Te contamos tudo que achamos do filme! Vem ler! 

NÃO TEM SPOILERS, PODE LER!

Talvez você reconheça a minha memória como a sua: quando eu era pequena, eu assisti ao desenho da Bela e a Fera (1991) pela primeira vez. Automaticamente, eu me senti contemplada na personagem: eu também passava o dia inteiro com livros e as pessoas me achavam estranha – ou numa tradução menos fantástica e mais realista: eu era nerd e CDF, e sofria bullying. Minha cena favorita era quando o povo da cidade se juntava para atacar a Fera, porque eles cantavam “Não gostamos daquilo que não entendemos”. Para mim, era um tipo de consolo e acolhimento: talvez as pessoas não gostassem de mim, porque não me entendiam.

Se você, por um motivo ou outro, também tinha Bela como sua princesa favorita durante a infância (na minha época, as princesas ainda não eram emancipadas), você também deve estar com um mixo de ansiedade, alegria, nostalgia e um tanto de receio para o novo filme. Quando eu sentei na cadeira e as luzes se apagaram, foram essas as sensações que me acompanharam.

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Para minha felicidade, as primeiras cenas fizeram contentar minha nostalgia. Não apenas quando Bela é apresentada pela primeira vez, em meio à sua pequena vila, a canções, a cenários e figurinos impecáveis, mas também pela apresentação do príncipe que vira monstro. Howard Ashman e seu parceiro Alan Menken tinham uma visão para a Bela e a Fera que não foi levada ao final: realmente colocar o conto em meio a uma França extravagante, como em épocas foi sua monarquia. Ele queria perucas, bailes grandiosos, etc. Ele também queria que a história da Fera fosse contada com mais detalhes.

Entre memória e modernidade

Vale a explicação: Howard Ashman foi um dos verdadeiros gênios que ajudou a criar a nova época de ouro da Disney. Ele e Menken tinham feito Little Shop of Horrors, e, então, chamados para criar músicas para a Pequena Sereia. Ashman fez as letras, deu o tom e a intenção para os cantores, e criou características que trouxeram texturas para a animação, como criar Sebastião com um sotaque jamaicano. Howard Ashman morreu em 1991, depois de acabar de escrever as músicas para A Bela e a Fera, e depois de compor três canções para Aladdin (“Arabian Nights”, “Friend Like Me” e “Prince Ali”). Ele se foi logo depois da primeira apresentação do desenho, com 40 anos, por conta de complicações de AIDS. Assim, ver um histórico um pouco mais detalhado da Fera chegou ao filme, 26 anos depois, é uma homenagem lindíssima, e que faz todo o sentido dentro do conto original da Bela e da Fera, criado por Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve no século 18.

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Por falar nisso, uma das ótimas adições no filme foi exatamente colocar um pouco mais da primeira lenda. O pai da Bela, por exemplo, recolhe uma rosa do jardim do príncipe, e é preso por ser um ladrão. Esse e outros toques adicionam uma camada de profundidade ao filme bem necessária, que se espalha e que é enfatizada pelo elenco do castelo. Emma Thompson, Ian McKellen, Ewan McGregor, Audra McDonald e Stanley Tucci estão todos ótimos, e as falas extras de seus personagens valem a pena. Inclusive, McGregor e Thompson estão absolutamente deliciosos.

Assim, A Bela e a Fera (2017) mistura o desenho com cenas extras, além de alterar alguns versos das canções originais. Enquanto certas tomadas e mudanças são importantíssimas e relevantes, como a vontade de dar mais camadas à Bela e Le Fou, por exemplo. Outras, são falhas.

Je nes sais quoi?

Primeiramente, devo dizer que gostei muito da Bela tímida, compassiva, inteligente, e corajosa de Emma Watson: parece menos extrovertida, mas muito mais real. Claro que o complexo de Síndrome de Estocolmo é estranho nos dias de hoje, mas, ao menos, o filme tenta explicar mais sobre o passado da protagonista. Mas sim, Estocolmo ainda existe. Um dos meus pontos favoritos é Luke Evans como Gaston, sua performance como ator e cantor é convincente e sólida. Dan Stevens quase convence que o romance entre Fera e Bela seria possível, mas fica faltando algo.

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Essa falta de je nes sais quoi, infelizmente, pode ser vista em alguns fatores do filme: como em algumas partes de animação que fica meio falha, dá para perceber isso em cenas com os lobos por exemplo; e nas novas canções de Alan Menken e de Tim Rice, que são um tanto tediosas. Com mais de duas horas de duração, A Bela e a Fera (2017) poderia ter vinte minutos a menos e ser bem mais próximos de uma audiência mais jovem, por exemplo. Se as canções de Alan Menken não entraram no desenho original, talvez elas não precisassem estar no filme. Isso sem contar que a adaptação para os palcos tem músicas incríveis que poderiam estar inclusas.

Esses lapsos podem ser aparentes. Contudo, não deixe que eles o afastem das telas do cinema. Se você é fã de Ashman, talvez fique um pouco brava (o) como eu fiquei. É um filme para se ver na tela grande, pelo cuidado com a produção de cenários e de figurinos, pelas performances dos objetos no castelo e de Gaston, pela nostalgia. Mesmo com uma ou duas canções a mais, A Bela e a Fera (2017)  vai encher os olhos de lágrimas daquelas meninas (e meninos) que se sentiam contemplados com Bela. Não sei se o mesmo sentimento se espalha para gerações mais novas, e, por isso, espero seu comentário. 🙂

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