você parar para pensar a respeito. O mundo está lotado desses monstros e por todo canto que você vá existem pessoas obcecadas por combates. Há até igrejas Pokémon e as pessoas falam de seus pokémons favoritos o tempo todo. Ninguém pode fazer nada sem a ajuda de estranhas, mágicas, criaturas destrutivas.  Se você entrar num mato errado, pode acabar sendo morto por um ratinho elétrico. E essas nem mesmo são as coisas mais perturbadoras sobre a vida em um lugar dominado por pokémons.

Na internet, fãs discutem teorias sobre os adultos da história de Pokémon terem morrido em uma guerra massiva, uma vez que a maioria dos protagonistas da série são crianças. A maioria dos homens são idosos, médicos, cientistas e criminosos – em outras palavras, os caras que não teriam sido escolhidos para uma linha de frente de uma guerra. Claro, são apenas teorias de conspiração, mas temos que admitir que elas fazem algum sentido. Principalmente quando um dos argumentos deles é que em uma das versões do game, em Lt. Surge, o líder de ginásio da cidade de Vermilion diz:

 Hey, kid! What do you think you’re doing here? You won’t live long in combat! That’s for sure! I tell you kid, electric Pokémon saved me during the war! They zapped my enemies into paralysis! The same as I’ll do to you!

Suspeito, não?

Outra coisa interessante é notar que fantasmas são reais e que eles comem seus sonhos.  Medonho. Ou vai dizer que, de Gengar até Gastly, ataques como “Nightmare” e “Dream Eater” não são movimentos um tanto quanto tensos? Ou mesmo pokémons como o Yamask, por exemplo, que surgiu a partir dos espíritos de pessoas enterradas em sepulturas de épocas passadas, sendo que cada um retém lembranças de suas antigas vidas. E pior. Cada um deles carrega uma máscara que costumava ser… O seu rosto quando humano!!  Dizem que às vezes eles olham para as máscaras e choram.

Gengar, Yamask, Misdreavous
Gengar, Yamask e Misdreavus

Tipo, WTF, SÉRIO? WHAT THE HELL?

Olhando por esse lado, não seria meio revoltante que as pessoas andassem por aí com espíritos que deveriam estar descansando, dentro de pokébolas e fazendo-os lutar? Bom, de qualquer forma, acho divertido pensar nessas coisas.

Enfim, um mundo onde o crime organizado corre à solta, com uma corporação gigantesca como a Pokeballs: Silph Co. controlando o comércio de maneira absurda e deixando claro que é uma empresa praticamente dona do mundo (não precisamos ser especialistas em economia para concluir que isso é ruim: ela poderia criar uma catástrofe para treinadores no mundo todo se quisesse aumentar drasticamente os preços dos produtos ou simplesmente parar a produção de pokébolas e repasses para as únicas lojas do mundo Pokémon: os Pokémarts, que convenientemente são lojas filiadas da corporação), onde pokémons lendários são essencialmente deuses com poderes absurdamente fortes que poderiam dizimar a vida no planeta em pouco tempo (O horror. O horror.), ou onde qualquer coisa mesmo pode ser um pokémon (pensem seriamente sobre o quão assustador isso é. Claro, agora ninguém pensa que há uma cadeira pokémon, mas o próximo jogo poderia incluir um “Chairzor”, e de repente você está preocupado se você vai ser atacado com um Fury Swipes cada vez que você tentar se sentar em uma cadeira por aí. Planeja desfrutar de uma xícara de chá? Melhor ter certeza que não é “Teeleaf” ou algo assim. Porque quando qualquer coisa pode ser um pokémon, você tem que assumir que tudo pode ser um pokémon, e isso torna a existência no mundo Pokémon mais assustadora imaginável. Afinal você nunca está sozinho. Você nunca está seguro. Você está cercado, em todos os momentos, por monstros nascidos para a batalha. Boa sorte para dormir à noite), com certeza é amedrontador.

O anime mostra tudo isso de uma forma bem discreta e descontraída, disfarçada com aventuras infantis, piadinhas engraçadinhas e momentos bonitinhos. Já os mangás… Ah, não. Os mangás fazem questão de mostrar as coisas como elas são.

Mais tradicionais no Japão, os mangás de Pokémon nem sempre são traduzidos, mesmo para o inglês. E um dos maiores motivos é que os mesmos estão recheados de cenas e artworks considerados inapropriados para o público ocidental.

Sim, senhores! Os quadrinhos de Pokémon não são o mamão com açúcar que vocês veem no anime. Muito menos algo ‘infantil’. Ainda duvidam? Pikachu responde:

Sabem de nada, inocentes!
Sabem de nada, inocentes!

Para esclarecimento prévio de nossos queridos leitores, o mangá de Pokémon não ilustra apenas a jornada de Ash e seus pokémons. Ele é dividido em vários arcos e cada arco tem enredo e personagens diferentes dos do anime, tendo como protagonistas pessoas baseadas nos treinadores dos jogos.  O mangá original mesmo da série é Pokémon Adventures, mas há muitos outros tipos de mangá, que contam diferentes histórias, como Pokémon Zensho e Pokémon Chamo-Chamo Party, que não apresentam personagens vistos em outras séries ou mídias. Temos também, claro, The Electric Tale of Pikachu, conhecido no Brasil como Pokémon em Quadrinhos, e Ash & Pikachu, que têm como personagens principais Ash Ketchum e seu amigo Pikachu.

De fato, muitas pessoas têm a impressão, vendo o anime, que todos os mangás são igualmente focados no público infantil, mas a impressão é ~super~ errônea, ney.

Vamos direto ao ponto agora. O mangá em questão que estamos falando sobre neste post é Pokémon Adventures, a primeira saga de Pokémon em si. A história de Pokémon Adventures é mais próxima dos jogos e pode-se inclusive dizer que a história dos mangás segue a linha de tempo dos jogos.

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Enfatizando o citado acima, o mangá tem arcos e em cada arco um personagem mostra a história do seu ponto de vista. A princípio, o arco principal é construído a partir do ponto de vista dos personagens Red, Green e Blue. O primeiro arco vai do volume 1 ao 3. A seguir, temos a sequência: Yellow no foco da história no volume 4 até o volume 7. Gold, Silver & Crystal na história do volume 8 ao 15. Ruby & Sapphire nos capítulos do volume 15 ao 22. E assim por diante. Como já deu pra perceber, as sagas compartilham o mesmo nome do jogo correspondente à elas. Os protagonistas têm o mesmo nome das versões dos jogos também!

Iniciando nossa conversa sobre as diferenças do anime para o mangá, o primeiro ponto é: Os mangás são imensamente mais detalhados, as histórias são imensamente mais trabalhadas e, portanto, bem mais longas… Deep-story, saca?

E as batalhas… Bem… Digamos que são mais… Sangrentas.

Então, né. Sabe aquela fofurice ~levemente~ violenta do anime e tudo mais?

ash loves pikachuoak loves eeve ah, danadaTá okeey… Sem zoeira. Tipo isso aqui, ó:

Só tá fazendo cosquinha, Rizardão!
Tá fazendo cosquinha só, Rizardão!

Isso não chega NEIN perto do mangá. Seriously. Mesmo as últimas gerações dos animes e dos filmes não chegam perto do mangá quando o quesito é violência. Por isso… ~Sugerimos às grávidas e pessoas com problemas cardíacos ou respiratórios que não prossigam a leitura.~

PAUSA PARA RESPIRAR FUNDO/PEGAR LENCINHOS/

PEGAR ALGUMA COISA PARA SEGURAR O QUEIXO.

pikachufox i forgot the nameespeonbulbasaursquirtlecharmandertrainer

  Prontos? Têm certeza disso? Certeza absoluta? Posso perguntar? #silvio Então tá, vamos lá!

Oh. Esperem! Acabo de me lembrar de mais um detalhe interessante. Quem já jogou Pokémon entende um pouco a ironia da coisa:

Gentleman!
Gentleman! Hahaha!

Dica: antes de continuar a leitura, comecem a refletir quantas coisas e quantos pequenos detalhes não faziam sentido no jogo e no anime. Agora chega de falação!

Prova logo a porra do post, mulher!
Anda logo, mulher!

Já que os senhores estão avisados do que vem à seguir, deixarei que analisem por seus próprios olhos o que existe nos quadrinhos de Pokémon e a distância disso do que usualmente é mostrado no anime. Não é realmente necessário que haja um discurso acadêmico pra que cheguemos à conclusão mais óbvia que existe.

A ibagen a seguir é do Capítulo 14 de Pokémon Adventures.

WELCOME TO THE POKÉMON MANGA, NO POKÉCENTER CAN HELP YOU OUT!
WELCOME TO THE POKÉMON MANGA, NO POKÉCENTER CAN HELP YOU OUT!
Posso pressentir~ A SUA CARA AGORA!
Posso pressentir ~ A SUA CARA AGORA!

Serei boazinha agora e cortarei as imagens para vocês sofrerem menos. Capítulo 9 de Pokémon Adventures:

Sim, isso é um Poliwhirl sendo trespassado por um Fearow.
Sim, isso é um Poliwhirl sendo trespassado por um Fearow.
FUKUKUKU~
FUKUKUKU~

Outras imagens semelhantes:

Pobre Brock. Só se ferra.
Pobre Brock. Só se ferra.
TUDO ÓTEMO, CARA, SÓ ACABEI DE QUEBRAR UM POKEMÃO EM PEDAÇOS
TUDO ÓTEMO, CARA, SÓ ACABEI DE QUEBRAR UM POKEMÃO EM PEDAÇOS

Vocês perceberam que nosso amiguinho protagonista da vez aprendeu ~dereitinho~ né?

E sim, o que estão pensando aí na cabecinha de vocês é verdade:

POKÉMONS MORREM EM BATALHAS!
POKÉMONS MORREM EM BATALHAS!

DONTKNOWWHATTOSAY

Podemos acrescentar aqui um fato creepy que nem todo mundo se lembra bem ou pode não ter percebido no anime que também ocorre no mangá: Pokémons são fonte de alimento. Vemos os personagens comendo Magikarps ou carne de Tauros.  Eu acho que deve ser uma delícia, mas ok. A parte assustadora seria no fato de que uma das mensagens mais importantes de Pokémon é tratar pokémons como amigos. Tanto que treinadores que pegam muito pesado no treinamento de seus pokémons são geralmente tratados como vilões. A história de Pokémon é sobre a ligação entre treinadores e seus pokémons. Mas até treinadores ficam com fome, lógico. Quase não são mostrados animais comuns da nossa realidade nos animes, jogos e mangás de Pokémon. Logo, podemos imaginar que, para eles, tomar leite ou comer carne de uma Miltank seja algo tão natural –  ou para alguns, tão terrível – quanto de uma vaquinha comum. E estes incríveis pokémons comestíveis são muito inteligentes, compartilham um certo tipo de linguagem comum de entendimento com os seres humanos. Alguns poderiam até mesmo praticamente falar com as pessoas para saírem chorando. Mas que seja – pra mim isso é legal.  Alguém pegue um pouco de molho de churrasco, vamos jogar outro Skitty na grelha.

 

 

TÁ, PAREI ;__; Devolve aqui o meu Skitty fofinho!

#sad
#sad

*Caham*. Voltando à programação anterior:

Ouch, that hurts.
Ouch, this surely must hurt.

O que seria possível comentar a respeito das diferenças entre os quadrinhos e as animações de Pokémon sem spoilear é o seguinte: a série animada de Pokémon tem um intuito comercial, queiram ou não. Portanto, os produtores muito provavelmente acabam sendo influenciados por coisas como “o que as crianças gostariam de ver” e não “o que nós achamos que ficaria ótimo”. É apenas um exemplo raso e contundente, mas tudo bem, o fato é que o anime acaba sendo mais infantil para atingir o maior público possível, principalmente o mais impressionável – e para isso acabam alongando bastante a série. Daí surgem os incontáveis episódios fillers, onde a história acaba sendo random e sem profundidade alguma, muitas vezes sem chegar a final nenhum – o Ash nunca parece melhorar muito e quando finalmente começa a evoluir e seus pokémons finalmente começam a ficar mais fortes, então ele troca de pokémons e começa do zero de novo. Isso num ciclo infinito. E é isso que contradiz o mangá, onde seus personagens vão melhorando progressivamente, amadurecendo, pouco a pouco superando seus rivais, pouco a pouco aprendendo de fato a serem treinadores de verdade. Existe a superação de pequenos defeitos dos protagonistas no mangá, mas o Ash do anime permanece o mesmo inconsequente de sempre olhando repetidamente pokémons na pokedéx que ele já viu anteriormente.

Pobre Dexter.

Outra curiosidade intrigante é que o anime muitas vezes infantiliza ~demais~ quase todos os vilões. Até mesmo os primeiros jogos de Pokémon tratavam os vilões como pessoas bem cruéis: a gangue do foguete fazia contrabando de caudas de Slowpoke por ser um item altamente valioso no mercado negro – e jogavam os pobres pokémons mutilados de volta no mar, ou pior. No mangá, ninguém desconfia que o líder da equipe Rocket seja o Gymn Leader Giovanni, da cidade de Veridiana. Na verdade, isso acaba sendo revelado posteriormente, mas ele não é idiotizado como no anime, assim como os planos de sua equipe maléfica. Ele sempre comandou a Equipe Rocket por baixo dos panos enquanto tranquilamente ocupava o papel de líder de ginásio.

STOP IT STUPIDS

Tudo bem, tudo bem… Acho que vossos sentimentos já foram suficientemente feridos, melhor parar por aqui. Porém, agora, se alguém te falar que Pokémon é coisa de criança, você já sabe a verdade. Apesar do drama que fiz em boa parte do post (inclusive ultrapassando meu limite de zoeira dessa semana e da que vem), é um mangá cuja indicação é altamente recomendada. Principalmente para aquelas pessoas que não se contentam com as animações e que gostariam de ver um pouco mais de lógica e realismo na história. As demais características de Pokémon também serão certamente encontradas nos mangás: Diversão, emoção, aventura e Gotta Catch’Em All! E fiquem frios, apesar das batalhas terem se tornado mais emocionantes e maduras ao desenrolar da história, não chegam a ser realmente violentas.

Tirinha adaptada do original de Francisco Souza.
Tirinha adaptada do original de Francisco Souza.

Pessoalmente falando, acho a história do Red, o primeiro protagonista do mangá, um zilhão de anos luz melhor do que a história do Ash. Ao contrário do nosso querido Cinza, é claramente perceptível que Vermelho não tem aquele estigma de perdedor, se me perdoam o termo forte. Red é quem mais se encaixa nos requisitos de Mestre Pokémon (algo que ele inclusive já se tornou no mangá, ao contrário de um certo alguém por aí), que realmente sabe como lidar/treinar/ser respeitado por seus pokémons e ser um treinador, sem descrições mais cabíveis, foda.

As definições de 'foda' foram atualizadas.
As definições de ‘foda’ foram atualizadas.

E não estou falando só para hatear o Ash, mas porque nesses meus tempos vendo o anime já me cansei de dizer e ouvir exclamações como: “Porra, Ash! Tu é muito burro, cara!“. O desenvolvimento do Red na trama do mangá me parece realmente mais inteligente, mais cativante. No final das contas, você acaba de fato se identificando muito mais com ele porque é visível o esforço dele, o sofrimento dele é real. É bem emocionante.

Página colorida por um fã - uma das cenas marcantes do mangá.
Página colorida por um fã – uma das cenas marcantes do mangá.

Na animação que fizeram dos volumes dele, Pokémon Origins, ele consegue capturar TODOS os FUCKING pokémons lendários, além de evoluir o Charizard dele para Mega Charizard sem problemas que vemos outros treinadores passarem no processo de transformação mega (como é possível ver em Pokémon XY, por exemplo, com a Gymn Leader Korrina e seu Lucario). No mangá, a história é menos apelona, claro, mas ainda assim o Red dos quadrinhos conseguiu o feito de capturar um Mewtwo sozinho! Ele também teve um Eevee geneticamente modificado que conseguia transmutar entre Flareon, Jolteon e Vaporeon, até o dia em que ele finalmente evoluiu para um Espeon definitivamente (essa história em particular é muito legal, principalmente ver o pequeno, traumatizado e problemático Eevee criando laços com o Red e conseguindo se curar de seus traumas). Ah, e o mangaká não esqueceu do processo de crescimento do Red como esqueceram o do Ash, então o Red também amadurece e envelhece durante a história. Enfim, Red = versão cool do Ash.

Sacam a diferença de mito e ralé?
Sacam a diferença de mito e ralé?

Por fim, podemos concluir que o mangá tem sim um enredo mais adulto que o anime e isso pode acabar colaborando para quebrar um pouco a visão que as pessoas formam assistindo o anime de Pokémon desde a infância, por exemplo. No entanto, consequentemente, a história é mais madura, os dramas são mais reais, os vilões são ossos-duros-de-roer. Vilões de verdade, daqueles que fazem o sangue congelar nas veias. Para os que realmente se interessarem em ler o mangá, podem esperar por coisas muito tensas acontecendo graças aos vilões. Só não especifico mais e coloco mais imagens porque isso seria um spoiler maldoso. A minha intenção mesmo era passar uma ideia básica da diferença do anime para o mangá. Então, deixarei o resto por conta e risco de vocês mesmo.

Existem hoje traduções disponíveis em português do mangá na internet, então você não tem tempo a perder! Isso é, caso você tenha estômago suficiente para estragar suas fantasias infantis sobre Pokémon, claro. No mais… Tenham um ótimo fim de semana! #trololololol

huehueBrincadeirinha! fukukukuPra galera que quiser ler, o mangá pode ser encontrado em português aqui.

EDIT: Atualmente a Panini Comics está publicando o mangá do Black & White no Brasil!!! Yaaay! Serão provavelmente 10 volumes!! A dona Liao comprou um volume e já está dando chilique por aqui:

LET’S GO CATCH’EM ALL!!!!!

Bjokas da Liao n__n

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