Conscientização já!

Se você já fez cosplay alguma vez, tem vontade de fazer, é fã do universo otaku ou se você simplesmente é um ser vivo, te dou já um aviso: PRECISAMOS CONVERSAR.

Não é novidade para ninguém que as pessoas que enxergam no cosplay um hobby são de fato discriminadas pela maioria da sociedade, de diversas formas. Recentemente, inclusive, o assunto chegou até a quem não tinha conhecimento nem da existência desta prática, já que existe uma novela em circulação que criou o polêmico personagem Yuri, um garoto praticante da arte cosplay que, entretanto, interpreta o personagem durante 100% do tempo, não somente quando ele está fazendo o cosplay em si.

Campanha #YURINAOMEREPRESENTA, criada pelos cosplayers brasileiros e promulgada pelo Cospositivismo nas redes sociais
Campanha #YURINAOMEREPRESENTA, criada pelos cosplayers brasileiros e promulgada pelo Cospositivismo nas redes sociais

Há pouco tempo, a cosplayer Aya (@hiragimoi) publicou em suas redes sociais um acontecimento muito triste não só para o universo otaku, mas também para a sociedade em geral: enquanto fazia cosplay, ela foi agredida verbalmente (e também por bolinhas de papel) enquanto estava no shopping após o evento Up!ABC. Veja o relato na íntegra:

aya-publicação

Depois deste acontecimento, a equipe do Garotas Geeks procurou a querida Aya para um papo sério com vocês, nossos leitores. Confira:

[GG] O que é o cosplay para você? Há quanto tempo você o pratica?

Eu pratico cosplay desde os meus 13-14 anos de idade. É um hobbie, mas mesmo assim eu trabalho com cosplay e levo muito a sério. É um escape para mim, eu me sinto bem e confortável.

Aya ლ as Gou Matsuoka Anime: Free / Free - That Swimming Anime
Gou Matsuoka de Free – That Swimming Anime. Fotografia: WDM Fotografia

[GG] Recentemente você foi vítima de agressões verbais (e até físicas, se considerarmos os papéis que foram atirados) enquanto estava fazendo cosplay. Você já tinha sofrido alguma forma de discriminação em alguma situação similar? 

Não neste ponto. Eu era do interior de Minas, então o pessoal não conhecia cosplay, mas mesmo assim eles não me jogaram nada. Acontecia sim de apontarem e pais dos meus amigos me chamarem de estranha, tanto que, quando eu morava em Minas, poderia considerar meus amigos verdadeiros apenas 3 pessoas.

[GG] Por que você acha que o cosplay é visto de forma vexatória pelas pessoas?

Para muitas pessoas é muito infantil e acham que vamos sair de “nós” mesmos enquanto vestimos isso, até mesmo acham que vamos usar todos os dias, como se fosse uma roupa do dia a dia mesmo.

 Saya Takagi, de High School of the Dead (H.O.T.D). Fotografia: WDM Fotografia
Saya Takagi, de High School of the Dead (H.O.T.D). Fotografia: WDM Fotografia

[GG] Você relatou pra gente que uma garota de 12 anos teria repetido uma frase que é dita por uma personagem de novela, se referindo ao personagem Yuri, que ficou famoso por ser uma referência em tom de chacota aos cosplayers. Em sua opinião, como esse personagem (e os demais que o circundam na trama) influenciam a forma como a população no geral vê o cosplay?

Muitos cosplayers já sofriam bullying antes mesmo da novela, ela apenas aumentou a visão das pessoas de que é infantil, que as pessoas não vão crescer. O personagem da novela utiliza cosplay a todo momento, e até mesmo não aceita que chamem ele pelo nome real. A mídia tem uma forte influência na vida das pessoas, e eu acho que seria bem interessante se fizessem entrevistas com cosplayers, mas de uma forma aberta para que falassem o que pensam e o que acham sobre esse mundo, e que o entrevistador tenha estudado o assunto.  Assim como encontros em shoppings e lugares movimentados seria legal, eu acho que as pessoas iriam entender e compreender melhor as pessoas que se vestem de personagens. Não é obrigação aceitarem, mas sim respeitarem.

[GG] Apesar de o seu relato ter sido em relação à discriminação com o hobby, é um fato que existem outros incômodos na vida de um cosplayer. Você, como mulher, já sofreu alguma forma de assédio enquanto praticava o cosplay?

Já sim! Eu mal uso cosplays que mostrem muito o corpo, como a parte de cima ( mostrando o sutiã ) e barriga. Mas eu fui de Veena, do anime Noragami, em um evento em Santos, e muitas pessoas chegavam perto e passavam a mão na minha bunda, ou até mesmo para tiravam fotos, tocavam nos meus peitos…. como se achassem que estavam no direito.

Veena (Bishamon) de Noragami. Fotografia: WDM Fotografia
Veena (Bishamon) de Noragami. Fotografia: WDM Fotografia

[GG] Dentro do universo cosplay, existem discriminações entre os próprios praticantes, principalmente em relação à cor da pele, à altura, ao peso e até mesmo em relação à própria roupa usada para representar o personagem, em especial quando há adaptação, seja por questões financeiras, seja por questões pessoais, ou até mesmo quando se faz um crossgender ou um crossover. Você já presenciou ou passou por alguma situação do gênero?

Eu tenho muitos amigos que fazem crossgender ou são negros e fazem cosplay de personagens brancos. E já vi muitas pessoas comentarem preconceituosamente que o personagem não é daquele jeito ou falarem “nossa que viado”, “que ridículo.” Um dia em um evento um pessoal passou do lado da minha amiga que estava de um personagem masculino e começou a rir e falar que o personagem não tinha seios e que ela deveria se “enxergar”. Eu mesma nunca fiz um personagem masculino, porém eu tenho MUITO interesse mesmo! Por enquanto, estou no projeto para fazer o Yurio de YOI e o Noya de Haikyuu!

[GG] Para fechar com chave de ouro, quais as dicas que você dá para os iniciantes do universo cosplay?

Faça para ser feliz, não se importe com comentários, divirta-se! Tire muitas fotos, sorria, faça amizades, abrace muitas pessoas em eventos. Faça por amor, por ter prazer! E não desista, por mais que seja difícil, no final sempre vem uma recompensa. Não se importe com cor, altura, peso, sexo; apenas seja você e seja feliz.  Muitas pessoas vão te elogiar e gostar do seu trabalho independente disso, você vai ver!

Ririchiyo Shirakiin de Inu x Boku SS. Fotografia: Global Click Ivo Robles
Ririchiyo Shirakiin de Inu x Boku SS. Fotografia: Global Click Ivo Robles

Aliás, fazendo um breve parênteses, eu, Mindy, também sou cosplayer nas horas vagas e eu já sofri discriminação por ter que pegar ônibus com as roupas do cosplay até o local do evento, por andar no shopping vestida assim. Já sofri assédio. Já sofri críticas por não seguir fielmente todas as roupas da personagem…

Pequenos gafanhotos…

A querida Aya deixou seu relato e sua marca, e é necessário reforçá-los: cosplay é coisa séria. E também é um hobby como outro qualquer. Quando você coloca o uniforme pra jogar futebol, não significa que você ande com essas roupas o tempo todo ou que você só faça isso da vida. Quando você vai à academia, não quer dizer que você se vista daquele jeito 100% do tempo ou que você passa o dia todo malhando. Assim como quando vestimos as roupas de um personagem, não significa que eu ande vestida com aquelas roupas o tempo todo ou que eu interprete a personagem o dia todo. Cosplay é um escape, cosplay é um entretenimento, cosplay é a paz para muitos, assim como para outros é praticar meditação ou andar dez quilômetros de bicicleta. Respeite-os!

E para você que tem vontade de começar no universo cosplay, uma palavra: CORAGEM! (e veja esse guia aqui, rs). Você consegue. Juntos, podemos combater a discriminação e fazer da sociedade um lugar melhor para nós mesmos e para aqueles que virão depois 😀

Cosplay: Moriyama Shiemi / Ao no Exorcist - Ao no Exorcist Brasil Cosplayer: Aya ლ Fotografia: Caio Augusto Fotografia
Moriyama Shiemi de Ao no Exorcist. Fotografia: Caio Augusto Fotografia
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