Alexios NEM MESMO deveria ter sido um personagem jogável!!!

Os jogos mais recentes da franquia Assassin’s Creed teriam originalmente papéis muito maiores para suas protagonistas femininas, de acordo com a Bloomberg. A reportagem, que investigava relatos recentes de assédio, abuso e toxicidade dentro da Ubisoft, demonstra como a cultura de machismo e misoginia dentro da distribuidora teve impacto sobre os jogos produzidos.

De acordo com a Bloomberg, Assassin’s Creed Syndicate originalmente apresentaria uma divisão muito mais igualitária de ações entre os dois protagonistas, Jacob e Evie Frye. Após a intervenção de executivos, inclusive do recém-demitido Serge Hascoët, a balança foi desequilibrada para o lado de Jacob. No jogo final, a proporção é de 3 para 2 a favor de Jacob.

Esse padrão apareceu novamente durante a produção de Assassin’s Creed Origins. A história original previa a morte do protagonista Bayek no início do jogo, sendo então substituído por sua esposa Aya. No produto final, Aya tem um papel imensamente reduzido, apenas estrelando alguns segmentos de combate naval, enquanto Bayek se tornou o personagem principal.

Um ano depois, Assassin’s Creed Odyssey teria originalmente apenas Kassandra como personagem jogável. Hascoët, junto a outros funcionários do departamento de propaganda, insistiram que jogos protagonizados por mulheres não venderiam, e então o irmão de Kassandra, Alexios, acabou sendo incluído como um protagonista alternativo. Ainda que Kassandra ainda seja a protagonista canon de Odyssey, a decisão de um protagonista alternável fez com que os redatores tivessem um trabalho muito mais difícil para desenvolver qualquer um deles como personagem.

Sabendo que era uma decisão forçada tomada por executivos que agora são acusados de assédio e abuso, torna a história ainda mais amarga.

Serge Hascoët era o “Chefe do Departamento de Criação” da Ubisoft, e era descrito como a “força criativa” da empresa e um dos mais poderosos funcionários da empresa, abaixo apenas abaixo do CEO, Yves Guillemot. Ele era o responsável por dar o “ok” para o desenvolvimento de jogos e podia alterar a direção de qualquer projeto em desenvolvimento conforme sua vontade. Antes de se demitir da empresa, no início do mês, ele foi acusado pelo jornal francês Libération de comportamento tóxico, misoginia, homofobia, “comportamento libidinoso” e até mesmo de drogar funcionários da empresa com bolos recheados de maconha sem o seu consentimento ou conhecimento.

Sua demissão é parte de uma operação de limpeza interna na Ubisoft.

As alegações atingiram todos os aspectos da empresa, desde seus executivos, desenvolvedores e recursos humanos, até o ambiente por eles criado, com condições terríveis de trabalho e abuso.

No dia 2 de julho, Guillemot descreveu a resposta da empresa, incluindo terceirizadas, determinando mudanças nas políticas de recursos humanos e investigações acerca de todas as alegações feitas. Porém, Guillemot se tornou alvo dos protestos, uma vez que era CEO da empresa enquanto tudo isso acontecia, com pessoas apontando que ele não apenas sabia como tolerava esse tipo de ambiente até o momento em que isso se tornou um problema grande demais de relações públicas para que ele pudesse ignorar.

Há alguns anos a Ubisoft não lança um produto de sua linha principal protagonizado apenas por uma mulher. Ainda que Assassin’s Creed Liberation seja protagonizado por Aveline, o jogo era um spin-off para dispositivos portáteis e não recebeu sequer a divulgação oferecida ao seu contemporâneo, Assassin’s Creed 3. Se você ignorar jogos menores, com estilo indie, como Child of Light, o último grande lançamento da Ubisoft estrelado por uma mulher é Beyond Good & Evil, de 2004.

E a resposta para isso não é apenas colocar uma mulher de vez em quando e achar que tudo está resolvido, mas sim garantir que o ambiente nos estúdios seja receptivo para vozes diversas e histórias livres do preconceito de seus executivos, algo que jamais existiu sob a gestão de Hascoët.

Ter a opção de escolher o gênero do seu personagem não é um problema, e tampouco é ter protagonistas masculinos em jogos. O problema surge quando as histórias que deveriam ter sido contadas pela perspectiva de uma mulher são diluídas para colocar um homem lá, com base em um medo irracional de que o jogo não venda se não tiver um homem.

Imagine Origins em sua versão original, com Aya tendo de vingar tanto seu filho quanto seu marido, ou um Odyssey que realmente explorasse as dinâmicas de gênero da Grécia antiga. E ainda mais importante, imagine se as pessoas que criaram esses jogos pudessem fazer isso em um ambiente seguro e livre de assédio por parte de gerentes e executivos, e do gaslighting praticado pelo departamento de recursos humanos.

Época triste para Ubisoft e mais ainda para quem gosta de AC.


Fonte: PC Gamer

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