Algumas obras são feitas pra durar gerações!
Naoko Takeuchi, criadora de Sailor Moon, fez aniversário em 15 de março. E a sua obra continua inspirando gerações, graças às diversas adaptações do mangá publicadas ao longo das últimas décadas. Por que essa série de shoujo continua criando um vínculo tão forte mesmo após 30 anos? Porque seus temas centrais envolvem sinceridade, amor e amizade.
Sailor Moon já foi adaptado para anime duas vezes, uma vez para live-action e diversas vezes para musicais – mas talvez seja mais interessante falar um pouco sobre o mangá, afinal ele é a base sobre a qual foram construídas todas essas adaptações.
Para aqueles que por algum milagre ainda não conhecem Sailor Moon, a história é a seguinte:
Uma estudante adolescente japonesa chamada Usagi Tsukino é escolhida para se transformar na lendária guerreira Sailor Moon. Esse é o seu destino, e ao lado de outras Sailors, ela deve encontrar e resgatar a princesa da Lua.
SPOILER: Ela é a princesa da Lua. A história fala sobre reencarnação, romances estelares, um grupo de garotas fortes e destemidas, gatos falantes, uma criança do futuro com cabelo estranho, gays distantes mas legais, e uma imensa variedade de vilões estranhos que elas devem enfrentar ao longo de 60 atos.
O ponto em que o mangá brilha mais é com a sua protagonista, Usagi, a própria Sailor Moon. Para aqueles que cresceram assistindo o primeiro anime, lá dos anos 90, pode ser difícil entender porque aquela Usagi, preguiçosa, desajeitada e chorona, que tem dificuldades em assumir responsabilidades, era a líder do grupo (nós inclusive temos um texto com 10 pontos da história que não envelheceram bem e esse fator definitivamente faz parte da lista). Ela não era a mais forte, a mais esperta e tampouco a mais corajosa; mas ainda assim era o coração do grupo. Era ela quem não aceitava deixar ninguém para trás, e quem lutava até o fim para salvar todo mundo.
O mangá ilustra isso de forma mais rápida, sem deixar de permitir que Usagi tenha sua doçura e infantilidade enquanto cresce para se tornar alguém que entende como é carregar poderes literalmente semidivinos.
Mas o que é mais inspirador sobre Usagi é o fato dela sempre lutar para trazer amor para uma situação em que ele não existia. Ela se preocupa com as pessoas – esse é o seu maior ponto forte como personagem e heroína. Algo muito claramente mostrado no mangá é que todos os vilões enfrentados por Sailor Moon foram influenciados por Caos, uma criatura que falhou em se tornar uma estrela e decidiu se fundir com a Sailor Galáxia para tentar destruir o mundo. Com a Sailor Galáxia como sua serva nessa missão, levando em consideração que ela tinha se tornado uma criatura poderosa o suficiente para enfrentar Sailor Moon e todo seu poder, Caos usa Galáxia para matar todos que Usagi era próxima: seus amigos, seu namorado (e por consequência, sua filha do futuro), e tenta usar sua dor para forçar Usagi a um lugar em que Caos poderia facilmente transformá-la na guardiã da escuridão. A heroína se nega a sucumbir à dor e escolhe não perder as esperanças, colocando sua vida em risco para enfim conseguir salvar a todos. Isso porque ela nunca virou as costas pro seu desejo de salvar todos que ela ama ou se importa.
No último capítulo da série, Usagi tem de fazer uma escolha. Ela pode começar tudo de novo, junto aos seus amigos, ou seguir em frente. Sabendo que sempre haverá batalhas a se enfrentar, que sempre haverá inimigos pela frente, Usagi afirma:
Nós gostaríamos de continuar vivendo juntos como estamos, por quanto tempo pudermos. Nós queremos continuar construindo nosso futuro juntos, como já fizemos. Não importa o quão difíceis as coisas fiquem, nós queremos continuar vivendo essas vidas, esses destinos.
Nos piores momentos, eu lembro dessa escolha e isso me ajuda bastante. Entre tantos personagens inspiradores, Usagi certamente tem o seu lugar, principalmente porque quando a sua história começou, ela era apenas uma garota desligada da realidade, muito parecida com muitas de nós, mas no final ela se torna uma heroína. Ela conseguiu. E com isso fez com que a jornada parecesse possível em nossa infância, inspirando muitos de nós até os dias de hoje.
Não é à toa que o aniversário de Naoko Takeuchi parece uma data interessante para relembrarmos uma das mais importantes heroínas de todos os tempos.
Fonte: TheMarySue | Ilustração da capa: Ricardo Bacci
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Débora é musicista, professora de artes, pesquisadora de sociologia de gênero. Autoproclamada otaku-não-fedida e gamer casual. A alcunha de Liao veio de um site aleatório de geração de nomes japoneses (Liao é chinês, mas tudo bem).
